O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, disse no sábado que os relatos de que os ataques israelenses atingiram "instalações de saúde e pessoal de apoio" no Líbano eram "profundamente perturbadores".
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"Todas as partes devem cumprir o direito internacional humanitário", acrescentou Lammy em uma declaração no X, enquanto pelo menos quatro hospitais no Líbano anunciaram a suspensão das obras e o chefe do Acnur alertou sobre ataques que atingiriam os serviços de saúde depois que Israel atingiu o que diz serem alvos do movimento xiita libanês Hezbollah.
'Mais intensa' fora de Gaza nos últimos 20 anos
A campanha aérea de Israel no Líbano, que em menos de três semanas matou mais de 1.400 pessoas, feriu quase 7.500 e deslocou 1,5 milhão de habitantes, já é considerada a mais intensa fora da Faixa de Gaza em duas décadas, de acordo com o grupo britânico de monitoramento de conflitos Airwars.
A ofensiva continuou neste sábado, com novos bombardeios de Israel contra líderes do Hezbollah e aliados em áreas do centro, norte e sul do Líbano, culminando na morte de dois oficiais do grupo terrorista Hamas no país. Além disso, há relatos não confirmados de que Hashem Safieddine, apontado como sucessor do líder do grupo xiita, Hassan Nasrallah, foi morto em um ataque aéreo em Beirute na sexta-feira.
Segundo Emily Tripp, diretora da Airwars, Israel está realizando ataques aéreos em um nível e intensidade que "seus próprios aliados simplesmente não realizaram nos últimos 20 anos". A diretora comparou a situação à campanha militar liderada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico (EI) em 2017, quando 500 munições foram usadas em um único dia, no auge do conflito. Israel, por sua vez, usou 2 mil munições e realizou cerca de 3 mil ataques em apenas dois dias, em 24 e 25 de setembro. Tripp também menciona a guerra de 20 anos dos EUA no Afeganistão, com menos de 3 mil ataques por ano — com exceção do primeiro ano da invasão, com cerca de 6.500.
— Isso não é normal — disse Tripp à rede americana CNN, acrescentando que a campanha aérea de Israel em Gaza no último ano tenha "normalizado" esses ataques em massa.
Apesar das alegações israelenses de tentar minimizar danos civis com medidas de precaução — como ligações telefônicas e mensagens de texto para moradores em prédios em áreas que serão alvos de bombardeio —, os ataques continuam causando alta destruição e deslocamento em massa no Líbano, que também já teve quase 300 mil pessoas fugindo para outras nações.
Segundo ONGs e a imprensa internacional, muitos dos ataques israelenses recentes aconteceram sem aviso prévio, além dos avisos serem enviados no meio da noite, quando a maioria das pessoas está dormindo. Além disso, grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional (AI), apontam que tais avisos não isentam Israel de suas responsabilidades sob o direito humanitário internacional.
Apesar das preocupações levantadas pelas ONGs e o temor de que o conflito se espalhe cada vez mais para a região, com um envolvimento mais direto do Irã — apoiador do Hezbollah e do Hamas —, o chefe do Estado-Maior do Exército israelense, general Herzi Halevi, afirmou neste sábado que as Forças Armadas continuarão a atacar o grupo xiita no Líbano "sem trégua", intensificando a pressão e infligindo mais danos à organização "sem fazer concessões".
Em guerra com o Hamas desde 7 de outubro passado, Israel redirecionou há três semanas o seu foco no conflito para o que dizem ser uma garantia da segurança da fronteira norte e o retorno seguro de mais de 60 mil pessoas deslocadas pelos ataques do Hezbollah. A organização libanesa, que diz agir em solidariedade aos palestinos de Gaza, bombardeou quase diariamente o território israelense desde o início do conflito no ano passado, sinalizando que interromperia os ataques somente quando houvesse um acordo de cessar-fogo.
A ofensiva israelense no território libanês culminou, entre outras ações e milhares de mortes, no assassinato de Nasrallah e na posterior retaliação do Irã, que lançou um ataque a Israel com cerca de 200 mísseis na terça-feira, uma ação defendida pelo líder supremo do país.
A resposta de Israel ao ataque é esperada, com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, fazendo novas ameaças a Teerã neste sábado:
— Israel tem o dever e o direito de se defender e responder a esses ataques, e nós o faremos — disse o premier.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, prometeu que Teerã responderá com "mais força" se Israel lançar um ataque de retaliação ao bombardeio.
— Para cada ação, haverá uma reação proporcional — disse.
Desde a morte de Nasrallah, o grupo ficou com um vácuo de liderança ainda não preenchido, embora múltiplas fontes de segurança afirmem que o mais cotado para ocupar o cargo é Safieddine. Porém, segundo uma fonte do Hezbollah, que falou à AFP sob condição de anonimato neste sábado, o contato com o possível sucessor "se perdeu" desde os bombardeios israelenses de sexta-feira na periferia de Beirute. Safieddine estava com "o diretor de inteligência do Hezbollah", conhecido como Hajj Murtada, no momento do ataque, acrescentou uma segunda fonte anônima.
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