Militares e políticos de Israel criticam possível acordo de cessar-fogo com o Hezbollah: 'Trabalho pela metade'
Setores da extrema direita do gabinete de Benjamin Netanyahu e da oposição criticaram trégua temporária, enquanto governos e organizações internacionais pressionam pelo fim das hostilidades
Por O Globo, com agências internacionais — Beirute e Tel Aviv
RESUMO
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GERADO EM: 26/11/2024 - 08:37
Críticas internas em Israel sobre possível cessar-fogo com Hezbollah
Militares e políticos em Israel criticam possível cessar-fogo com o Hezbollah, considerando-o como "trabalho pela metade". Pressões internacionais para acabar com hostilidades persistem, enquanto termos do acordo são debatidos. Combates continuam apesar das negociações.
Setores políticos e das Forças Armadas de Israel demonstraram contrariedade nesta terça-feira com a ideia de interromper a ofensiva contra o movimento xiita libanês Hezbollah antes de uma vitória no campo de batalha, em um momento em que o governo israelense se prepara para votar uma proposta de cessar-fogo nesta terça-feira. Os termos, que foram aprovados em princípio pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, atraíram críticas da extrema direita e de setores da oposição — enquanto pressões externas tentam atuar para que as hostilidades na região tenham um fim.
— Temos uma oportunidade histórica de agir decisivamente no sul [em Gaza] e no norte [no Líbano]. Será uma oportunidade histórica perdida se pararmos tudo e voltarmos atrás — disse o ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, integrante do setor mais radical do governo Netanyahu, em uma entrevista à Kan Radio.
As críticas à pausa no conflito ocorrem antes mesmo de uma proposta definitiva ser apresentada ao público oficialmente. Na segunda-feira, fontes americanas e israelenses disseram que os princípios para um acordo foram alcançados, mas que restariam divergências. Aparentemente, a proposta atual prevê uma desescalada em etapas, partindo de uma trégua nos ataques, até a retirada do Hezbollah para o norte do Líbano e das tropas israelenses do território do país vizinho. Haveria também a previsão de um comitê liderado pelos EUA para supervisionar a implementação, com disposições permitindo que Israel atue contra ameaças iminentes se as forças libanesas não intervierem. Uma fonte de segurança ouvida pelo Times of Israel nesta terça-feira afirmou que o que será votado é uma trégua de 60 dias, e não o fim da guerra como um todo.
Os dois cenários — de uma trégua parcial ou do fim do conflito — receberam críticas por parte de diferentes setores. A mesma publicação citou funcionários do Exército israelense que atuam na frente norte, que afirmaram que a "ameaça não acabou" na fronteira com o Líbano, enquanto Benny Gantz, líder da principal força de oposição a Netanyahu na política interna e ex-integrante do Gabinete de segurança, afirmou que abandonar a ofensiva sem um acordo duradouro seria "deixar o trabalho pela metade".
"É impossível falar em termos de um 'cessar-fogo temporário'. Retirar forças agora criará uma dinâmica que tornará difícil para nós e facilitará o reagrupamento do Hezbollah. Pagamos muito — no sangue de nossos combatentes, nos feridos, nos muitos dias que os reservistas dedicaram à luta, em orçamentos e armamentos", escreveu Gantz em uma publicação nas redes sociais. "Não devemos fazer o trabalho pela metade. Não devemos perder a oportunidade de um acordo forte que mudará fundamentalmente a situação no norte."
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À medida que as atenções se voltam para a reunião marcada para Tel Aviv, governos e organizações internacionais pressionam para que os termos sobre a mesa sejam acatados. A ONU fez um apelo por um "cessar-fogo permanente" abrangendo Líbano, Israel e Gaza, com o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Jeremy Laurence, afirmando que o fim "permanente e imediato" das hostilidades seria a única maneira de acabar com o sofrimento na região.
— Há uma proposta sobre a mesa, negociada pelos Estados Unidos e pela França, que dá a Israel todos os compromissos de segurança que solicitaram. Não há desculpas para rejeitar essa proposta — disse o ministro das Relações Exteriores da União Europeia, Josep Borrell, numa reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 perto de Roma, pressionando pela aprovação. — Esperemos que hoje o governo de Netanyahu aprove o acordo de cessar-fogo (…) Chega de desculpas, chega de pedidos adicionais. Pare com esses combates, pare de matar pessoas e vamos começar a pensar na paz.
A formulação atual contou com mediação dos EUA e da França, cujos representantes demonstraram otimismo e cautela. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse que as negociações progrediam, ainda não finalizadas, mas declarou: "Estamos perto". A França relatou "progresso significativo".
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Bombardeios no front
A rodada diplomática não interrompeu os combates até o momento. As Forças Armadas de Israel voltaram a bombardear um reduto do Hezbollah ao sul de Beirute, pouco após os militares emitirem uma ordem de retirada para a população civil, nesta terça. Bombardeios israelenses também foram registrados em outras regiões, como na cidade de Tiro, e o Exército anunciou que uma unidade entrou em profundidade no terreno, alcançando o Rio Litani — que demarcaria o limite da área de atuação do Hezbollah pela resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU.
O Hezbollah também voltou a disparar projéteis contra o norte do território israelense — uma ameaça que o Estado judeu não conseguiu eliminar ao longo da guerra —, ferindo com seriedade um soldado na região do Monte Hermon. Relatos da imprensa israelense afirmam que o caso com o militar envolveu um drone. (Com AFP e NYT)
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