‘Taxação de super-ricos é caminho natural’, diz secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda
Para Tatiana Rosito, é preciso tributar altíssima renda para reduzir desigualdades. Desafio do Brasil à frente do Brics em 2025 será comércio de moedas locais
RESUMO
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GERADO EM: 28/11/2024 - 20:26
Brasil prioriza taxação de super-ricos e comércio no Brics
A secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, destaca a taxação dos super-ricos e avanços no G20. Brasil focará em comércio de moedas locais no Brics em 2025. Discussões visam reduzir desigualdades e facilitar transações comerciais.
A secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, comemora os avanços alcançados durante a presidência brasileira no G20, como a inclusão da taxação dos super-ricos na Declaração de Líderes, ainda que de forma abrangente, e a reforma da arquitetura financeira climática multilateral. Economista e diplomata de carreira, ela coordenou a trilha de finanças do grupo das maiores economias do mundo ao longo deste ano. E afirma que um dos próximos passos a serem dados pelo Brasil será avançar na discussão sobre o comércio em moedas locais entre os membros do Brics, bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e que responde por 25% do comércio global. O Brasil assume a presidência do Brics em 2025.
Qual o balanço da presidência do Brasil no G20?
O balanço geral foi bastante positivo e culminou numa declaração de líderes consensual ao final da reunião. Em momento de crescente incerteza global em termos geopolíticos e econômicos, a liderança brasileira logrou importantes consensos no foro que congrega as maiores economias mundiais. O Brasil levou para o centro do debate internacional questões centrais para a humanidade, como o combate à pobreza e às mudanças climáticas, num formato inédito no G20.
Quais avanços da trilha financeira?
Na trilha financeira, perseguimos respostas concretas para alinhar as grandes ambições da humanidade aos seus meios de implementação. São exemplos a tributação progressiva, inclusive dos indivíduos de altíssima renda, a reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento e também a reforma da arquitetura financeira climática multilateral. Realizamos ainda um diálogo inédito com a sociedade civil através do G20 social.
Que temas não foram colocados no documento final, como queria o Brasil?
Na trilha financeira, todos os temas foram refletidos da forma esperada e já acordada nos comunicados ou declarações de ministros e presidentes de bancos centrais.
A taxação dos super-ricos no documento, da forma como foi, é um avanço?
Sim, é a primeira vez que o tema é debatido pelo principal foro de coordenação econômica e financeira global, que já trata há muitos anos do aperfeiçoamento da tributação sobre as corporações. Esse é um caminho natural dada a crescente desigualdade de renda e riqueza e o fato de que os sistemas tributários, por seu próprio desenho e formas de evasão, nem sempre são capazes de tributar os indivíduos de maneira equilibrada.
Quais os próximos passos do Brasil na presidência do Brics?
As propostas estão sendo preparadas em coordenação com o Ministério das Relações Exteriores e a própria Presidência da República e deverão refletir temas tradicionalmente caros ao Brics, como o aperfeiçoamento do sistema financeiro e monetário internacional, além de temas concretos da cooperação entre o Brasil e os seus parceiros.
A eleição de Trump teria algum impacto na discussão de comércio em moedas locais no Brics?
O tema do comércio em moedas locais é parte da agenda do Brics, constando das últimas declarações. É natural que, à medida que se intensifiquem as trocas entre esses parceiros, se busquem formas de redução de custos de transação compatíveis com a ampliação desses mercados e que possam conviver com outras formas já existentes. Embora seja difícil analisar situações que ainda estão por vir, políticas que possam acentuar o comércio entre os emergentes e intra-Brics poderiam constituir um incentivo para alternativas que ofereçam custos de transação reduzidos e possam ser eficientes num mundo em que os emergentes respondem por parcela importante do comércio global, sendo a do Brics de cerca de 25%.
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