Patrícia Kogut
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GERADO EM: 17/12/2024 - 15:08

Netflix adapta "Cem Anos de Solidão" com fidelidade ao realismo mágico: uma adaptação arrebatadora.

A série "Cem anos de solidão" da Netflix surpreende ao adaptar a obra complexa de Gabriel Garcia Marquez. Com elenco colombiano e fidelidade ao realismo mágico, a produção encanta e emociona os fãs. A cidade onírica de Macondo ganha vida, enquanto a narrativa respeita o original, resultando em uma adaptação arrebatadora. A força dos atores e a atenção aos detalhes visuais elevam a série a um novo patamar.

A expectativa em torno de “Cem anos de solidão” era tanta que o fracasso parecia certo antes da estreia. A transposição da obra canônica de Gabriel Garcia Marquez para o audiovisual tinha ares de um projeto malfadado. Essa era a opinião do próprio autor, que morreu em 2014. Tanto que ele recusou as inúmeras propostas de levar a história para o cinema. Até que finalmente, Rodrigo García e Gonzalo García Barcha, filhos do escritor, cederam aos apelos da Netflix diante de uma lista de condicionantes.

Agora, os oito primeiros episódios da série adaptada chegaram à plataforma (serão dezesseis no total). Eles vêm encantando, derrubando resistências e emocionando os mais fervorosos fãs da literatura. É possível afirmar sem medo de injustiças que esse é o lançamento mais arrebatador do ano.

Claudio Cataño na série 'Cem Anos de Solidão' (2024) — Foto: Divulgação
Claudio Cataño na série 'Cem Anos de Solidão' (2024) — Foto: Divulgação

O espírito do livro está todo lá.

A cidade onde a ação se desenrola é um universo onírico. Ao fundar a vila, o patriarca José Arcadio Buendía (Marco Antonio González Ospina) cria um significado e seu significante: Macondo é uma palavra que não existe, frisa ele. O desafio da série é justamente esse: porque ela existe sim na cabeça de cada um dos leitores dos 50 milhões de edições da história lançada em 1967. Mesmo quem leu há muitos anos tem uma Macondo na memória.

As condições impostas pela família do escritor fizeram bem à produção. A primeira delas era que não seria possível condensar a obra num filme de duas horas. Teria de ser uma série. Depois, o elenco deveria ser integralmente colombiano e tudo seria falado em espanhol.

As gravações aconteceram numa cidade cenográfica construída do zero e em regiões como Cali, Villavicencio, Girardot, Palomino, Santa Marta e Barranquilla. Tudo isso atribui uma camada de legitimidade inatacável ao resultado final. A cenografia e os figurinos, um trabalho majestoso, são fundamentais para carregar o espectador nesse mergulho.

O roteiro (José Rivera Natalia Santa) não esquece que “Cem anos de solidão” é o grande marco do realismo mágico como um gênero literário. Há um narrador que costura trechos do livro numa reverencia irrestrita ao original, sem licenças indevidas. A direção (Laura Mora e Alex García Lopez) sabe que é preciso se fazer entender sem cair na explicação didática. Ambos vencem os obstáculos mais arriscados. E não perdem de vista a clareza narrativa — nem entre os saltos para a frente e para trás no tempo, os personagens com o mesmo nome e o sem número de elementos simbólicos que invadem as cenas.

Finalmente, a força dos atores impressiona. Diego Vásquez faz José Arcadio maduro. Ele é tão poderoso quanto o jovem Ospina, que é o par perfeito da Úrsula ( Susana Morales Cañas) dos primeiros capítulos. O elenco como um todo contribui para a dimensão que a história ganha em sua adaptação.

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