Crianças indígenas perdidas: ilustrações detalham operação de resgate na selva colombiana
Grupo ficou 40 dias na floresta amazônica após acidente aéreo; sobrevivência chamou a atenção e causou comoção global
Por O Globo
Foram necessários 40 dias para que as equipes de busca montadas pelo governo colombiano conseguissem encontrar em meio a selva amazônica Lesly, de 13 anos, Soleiny, de 9,Tien Noriel, de 5; e Cristin, de 1 ano, as quatro crianças indígenas vítimas de um acidente aéreo no início de maio. Perdidas em meio a floresta, sem adultos por perto, já que os demais passageiros da aeronave, incluindo a mãe do quarteto, morreram na queda, os irmãos contaram apenas com os conhecimentos tradicionais dos indígenas uitotos para sobreviverem.
O acidente
O avião caiu no dia 1° de maio, em uma região de difícil acesso por rio e sem estradas. O destino do voo, que saiu de Caquetá, era San José del Guaviare. A mãe e os quatro filhos iam se encontrar com o pai, Manuel Radoque, que havia fugido após receber ameaças de grupos criminosos, entre eles, uma dissidência das Farc.
O piloto chegou a alertar o controle aéreo quanto a uma falha do motor. A aeronave perdeu altitude chocou-se contra as árvores e caiu. Dias depois, três corpos de adultos foram encontrados, incluindo o da mãe das crianças, dentro do avião.
As equipes de busca
Uma equipe de 120 militares e de 73 indígenas foi mobilizada para encontrar as quatro crianças. Apesar dos esforços, passaram-se 17 dias sem que as autoridades tivessem notícias sobre o acidente, o que mudou quando o avião enfim foi localizado na mata.
Ao longo das semanas seguintes, suprimentos e kits de sobrevivência foram sendo lançados ao longo da mata fechada por helicópteros, na esperança de que fossem encontrados pelas crianças. Altos falantes também emitiram uma mensagem na língua uitoto gravada pela avó das crianças.
Pistas
Ao longo dos dias de busca, pistas indicaram que as crianças desaparecidas seguiam vivas. Frutas comidas, uma mamadeira, um abrigo improvisado, tesoura e fitas de cabelo, além de pegadas, fraldas e toalhas, foram identificados em meio a mata amazônica pelas equipes.
"Eles são filhos da floresta e sabem como sobreviver na selva", chegou a dizer Fidencio Valencia, um indígena Huitoto de 47 anos, avô das crianças.
O conhecimento de caça, coleta e pesca apreendido na comunidade huitoto teria sido fundamental para a sobrevivência do quarteto, segundo disse Carlos Peres, professor de ecologia da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, ao jornal americano The Washington Post. Ele ressalta que a experiência seria traumática para os irmãos, "mas que eles também estavam lutando pela sobrevivência e teriam sabido negociar essas condições".
— Quatro crianças ocidentais da mesma idade teriam morrido — disse o professor, antes de destacar — Nessa parte da Amazônia, há cerca de 80 espécies diferentes de cobras, mas apenas cinco delas são venenosas e eles (indígenas) podem distinguir as venenosas das não venenosas.
Resgatadas com vida
As quatro crianças foram encontradas 40 dias após o acidente. Elas estavam nas proximidades do povoado de Palma Rosas, apenas cinco quilômetros de distância do acidente. No total, as equipes de resgate vasculharam uma área de mais de 2 quilômetros.
As autoridades descreveram as crianças como 'catatônicas' no momento em que foram finalmente encontradas. Da selva, foram levadas para a capital Bogotá, onde recebem atendimento psicológico e médico.
Buscas pelo cão Wilson
Há, no entanto, mais um desaparecido. O cão Wilson, um pastor belga de seis anos, havia sido solto pela selva para que buscasse outras pistas das crianças, na última quarta-feira, e não foi retornou mais ao encontro dos militares. Havia a expectativa que ele estivesse junto das crianças, o que não se concretizou.
"Jamais se abandona um companheiro! Todos unidos para recuperar nosso cão Wilson na selva. A operação não vai acabar até encontrarmos nosso amigo de 4 patas!", escreveram as Forças Militares da Colômbia no Twitter.
O Exército registrou o desaparecimento do animal na quinta-feira e levantou uma hipótese: “Devido à complexidade do terreno, à umidade e às condições climáticas adversas, ele teria ficado desorientado”, disse a instituição em boletim.