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Por O Globo e Agências Internacionais

Sem tratamento eficiente, os moradores do norte da Faixa de Gaza observam um aumento de amputações — inclusive em crianças pequenas. Apesar de trágico, o quadro é apenas mais um dentro de uma crise no sistema de saúde que se acentua desde o início da guerra no enclave palestino, iniciada no dia 7 de outubro. Nesta quinta-feira, o colapso atingiu o seu auge: não há mais hospitais funcionais no norte, disse o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Em sua declaração, o chefe da OMS descreveu as cenas de horror testemunhadas por agentes humanitários que visitaram, na quarta-feira, as ruínas do al-Ahli e al-Shifa, o maior da Faixa, durante uma rara missão humanitária de entrega de suprimentos. Até dois dias atrás, o al-Ahli era a única unidade no norte onde os feridos poderiam ser submetidos a cirurgias, apontou o chefe da agência.

“[Eles] se esforçaram para descrever o imenso impacto que os recentes ataques tiveram sobre essas instalações de saúde", disse Adhanom, em um comunicado publicado nas redes sociais.

Também no al-Ahli, os agentes humanitários encontraram fileiras de cadáveres enfileirados do lado de fora do hospital, porque os membros da equipe não puderam sair do hospital para enterrá-los de modo “seguro e digno”.

Enquanto isso, civis gravemente feridos se contorciam de dor no chão e nos bancos de uma capela dentro do hospital, afirmou o chefe da agência. Em um vídeo publicado por Adhanom, de um dos membros da missão médica, era possível ver pessoas feridas e crucifixos na parede.

— Há pacientes aqui que estão feridos há mais de um mês e não foram operados. Há pacientes que foram operados e agora estão contraindo infecções pós-operatórias, porque o hospital não tem antibióticos suficientes — diz o agente Sean Casey, que liderou a operação.

Ao ser citado pelo Times of Israel, Casey descreveu o aumento no número de amputações, que poderiam ser evitadas caso o hospital estivesse em pleno funcionamento. Ele também afirma que as pessoas estão passando fome.

— Eles estão sofrendo enormemente aqui. — acrescentou o funcionário, no vídeo. — Essa é uma situação completamente inaceitável.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) e o Departamento de Segurança da ONU participaram da missão que, segundo Adhanom, foi apenas o terceiro comboio humanitário a chegar ao norte de Gaza desde que uma pausa nos combates, possível graças a um acordo entre Israel e Hamas, que visava a troca entre reféns e prisioneiros palestinos, foi suspensa em 1º de dezembro devido às "hostilidades em andamento".

Um porta-voz do governo israelense não respondeu imediatamente a um pedido de comentário do New York Times sobre as alegações da OMS.

‘Parcialmente funcionando’

Os dois hospitais visitados pela equipe de trabalhadores humanitários na quarta-feira não são capazes de fornecer muito mais do que os primeiros socorros — o que significa que não há mais "nenhum hospital funcional no norte de Gaza", disse Adhanom. Apenas alguns médicos e enfermeiros permanecem no al-Ahli para prestar atendimento limitado a pessoas gravemente feridas que precisam urgentemente de cirurgia e outros procedimentos complexos, acrescentou.

Os agentes humanitários encontraram no local 80 pessoas feridas, incluindo idosos e crianças pequenas, abrigadas na capela e no departamento de ortopedia do hospital, acrescentou.

"Entre eles, uma menina de 10 anos que perdeu a perna e não tinha mais família para cuidar dela, e um homem idoso que aguardava uma cirurgia para tratar de um ferimento de arma de fogo no peito que talvez nunca mais consiga curar, cuja família inteira havia sido morta", disse Adhanom.

Nesta quinta-feira, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários disse que apenas nove dos 36 hospitais de Gaza estavam "parcialmente funcionando". Todos estavam localizados no sul de Gaza, que foi inundado nas últimas semanas por centenas de milhares de pessoas deslocadas fugindo da violência. Agora, eles operam com o triplo de sua capacidade normal, disse a ONU em um comunicado.

Estagnação na ONU

Israel acusou o Hamas de usar hospitais como centros de comando e controle, alegações que o grupo e a equipe médica negaram. No dia 14 de novembro, as Forças Armadas de Israel chegaram a invadir uma área do al-Shifa, acusada por Israel de ser usada como base operacional para ataques armados. O Exército israelense afirma ter descoberto túneis e armas, neste e em outros hospitais, o que considera prova de suas alegações.

Os diplomatas do Conselho de Segurança da ONU estiveram em intensas negociações esta semana sobre uma resolução que pede o fim dos combates na guerra em Gaza e um grande aumento nas entregas de ajuda. Os Estados Unidos adiaram a votação, de acordo com diplomatas, na quarta-feira, e têm sido o único membro do conselho a bloquear as exigências de um cessar-fogo imediato e permanente, vetando duas resoluções desse tipo.

Adhanom disse que um cessar-fogo era necessário "para reforçar e reabastecer as instalações de saúde remanescentes, prestar os serviços médicos necessários a milhares de pessoas feridas e àquelas que precisam de outros cuidados essenciais e, acima de tudo, para interromper o derramamento de sangue e a morte".

Tragédia anunciada

Israel tem bombardeado a Faixa de Gaza e deflagrado incursões terrestres na região desde que foi vítima de um ataque terrorista do Hamas, que deixou ao menos 1,2 mil pessoas mortas e fez mais de 250 reféns, segundo as autoridades. Contudo, a assimetria de mortos --- que, segundo o Ministério da Saúde do enclave chega a 20 mil, em sua maioria menores e mulheres --- têm gerado uma pressão por parte da comunidade internacional sobre o Estado judeu, o que foi alertado até pelo presidente Joe Biden, seu principal aliado.

Ainda no dia 9 de outubro, Israel decretou um "cerco total", que cortou água, alimento, gás e combustível do enclave. A região, que já estava sob um bloqueio severo desde 2007, quando Hamas chegou ao poder, viu a crise humanitária acentuar-se.

No caso dos hospitais, as sucessivas ordens de deslocamento por parte do Exército israelense provocaram uma superlotação. Além disso, a paralisação das usinas de dessalinização — que produziam 21 milhões de litros de água potável por dia — devido à falta de combustível agravou mais ainda o quadro. (Com New York Times)

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