Putin aprova Orçamento com previsão recorde de um terço dos gastos com Defesa em meio à guerra na Ucrânia
Montante previsto para 2025 é de 13,5 trilhões de rublos, cerca de 755 bilhões de reais, o que representa 32,5% do total de gastos
Por O Globo, com agências internacionais — Moscou
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GERADO EM: 02/12/2024 - 08:57
Orçamento recorde aprovado por Putin: um terço em defesa
Putin aprova orçamento recorde com um terço dos gastos em defesa, em meio à guerra na Ucrânia. Aumento para 2025 de 13,5 trilhões de rublos, 32,5% do total. Rússia intensifica ações militares, incluindo mísseis e drones. Aliados da Otan apoiam Ucrânia. Alemanha promete nova ajuda militar.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, aprovou no domingo um Orçamento com previsão recorde de gastos no setor de Defesa para 2025. O plano, que recebeu o sinal verde do líder russo, destaca 13,5 trilhões de rublos (cerca de R$ 755 bilhões no câmbio atual) para gastos com a defesa nacional. O valor representa quase um terço do total de gastos previstos pelo governo para o ano. O aumento nos recursos do setor ocorre contra um pano de fundo de recrudescimento das tensões entre a Rússia e os EUA e seus aliados europeus em torno da guerra na Ucrânia e no rastro da determinação de Putin, em setembro, para que as Forças Armadas russas incorporem mais 180 mil militares, elevando seu efetivo total para 1,5 milhão de integrantes no serviço ativo, o segundo do mundo atrás apenas da China.
Prestes a entrar no terceiro ano de guerra na Ucrânia, Moscou continua a concentrar recursos na frente de batalha sem dar sinais de desescalada. O montante previsto para o próximo ano supera em mais de três trilhões de rublos a previsão do ano passado. Percentualmente, o setor de Defesa também terá um pedaço maior do Orçamento — saltando de 28,3% neste ano para 32,5% no ano que vem. O valor corresponde a 6,31% do PIB projetado para 2025, o mais elevado patamar desde o período que sucedeu ao fim da União Soviética, no começo dos anos 1990.
Contudo, o orçamento destinado à guerra vai além do previsto para a pasta da Defesa: a maior parte das despesas está alocada em outros capítulos, especialmente em "Segurança Nacional". Além do conflito propriamente dito, o plano inclui 6,9 trilhões de rublos (R$ 390 bilhões) para programas sociais e 6,1 trilhões de rublos (R$ 320 bilhões) para ações voltadas à "liderança tecnológica".No mês passado, o vice-premier Denis Manturov apresentou a Putin um pacote de oito projetos voltados principalmente à modernização da economia russa.
— No geral, esses projetos são bem grandes e significativos. Espero que possamos todos trabalhar juntos para implementá-los e, se tivermos sucesso, a estrutura da nossa economia estará mudando no ritmo que precisamos — disse Putin após reunião com Manturov, no final de novembro.
A aprovação do Orçamento do próximo triênio coincide com o aumento da intensidade das ações russas em solo ucraniano.
Por terra, as tropas seguem com avanços pontuais no leste, com o objetivo de conquistar na totalidade a região de Donetsk — apesar de ser unilateralmente anexada pela Rússia, ao lado de Luhansk, Zaporíjia e Kherson, as forças de Moscou jamais ocuparam o território em sua totalidade, e enfrentam uma resistente oposição em cidades como Pokrovsk. Em Kursk, região russa parcialmente ocupada pelos ucranianos, há a expectativa de que tropas norte-coreanas entrem em ação para tentar expulsar os invasores.
Pelo ar, bombardeios cada vez mais violentos atingem toda a Ucrânia e, na semana passada, deixaram mais de um milhão de pessoas sem energia. Até regiões distantes da linha de frente, como Lviv, próxima à divisa com a Polônia, voltaram a ser atacadas pelo ar.
— Não é seguro aqui. Mas nenhum lugar mais é seguro — disse ao portal The Moscow Times uma mulher ucraniana que vive em Praga e voltava a Lviv para ver sua mãe, pedindo para permanecer em anonimato por motivos de segurança.
Nesta segunda-feira, Kiev anunciou que foi alvo de um ataque 110 drones russos durante a noite e a madrugada. Uma pessoa morreu e três ficaram feridas na cidade de Ternopil, a 350 km da capital, segundo as autoridades.
Além dos mísseis, foguetes e drones, o novo míssil balístico Oreshnik, com capacidade nuclear, passou a povoar os pesadelos dos civis ucranianos. No fim do mês passado, após o armamento ser lançado contra a área de Dniéper, Putin afirmou que o país iria investir na produção em série do míssil. Em uma nova declaração pública, na semana passada, o líder russo disse que poderia usar o dispositivo para bombardear "centros de tomada de decisão" na Ucrânia. Hoje a Ucrânia não tem sistemas de defesa aérea capazes de deter o Oreshnik, e o Ocidente não parece disposto a ceder os armamentos necessários, seja pelo alto preço, seja pela pouca disponibilidade.
Apesar do aumento previsto para 2025, o Orçamento do próximo triênio que recebeu o sinal verde de Putin após aprovação no Parlamento prevê pequenas reduções para os anos de 2026 e 2027 — algo que não aconteceu nos dois primeiros anos de guerra, em que os valores apenas aumentaram.
Com a guerra na Ucrânia ocupando um espaço central em todos os aspectos da vida russa, Moscou precisou reconstruir relações para se manter viável diante dos embargos aplicados pelo Ocidente, que apoia Kiev. Entre os principais parceiros do Kremlin estão a China, principal esteio econômico do país em meio ao turbilhão deflagrado invasão, o Irã e a Coreia do Norte, com quem estreitou laços bélicos.
A Ucrânia, por outro lado, viu sua capacidade militar aumentar exponencialmente com a ajuda massiva dos aliados da Otan, que injetaram uma grande quantidade de dinheiro e armas no país para impedir o avanço russo. O apoio foi amplamente criticado por Moscou, que chegou a afirmar que o Ocidente já teria tomado parte direta na guerra — o que não foi suficiente para interromper o fluxo de ajuda.
Em uma visita surpresa a Kiev nesta segunda-feira, o chanceler alemão Olaf Scholz se comprometeu a enviar uma nova ajuda militar de US$ 683 milhões (cerca de R$ 4,1 bilhões) a Kiev.
— A Alemanha continuará sendo o principal apoio da Ucrânia na Europa — declarou o chefe de Governo alemão, que está em campanha para tentar a reeleição. (Com AFP)
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