Elon Musk mantém contatos com Putin desde 2022, afirma jornal; Kremlin chama alegação de 'absolutamente falsa'
Bilionário dono da Spacex apresentou aos seus seguidores um 'plano de paz' similar ao defendido pela Rússia; 'aliança' com Putin e proximidade com Trump acende alertas
Por O Globo e agências internacionais
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você
GERADO EM: 25/10/2024 - 17:53
Elon Musk: Contatos Políticos e Controvérsias
Elon Musk mantém contatos com Putin e Trump, gerando perplexidade. Acusado de favores a Putin, Musk apoia Ucrânia, causando controvérsia. Possível influência em eleições dos EUA preocupa autoridades. Kremlin nega ligação. Musk é visto como peça chave no cenário político.
O bilionário Elon Musk mantém, desde 2022, contatos regulares com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que incluiu favores pessoais ao líder russo (e indiretamente à China). As informações, chamadas de “absolutamente falsas” pelo Kremlin, foram reveladas pelo Wall Street Journal, e jogam luz sobre uma figura cada vez mais presente no cenário político dentro e fora dos EUA.
Segundo a reportagem, publicada nesta sexta-feira, Musk disse ter conversado com Vladimir Putin em abril de 2021, menos de um ano antes da invasão russa da Ucrânia. Com o início da guerra, em um momento inicial o dono da Starlink e da rede social X (bloqueada na Rússia)declarou seu apoio a Kiev, através de publicações no X marcadas por bandeiras ucranianas e até um desafio a Putin para que lutassem — no sentido literal da palavra — pelo destino do país agora sob ocupação parcial.
Além de postagens, ele doou 15 mil equipamentos de internet de satélite da Starlink a Kiev, ativou o sinal no país e passou a custear uma operação que, segundo o bilionário, lhe custava cerca de US$ 20 milhões por mês. O fornecimento de internet se mostrou crucial para a estratégia defensiva dos ucranianos, especialmente para a operação de drones de monitoramento e ataque contra as forças russas.
“Que se dane… mesmo que a Starlink ainda esteja perdendo dinheiro e outras empresas estejam recebendo bilhões de dólares dos contribuintes, continuaremos financiando o governo da Ucrânia de graça”, disse Musk, em publicação no X, em outubro de 2022.
Mas como aponta o Wall Street Journal, ao mesmo tempo em que se comprometia com as tropas ucranianas — que reclamavam da instabilidade do sistema —, Musk se comunicava com integrantes do “alto escalão” do governo russo. As conversas conviviam com ameaças aos negócios de Musk, vindas do lado de dentro dos muros vermelhos do Kremlin. Isso parece ter mudado suas visões sobre a guerra.
Naquele movimentado outubro de 2022, Musk perguntou a seus seguidores no X se eles apoiariam um plano de paz que previa o fim dos combates, o início de negociações de paz, a garantia de neutralidade do governo ucraniano e a permanência dos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia, incluindo a Crimeia, sob controle de Moscou.
Segundo o cientista político e fundador da consultoria Eurasia, Ian Bremmer, a ideia não era exatamente original: Musk, afirmou Bremmer em briefing aos clientes de sua consultoria, lhe confidenciou ter conversado com Putin antes de publicar a enquete, e escutado do líder russo condições similares às apresentadas em seu “plano” divulgado no X.
De acordo com o relato de Bremmer, Putin disse a Musk que as metas deveriam ser alcançadas “de qualquer maneira”, e não descartou um ataque nuclear caso a Ucrânia invadisse a Crimeia — o bilionário teria dito ao presidente russo que "tudo precisava ser feito para evitar esse resultado".
Fontes de inteligência ouvidas pelo Wall Street Journal afirmam que a relação entre os dois se intensificou a partir daí, assim como a mudança de posilção de Musk sobre a guerra e sobre Putin. Integrantes do governo da Ucrânia chegaram a afirmar que as tropas russas estavam usando os terminais da Starlink, apesar da empresa não disponibilizar o serviço no país, ao mesmo tempo em que as forças de Kiev relatavam problemas cada vez mais frequentes de sinal.
A empresa de internet por satélite — que também se envolveu em problemas com a Justiça no Brasil — serviu ainda para que Putin pedisse um favor a Musk, em nome da China: segundo o Wall Street Journal, o presidente russo requisitou que a Starlink não fosse ativada em Taiwan, considerada uma província rebelde por Pequim. A empresa jamais obteve licença para operar na ilha, e em seu site afirma que oferecerá os serviços ali “em breve”. A China não se pronunciou sobre as alegações.
Em fevereiro, em entrevista com o ex-âncora da Fox News, apoiador de Donald Trump e propagandista favorito da extrema direita americana, Tucker Carlson, Putin fez elogios a Musk (que transmitiu a conversa na íntegra no X, rede social comprada por ele em 2022).
— Não há como parar Elon Musk, ele vai fazer o que acha que precisa fazer — disse Putin. — Você precisa encontrar algum ponto em comum com ele, precisa procurar algumas maneiras de persuadi-lo.
Musk, que em 2022 negou ter conversado com Putin sobre suposto de paz pró-Kremlin, não comentou a reportagem, e tem chamado de “absurdas” as acusações de que seria um apologista do governo russo, afirmando que suas empresas “fizeram mais para minar a Rússia do que qualquer outra coisa”.
O Kremlin, com sua habitual sutileza, também negou as alegações, as chamando de “absolutamente falsas”.
— Não, não lemos — disse o secretário de Imprensa da Presidência, Dmitry Peskov, ao ser questionado sobre a reportagem do Wall Street Journal. — Infelizmente, tanto nesta publicação como em outras publicações americanas tem havido tantas falsidades ultimamente que não temos o hábito de ler essas publicações durante o café, porque não as entendemos mais como jornais de respeito que dizem apenas a verdade.
- 5 dias com Elon Musk no X: Quase um terço das postagens do bilionário eram falsas, aponta jornal
Os indícios da proximidade entre Musk e o Kremlin adicionam uma camada a mais de preocupação no meio político americano sobre a incursão do bilionário na campanha daquele que hoje é seu principal aliado: o ex-presidente Donald Trump. Musk tem subido em palanques, doado algumas dezenas de milhões de dólares e está por trás de iniciativas como um sorteio milionário a eleitores registrados, visto pelas autoridades como uma possível tentativa de compra de votos.
Trump já disse que, caso seja eleito no dia 5 de novembro, dará a Musk um cargo com poderes amplos incluindo cortar postos em agências e eliminar marcos regulatórios, o que poderia beneficiar suas empresas. Musk também tem contratos bilionários com o governo americano, como o mantido com a Nasa para o lançamento de seus foguetes da SpaceX, e pode ter planos ainda maiores (e mais lucrativos) para o caso de Trump retornar à Casa Branca.
— Isso é profundamente antiético e ilegal — afirmou à BBC Lenny Mendonca, ex-assessor econômico e empresarial do governador da Califórnia, Gavin Newsom, um democrata.
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY