Mulher dopada pelo marido para ser estuprada por estranhos na França exige encerramento de vaquinha virtual lançada por influenciadora
Nabilla Vergara criou campanha para ajudar nas despesas judiciais de Gisèle Pélicot, que pediu o cancelamento imediato do projeto
Por O Globo com AFP — Paris
RESUMO
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GERADO EM: 06/09/2024 - 07:55
Vítima de estupro coletivo na França exige fim de vaquinha virtual
Mulher dopada para estupro coletivo na França exige fim de vaquinha virtual criada por influencer. Marido e cúmplices são julgados por 92 estupros. Polícia usou imagens e reconhecimento facial para identificar agressores. Investigação detalhada revela o horror vivido pela vítima.
Vítima de pelo menos 92 estupros coordenados pelo próprio marido, que a dopou para que estranhos praticassem o ato criminoso entre os anos de 2011 e 2020, a francesa Gisèle Pélicot, de 72 anos, exigiu o encerramento de uma vaquinha virtual lançada pela influenciadora digital Nabilla Vergara para auxiliar nas despesas judiciais.
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A influencer decidiu criar a campanha de arrecadação de fundos após se dizer “profundamente emocionada” com a história e admirada pela "coragem" e "força" da vítima dos estupros, que estão em julgamento pelas autoridades francesas.
Gisèle afirmou, no entanto, por meio de seus advogados, que não deseja “de forma alguma” a abertura de campanhas financeiras, e pediu o encerramento da vaquinha virtual para “preservar a dignidade e a serenidade dos debates”.
O projeto da influenciadora já havia conseguido mais de 22 mil euros — o equivalente a cerca de R$ 136 mil. Nabilla usou as redes sociais para anunciar o pedido de Gisèle e agradeceu aos seguidores que fizeram contribuições.
"Ela nos agradece por todo o apoio prestado. No entanto, ela não deseja aceitar a premiação no momento e não quer atrapalhar o julgamento em andamento (...) Respeitamos a decisão dela e fechamos imediatamente. Cada doador será reembolsado integralmente e gratuitamente", publicou Nabilla.
Julgamento
Os réus, incluindo o marido, Dominique P., aposentado de 71 anos, estão sendo julgados desde a segunda-feira até 20 de dezembro, em Avignon (sul), por estupros qualificados em sua maioria, cometidos entre 2011 e 2020, pelos quais podem ser condenados a até 20 anos de prisão.
Os 51 acusados de estuprar a francesa teriam sido descobertos sem a atitude do cônjuge, que registrava as imagens dos agressores que ele mesmo havia contatado e convidado pela Internet, declarou um policial francês nesta quarta-feira.
Os crimes ocorreram principalmente na cidade de Mazan, para onde o casal havia se mudado após a aposentadoria.
Os cerca de 200 estupros contra Gisèle P., atualmente com 72 anos, são atribuídos a 72 indivíduos, dos quais, após dois anos de investigações, a polícia identificou inicialmente 54. Dois foram liberados por falta de provas e um terceiro morreu.
"Escolhi formar uma equipe muito restrita de quatro investigadores", relatou o comissário Jérémie Bosse Platière no tribunal.
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"E escolhi pessoas suficientemente fortes para enfrentar as imagens", acrescentou, sublinhando que as investigações foram longas e tediosas.
O trabalho foi facilitado pelas milhares de imagens, vídeos e fotos, gravadas pelo marido. Os materiais foram registrados em um disco rígido e depois meticulosamente descritos com nome, idade e até o número de telefone dos indivíduos e classificados em um arquivo chamado "abusos".
O marido também mantinha um material específico para cada um dos homens que estuprava sua esposa.
"Uma lista foi elaborada para cada indivíduo, de acordo com o número do arquivo", precisou o comissário. O objetivo era então identificar "Chris, o bombeiro", "Quentin", "Gaston" ou "David".
Os policiais usaram vários registros de ligações telefônicas e conversas entre o marido e os agressores de sua esposa.
Essas conversas começavam online, no site de encontros Coco.fr, e depois eram transferidas para uma sala privada deste mesmo site, fechado desde junho pela justiça por ser um "local de predadores". Seguiam, então, pelo Skype ou por telefone.
Reconhecimento facial
Uma primeira lista de 11 contatos do Skype foi identificada após solicitações à Microsoft para que revelasse os endereços IP.
O mesmo procedimento foi usado para os telefones: "Partimos dos números (nas faturas telefônicas de Dominique P.) e verificamos em cada data se havia relação entre a chamada feita e o que se via" nas imagens, disse Bosse Platière.
Para chegar à identidade desses homens, os investigadores recorreram às operadoras de telefonia.
Outro método consistiu em extrair imagens encontradas, com ajuda do reconhecimento facial, através de um programa utilizado pela polícia francesa.
"Após a extração da foto, obtém-se uma taxa de semelhança. E isso facilitou a identificação de um terço dos autores", apontou o comissário.
Dada a quantidade de pessoas envolvidas, os policiais tiveram que realizar as detenções em cinco operações, entre o final de 2020 e setembro de 2021.
Vários dos acusados afirmam que apenas participaram dos fetiches sexuais de um casal libertino.
Mas a vítima nunca aparece "consciente" e "não manifesta nenhum gesto" nas milhares de imagens registradas, sublinhou Bosse Platière.
A maioria dos acusados apenas compareceu uma vez à residência. Dez foram em várias ocasiões, até seis noites em alguns casos.
O homem não pedia dinheiro em troca e, segundo ele, "todos sabiam" que sua esposa estava drogada e que não havia consentido.