O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta sexta-feira que o Estado judeu está vencendo a guerra contra seus inimigos locais e ameaçou retaliar qualquer ataque lançado pelo Irã durante o seu discurso na Assembleia Geral da ONU. Sob pressões opostas de aliados no exterior e de integrantes de sua coalizão de governo, que pedem, respectivamente, para que reduza as tensões e busque um cessar fogo e para que o governo mantenha a pressão total contra o Hezbollah e o Hamas, Netanyahu justificou as ações militares israelenses como uma resposta justa ao atentado sofrido em 7 de outubro e relacionou toda a crise de segurança no Oriente Médio a Teerã, pedindo ajuda da comunidade internacional para conter seus avanços.
— Pela primeira vez, o Irã atacou diretamente Israel a partir do seu próprio território, disparando 300 drones, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos contra nós. Eu tenho uma mensagem para os tiranos em Teerã: Se vocês nos atacarem, nós vamos atacar vocês. Não há um lugar no Irã que Israel não possa atingir, e isso vale para todo o Oriente Médio — afirmou Netanyahu às delegações reunidas em Nova York, após citar outras ações de grupos ligados ao regime iraniano, como o Hezbollah e os houthis, pelo "Eixo da Resistência".
A chegada do primeiro-ministro israelense provocou reações na Assembleia, que há dois dias tem no conflito do Oriente Médio uma das principais preocupações abordadas pelos líderes mundiais. Parte das delegações se retiraram do recinto quando o premier foi convocado ao púlpito — incluindo a do Irã, que não estava na sala no momento em que Netanyahu ameaçou responder a qualquer ataque. Entre as delegações que não ouviram o discurso, estavam Turquia e Palestina. O presidente da sessão também precisou pedir "ordem" reiteradamente pessoas que reagiam aos gestos de Netanyahu (embora não esteja claro se aplaudiam ou vaiavam).
— Eu não pretendia vir aqui neste ano. Meu país está em guerra, lutando pela própria vida. Mas após ouvir as mentiras e calúnias levantadas por muitos dos porta-vozes neste púlpito, eu decidi vir aqui e esclarecer as coisas — disse Netanyahu, na abertura de seu discurso. — E aqui está a verdade: Israel busca a paz (...).Israel fez a paz e vai fazer a paz de novo.
Recorrendo à narrativa bíblica de Moisés, Netanyahu afirmou que a região estaria destinada a "uma bênção" ou "uma maldição" — mesmo termo que usou para se referir ao atentado de 7 de outubro do ano passado, lançado pelo Hamas contra Israel. Momentos depois, o premier sacou dois mapas de detrás do púlpito e apresentou o que disse ser a "bênção" para a região — a integração entre Israel e países vizinhos, como a Arábia Saudita, o Egito e o Bahrein, que era visto como próximo antes do atentado — e a "maldição" — o aumento da influência do Irã e de seus aliados, em uma faixa cada vez mais perto da Europa.
— Se você pensa que este mapa negro é uma maldição apenas para Israel, se você pensa isso, você deveria pensar de novo. Porque a ameaça do Irã, se não observada, vai colocar em risco cada um dos países do Oriente Médio e vários países ao redor do mundo — afirmou, referindo-se às atividades do Irã pelo mundo e o programa de mísseis do país, convocado a comunidade internacional a impedir os planos nucleares do Irã.
Enquanto o premier discursava no púlpito da ONU, as hostilidades no solo continuavam. As Forças Armadas de Israel (FDI) voltaram a bombardear alvos no Líbano e na Síria na manhã desta sexta-feira. Pouco após o discurso, o principal porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, afirmou que um ataque atingiu o principal quartel-general do Hezbollah no distrito de Daniyeh, no sul da capital libanesa.
Caminho fechado para a diplomática
O discurso do premier israelense era aguardado com expectativa por parte das representações, que buscam formas de desescalar as tensões regionais. Contudo, o discurso de Netanyahu não deu sinal de moderação, prometendo que as operações contra o Hezbollah, no Líbano, continuarão enquanto houver ameaça do movimento xiita.
— Enquanto o Hezbollah escolher o caminho da guerra, Israel não tem escolha, e Israel tem o direito de acabar com esta ameaça e devolver os seus cidadãos às suas casas em segurança — disse ele, acrescentando que as operações continuarão "até que todos os nossos objetivos sejam alcançados".
Autoridades ocidentais, incluindo o presidente americano, Joe Biden, fizeram apelos nos últimos dias para que Israel busque a via diplomática para solucionar suas questões de segurança na fronteira com o Líbano. Embora Washington tenha defendido o direito israelense de se defender, a Casa Branca tenta atuar para uma desescalada, tanto em Gaza quanto no norte, patrocinando a ideia de um cessar-fogo.
Tanto Netanyahu como integrantes da alta-cúpula do governo israelense foram taxativos em rejeitar qualquer acordo na quinta-feira, após a discussão vir a público. A rapidez e a forma da negativa das autoridades surpreendeu as autoridades em Washington. O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmou que a crença nos EUA era de que Israel estava de acordo com a proposta, envolvendo três semanas de pausa no conflito.
— Tínhamos todos os motivos para acreditar que, na elaboração e na entrega, os israelenses estavam totalmente informados — disse ele sobre a proposta, em uma entrevista coletiva. — Totalmente informados e totalmente cientes de cada palavra nele. E não teríamos feito isso, como eu disse, se não acreditássemos que seria recebido com a seriedade com que foi composto.
Em uma outra frente diplomática, a Arábia Saudita anunciou na quinta-feira que formou uma aliança global — incluindo vários países árabes e muçulmanos — para pressionar por uma solução para os conflitos regionais, a partir de uma solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino. Fontes sauditas afirmaram que a aliança também incluiria parceiros europeus, mas não especificou quem se comprometeu com a proposta. O chanceler da União Europeia, Josep Borrell, indicou que reuniões teriam sido marcadas para ocorrer em Riad e Bruxelas.
— Implementar a solução de dois Estados é a melhor solução para quebrar o ciclo de conflito e sofrimento e impor uma nova realidade na qual toda a região, incluindo Israel, desfrute de segurança e coexistência — disse o príncipe saudita Faisal bin Farhan Al Saud, chanceler saudita. (Com NYT e AFP)
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