Na mobilidade urbana, o aplicativo que veio da Sibéria

Para Arsen Tomsky, russo que fundou a InDrive, há espaço para terceira via no mercado, além de Uber e 99

Por — Rio


Web Summit 2024 - Paine 'Defying adversity: The road to global success'. Arsen Tomsky, russo que fundou a InDrive Hermes de Paula

Em um mercado de aplicativos de transporte dominado pelo duopólio de Uber e 99, o russo Arsen Tomsky veio ao Web Summit Rio vender a ideia de que há espaço para uma terceira via. Em 2012, ele fundou a InDrive, que se diferencia dos rivais com um modelo que permite ao passageiro negociar o preço diretamente com o motorista.

Agora, acaba de nomear um chefe para o negócio no Brasil com a meta de tornar “mais locais” as operações aqui e fazer do país um dos mais importantes entre os 46 em que opera.

— O Brasil é um dos nossos focos, com uma imensa população, onipresença de smartphones e público habituado a serviços móveis. Vemos um futuro importante aqui no país — disse o empreendedor. — A competição é dura no Brasil, mas, passo a passo, os concorrentes tentarão extrair mais receitas, cobrando mais de motoristas e passageiros. Isso é uma oportunidade pra gente.

A InDrive diz que cobra do motorista uma taxa fixa da ordem de 10%. O percentual é menor que os de 99 e Uber e vem sendo usado como chamariz na tentativa de crescer a frota plugada ao app.

— Começamos em uma cidade pequena, sem recursos, e ganhamos mercado mundo afora porque não operamos em um modelo “capitalista” como o das outras, cuja ambição é se tornar um monopólio. Elas cobram 30%, 40% dos motoristas — criticou.

Ao comparar seu modelo ao das rivais, Tomsky levanta a bandeira da “justiça” e ataca a política de remuneração das concorrentes. Isso não impede a InDrive de ser financiada por alguns dos fundos mais endinheirados do planeta. Nos últimos 12 meses, levantou US$ 300 milhões com o General Catalyst, que investe em firmas como Airbnb.

‘Comendo pelas beiradas’

Mesmo assim, Tomsky posiciona seu negócio como uma espécie de azarão — definição que guarda relação direta com a história sui generis da startup. A InDrive foi fundada na terra natal de Tomsky, Yakutsk, considerada a cidade mais fria do mundo, com temperaturas que chegam a -64°C, e encravada na Sibéria— tão longe de Moscou quanto o Rio está de Medellín, na Colômbia.

Desde então, a companhia vem “comendo pelas beiradas”: em vez de se estabelecer em mercados desenvolvidos, seu foco está em países emergentes, do Cazaquistão ao México, da Tanzânia à Índia.

— Escolhemos lançar nos emergentes porque queríamos crescer rápido. É difícil ter velocidade nos EUA, onde tudo é caro. Não tínhamos dinheiro para investir em marketing no mercado americano. Em regiões como a América Latina, crescemos no boca a boca — disse. — Só agora lançamos na Flórida, mas ainda estamos achando o modelo ideal por lá.

A InDrive está no Brasil há quase seis anos, mas sua participação de mercado está abaixo de 10%. A companhia diz, porém, que dos 66 milhões de downloads do seu app pelo mundo em 2023, 6 milhões vieram daqui.

Nas últimas semanas, a InDrive criticou pontos do projeto para regulamentar o trabalho de motoristas de aplicativo, proposto pelo governo e que tramita no Congresso. Um dos seus argumentos é que o projeto traz custos que podem inviabilizar o serviço, incluindo o tamanho da taxa de INSS.

— Não adianta transformar o mercado de uma forma que torne o serviço inviável, levando a aumento de preços. Isso afasta o usuário. Em relação aos últimos avanços regulatórios no Brasil, a categoria de motoristas não foi ouvida de maneira completa — afirmou Stefano Mazzaferro, novo country manager no Brasil.

A cobertura do Web Summit Rio 2024 na Editora Globo é apresentada pelo Senac RJ e Itaú, com o apoio da Prefeitura do Rio | InvestRio.

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