O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, declarou que a retaliação pelos ataques do Irã ocorrerá “em breve” e que a resposta será “muito forte e duradoura”. A fala foi feita à rede americana CNN pouco depois de sua participação na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas na quarta-feira, onde os representantes de Israel e do Irã trocaram ameaças. Após o maior ataque já lançado por Teerã contra o Estado judeu, com cerca de 200 mísseis balísticos visando alvos militares do país na terça-feira, agora autoridades israelenses ponderam suas opções no gabinete de guerra.
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Danon deixou claro que Israel tem as capacidades necessárias para atingir qualquer alvo no Oriente Médio, mas afirmou que a resposta será calculada para evitar uma guerra total. Durante sua fala no Conselho de Segurança, contudo, o diplomata israelense alertou que a retaliação seria mais severa do que o Irã “jamais poderia imaginar”. O embaixador acrescentou que, embora as autoridades israelenses não desejem ver uma escalada, a retaliação é “inevitável” após o ataque em grande escala.
Os comentários à CNN foram feitos depois de o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarar que as instalações nucleares do Irã não devem ser alvos. Sobre isso, o funcionário israelense disse que cabe aos EUA e a outras democracias ocidentais impedirem que o Irã desenvolva capacidades nucleares, “antes que seja tarde demais”.
Danon ressaltou que Israel já mostrou sua força nas batalhas contra o grupo terrorista Hamas em Gaza e contra o Hezbollah no Líbano, mas que uma guerra total é algo que tanto seu país quanto o Irã gostariam de evitar.
No Conselho de Segurança, o embaixador do Irã na ONU, Amir Saied Iravani, afirmou que o ataque com mísseis na terça-feira foi feito para “restaurar o equilíbrio e a dissuasão”, e que a escalada do conflito poderia ser evitada se o Estado judeu interrompesse a guerra em Gaza e os ataques no Líbano. O iraniano pontuou, ainda, que seu país está “totalmente preparado” para tomar medidas defensivas “se necessário”, visando “proteger seus interesses legítimos e defender sua integridade territorial e soberania contra qualquer agressão militar”.
Enquanto a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse ao conselho que o apoio americano a Israel tinha sido “defensivo” e que o regime iraniano será responsabilizado por suas ações, o diplomata russo Vassily Nebenzia elogiou Teerã por sua “contenção excepcional” nos últimos meses”. Ele declarou que o ataque de mísseis contra o território israelense não pode ser apresentado sem contexto, “como se nada estivesse acontecendo no Líbano, em Gaza, na Síria e no Iêmen”.
— Mas aconteceu, e levou a uma nova espiral muito perigosa de um conflito cada vez maior no Oriente Médio — disse Nebenzia, que também acusou os Estados Unidos de “tentar nos enganar” ao promover uma diplomacia silenciosa que ainda não produziu um acordo para acabar com a guerra em Gaza. — Para ser perfeitamente honesto com vocês, ficamos com a impressão de que essas negociações mediadas são algo que Washington está conduzindo consigo mesmo.
O cálculo de Israel
Após o ataque do Irã contra Israel na terça-feira, analistas avaliam que o próximo movimento do Estado judeu tem potencial para determinar o curso da guerra. Diferentemente da ofensiva realizada em abril, quando Israel e aliados interceptaram quase todos os 300 mísseis e drones das forças iranianas — numa investida que, apesar de superior em quantidade de projéteis lançados, foi amplamente considerada simbólica —, agora a abordagem do Irã foi mais agressiva e com a intenção de enviar a mensagem de que pode causar danos significativos, dizem especialistas.
A expectativa é de que Israel esteja considerando ataques a alvos mais relevantes no território iraniano, como bases terrestres, petroquímicas e até mesmo instalações nucleares — mesmo sob risco de uma nova resposta do Irã e após o alerta de Biden. Na quarta-feira, o chefe do Estado-Maior de Israel, o tenente-general Herzi Halevi, reforçou que seu país tem capacidade para atingir qualquer ponto do Oriente Médio, uma realidade que os inimigos de Israel “entenderão em breve”. O chefe do Estado-Maior do Exército iraniano, general Mohammad Bagheri, por sua vez, ameaçou bombardear “todas as infraestruturas” israelenses.
Em abril, Israel estava preocupado que uma resposta intensa demais pudesse levar o Irã a ordenar que esses grupos, reunidos no que se chama de “Eixo de Resistência”, retaliassem de forma extensa. À época, Biden pediu a Netanyahu que “aceitasse a vitória” da ausência de danos ou vítimas, e a resposta de Israel foi moderada: embora suas forças tenham disparado contra uma base aérea em Isfahan, uma cidade cercada por algumas das áreas nucleares mais importantes do Irã, a ofensiva evitou atingir as próprias instalações. A mensagem, porém, foi clara: da próxima vez, eles poderiam mirar em ativos valiosos para os iranianos.
Agora, porém, após terem intensificado os bombardeios no Líbano, matando o líder da organização político-militar libanesa e outros comandantes graduados do grupo, Israel sabe que enfraqueceu o Hezbollah, removendo grande parte da dissuasão do Irã contra um ataque mais amplo, disse Danny Citrinowicz, oficial aposentado da Inteligência israelense e especialista em Irã. Em sua avaliação, o momento é de uma escalada, cujo fim ainda é difícil de prever, e a ação de Israel “quase certamente” desencadeará outra resposta iraniana.
— Israel tem muito mais liberdade no contexto iraniano do que em abril, já que essencialmente não há mais ameaça de que o Hezbollah se envolva — ressaltou Citrinowicz. — Parece que estamos no início de uma confrontação mais agressiva entre nós e os iranianos.
Para Yaakov Amidror, general de divisão reformado que serviu como conselheiro de Segurança Nacional de Netanyahu, o desafio de Israel hoje não é sobre atacar ou não o Irã, mas o quão poderoso esse ataque deve ser. A questão, disse, é quanto as forças israelenses podem “prejudicá-los em relação à capacidade deles de nos prejudicar”. Até mesmo um ataque às instalações nucleares do Irã — há muito uma fonte de temor para Israel, que se preocupa que Teerã possa adquirir uma arma nuclear — “deve ser considerado”, acrescentou o general israelense.
(Com New York Times)
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