Os altos e baixos de Black Doves', série de espionagem que faz sucesso na Netflix

O título (que em tradução literal significa “pombas negras”) é o nome da organização secreta a que pertencem os personagens centrais. Eles trabalham com espionagem, mas não por patriotismo, como em quase todas as histórias do gênero. Bem treinados e muito competentes, não podem, contudo, ser chamados de heróis. Ao contrário: se dedicam a obter informação confidencial do governo britânico que vendem para quem pagar mais, não importa a nacionalidade. Se alimentam de adrenalina e de dinheiro. Para isso, fazem escolhas amorais.

São seis episódios e um convite à maratona. Direção e roteiro estão em sintonia no esforço de estetizar e glamourizar todos os clichês do universo da espionagem. A protagonista encarna com perfeição essa intenção. Keira Knightley faz Helen Webb, uma espiã de manual. Linda, ágil, elegante, aparentemente frágil, mas capaz de matar sem se descabelar, ela vive em dois mundos. É casada com o secretário de Defesa do Reino Unido, Wallace (Andrew Buchan, de "The honorable woman"). Com uma carreira ascendente, ele é candidato a futuro primeiro ministro. Eles têm filhos gêmeos e levam uma vida burguesa numa casa confortável. Somos apresentados a eles numa festa de Natal beneficente organizada por Helen. Parecem uma família perfeita. Só que não. Longe dos olhos do marido, Helen atua como uma peça-chave da organização clandestina. O casamento colaborou para que ela se tornasse uma black dove importante: é que através de Wallace, ela tem acesso a informações secretas. Quem assistiu a “The americans” se lembrará de Keri Russel — tanto pela semelhança física das atrizes quanto pelas personagens aparentemente frágeis, mas que viram feras perigosas em ação (“The americans” é muito superior a “Black Doves”).

O enredo é intrincado e cheio de ramificações que vão se entrelaçando. Essa primeira aventura abre com o assassinato de Jason (Andrew Koji). Ele era amante de Helen e ela jura vingança. Paralelamente, o sumiço da filha do embaixador chinês na Inglaterra movimenta as autoridades. A organização convoca Sam (Ben Whishaw), um assassino profissional, para ajudar Helen na caçada. Tudo está relacionado, como nos bons thrillers clássicos. Há uma ou outra situação absurda, e, a partir do terceiro episódio, elas excedem os limites da credibilidade. Nesse ponto, a trama desanda um pouco.