Em conflito com o Hezbollah, Israel bombardeia alvos na Síria; entenda o porquê
País em Guerra Civil é visto por estrategistas israelenses como um importante corredor de abastecimento de armas iranianas para o Hezbollah
RESUMO
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GERADO EM: 26/09/2024 - 10:10
Israel bombardeia alvos na Síria em confronto com Hezbollah: tensões na região aumentam
Israel bombardeia alvos na Síria em confronto com o Hezbollah. Síria é crucial na rota de armas iranianas para o grupo. Preocupação com reabastecimento do Hezbollah destaca tensões na região.
As Forças Armadas de Israel (FDI) bombardearam posições na fronteira entre o Líbano e a Síria nesta quinta-feira, afirmaram porta-vozes militares israelenses, utilizadas pelas forças do Hezbollah. Embora não seja a primeira vez que Israel bombardeia locais na Síria desde o início dos confrontos na região, a nova ação expõe o papel estratégico do país na integração entre membros do Eixo da Resistência.
Sob o regime de Bashar al-Assad, a Síria faz parte da aliança informal entre países e grupos armados liderada pelo Irã, que tem como pauta comum a oposição à influência ocidental na região e ao Estado de Israel. Damasco não lançou nenhum ataque contra o território israelense desde o início do conflito em Gaza, porém é vista como um risco estratégico por estrategistas militares do Estado judeu por sua posição na região e sua participação no Eixo da Resistência.
A Síria ocupa uma localização central no Oriente Médio, fazendo fronteira com quatro países da região, além da Turquia. Ao longo do conflito, Israel apontou o território sírio como um canal de acesso usado pelo Irã para enviar armamentos para o movimento libanês Hezbollah. Apesar de Síria e Irã não compartilharem fronteira, estão separados apenas pelo Iraque — outro país com fronteira porosa e atividade de grupos do Eixo da Resistência — um ataque a drone lançado pela Resistência Islâmica no Iraque contra Israel deixou dois feridos na cidade de Eilat, no extremo sul do país.
Em um comunicado emitido pelo Exército após os bombardeios no extremo nordeste e leste da fronteira, nesta quinta-feira, o argumento voltou a ser citado. As FDI informaram que os alvos da operação foram infraestruturas entre Síria e Líbano, usadas pelo Hezbollah para "transferir armas". A ofensiva foi descrita como uma ação para "prevenir a entrada de armas no Líbano e o armamento do Hezbollah".
A Síria denunciou, no começo do mês, um ataque israelense contra diferentes instalações militares no país — classificada pelo Ministério das Relações Exteriores como uma "agressão flagrante". Ao menos 18 pessoas teriam morrido no bombardeio, que segundo um grupo de monitoramento teria atingido também uma base de desenvolvimento de armas.
Fragilizada por uma guerra civil de mais de 10 anos, iniciada em 2011 no contexto da Primavera Árabe, que retirou do governo em Damasco o controle de parte do país, a Síria se transformou em um terreno fértil para a formação de grupos armados e a proliferação de armas. Ao longo dos anos, o país foi inundado por carregamentos de armamentos e munições, provenientes de diversas partes do mundo, incluindo Rússia e Irã.
O conflito interno também serviu de laboratório para os braços armados de diferentes grupos, como o próprio Hezbollah. Há registro da participação de combatentes do grupo libanês no país vizinho, contra o Estado Islâmico (EI) — organização radical de inspiração sunita, que se opunha violentamente contra correntes xiitas.
O reabastecimento do arsenal do Hezbollah via Síria é uma das principais preocupações estratégicas de Israel. Ao contrário do Hamas em Gaza — enclave quase que totalmente circundado por território israelense, a exceção da fronteira com o Egito —, que as FDI conseguiu destruir grande parte das capacidades ofensivas e impediu uma reposição em larga escala, o Hezbollah, que por si só conta com mais homens e armamentos, poderia manter uma guerra ainda mais longa com apoio do Irã.
Segundo um relatório elaborado no começo do ano pelo Instituto de Contraterrorismo da Universidade Reichman com mais de 100 especialistas, militares e integrantes do governo, o Hezbollah tem capacidade para lançar até 3 mil projéteis por dia contra Israel ao longo de pelo menos três semanas. As estimativas indicam que o grupo tem entre 120 mil e 200 mil mísseis e foguetes, a maioria fornecida pelo Irã e com capacidade de reabastecimento por meio da Síria. A linha de suprimentos poderia incrementar com equipamentos modernos o já perigoso arsenal do Hezbollah.
A organização conta com mísseis Yakhont e o Fateh-110, com alcance, respectivamente, de 300 km e 500 km, capazes de atingir profundamente o território israelense. Também anunciaram, ao longo da semana, ter disparado um míssil Qader 1, altamente manejável, contra Tel Aviv, e um o foguete Fadi 3 contra uma base militar israelense. (Com NYT)
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