Longe das celebrações de natal, mulheres que trabalham na escala 6x1 tentam manter otimismo e resiliência na data

Além do cansaço, mulheres são mais afetadas pelo sentimento de culpa e fracasso ao tentar conciliar demandas da família e do trabalho

Por e — São Paulo e Rio de Janeiro


Trabalhadores da escala 6x1 enfrentam o desafio conciliar as festas com a rotina desgastante Shutterstock

RESUMO

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GERADO EM: 23/12/2024 - 10:30

Desafios das Mulheres Trabalhadoras 6x1 no Natal: Diálogo e Mudanças Legislativas

Mulheres que trabalham na escala 6x1 enfrentam desafios emocionais ao conciliar família e trabalho no Natal. Movimentos buscam mudanças na legislação, enquanto especialistas destacam a importância do diálogo e autocuidado. Direitos trabalhistas e alternativas para aproximar funcionários de suas famílias são sugeridos. Apesar das dificuldades, há esperança por melhorias no futuro.

Girlene Carvalho de Albuquerque, de 30 anos, vai passar a tarde da próxima terça-feira como grande parte das outras 104 milhões de brasileiras: cozinhando. Apesar de estar encarregada dos preparativos da ceia, a paulista ajudante de cozinha não estará com a família no Natal, mas trabalhando no refeitório de uma grande empresa farmacêutica. Com experiência em padarias e mercados, Girlene já trabalhou muito no dia 24 de dezembro: “Gostaria de passar com a minha família, mas sempre trabalhei na escala 6x1”.

A escala 6x1, que se refere a carga 6 dias por 1 de folga, tornou-se um dos temas mais debatidos nas redes sociais desde que o movimento Vida Além do Trabalho, encabeçado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), agitou a web com o apoio da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) e sugeriu uma Proposta de Emenda à Constituição para acabar com esse tipo de regime.

Enquanto as mudanças não ocorrem, a enfermeira paulista Larissa Carvalho, de 36, prefere ver o lado bom de trabalhar no Natal. “É um dia tranquilo porque não tem movimento desnecessário”, diz. “Ruim é a sensação de saber que todos os familiares estão reunidos, menos você.” Mãe de uma criança de 7 anos, Larissa faz parte de uma camada ainda mais afetada pelos efeitos da jornada extensa de trabalho. Segundo a radiologista Simone Nascimento, especialista em saúde feminina e medicina do estilo de vida, as mulheres têm sido cada vez mais requisitadas a contribuir com a renda familiar enquanto lidam com tarefas invisibilizadas. “A soma dos afazeres domésticos com a demanda do trabalho causa uma sobrecarga e uma culpa muito grande, uma sensação de fracasso, de falhar com a família, de falhar com os filhos”, ressalta. Para Simone, é importante que elas se acolham: “Tente se tratar com a mesma compaixão, entenda e aceite que alguns pratinhos vão cair e, às vezes, o pratinho que vai cair é estar com a sua família em uma data especial”.

O diálogo também pode ser uma ferramenta útil para conciliar os interesses do trabalhador com os da empresa, sugere o psicólogo organizacional João Pedro Prates. “A saúde mental e as rotinas de trabalho estão mais cuidadas”, afirma. “Mesmo assim, é importante que os trabalhadores saibam seus direitos e apostem no ditado de que o combinado não sai caro.”

Segundo Josiani Pimenta, gestora de RH, os profissionais que trabalham no Natal e no réveillon têm direitos garantidos pela CLT, como a compensação financeira ou a concessão de outro dia de folga. “As empresas podem organizar confraternizações internas, mesmo que em horários alternativos, e permitir que os trabalhadores entrem em contato com a família e amigos por meio de chamadas de vídeo, mensagens ou telefonemas. Isso pode reduzir a sensação de afastamento”, sugere.

Assim como os trabalhadores, os patrões também enfrentam o desafio de “equilibrar os pratinhos”. “Acho que é tudo uma questão de organização mesmo”, diz a apresentadora do podcast “Não Inviabilize”, Déia Freitas, que recentemente adotou o modelo 4x3 e ainda reduziu a carga do dia trabalhado em uma hora para ela e as quatro funcionárias. “Acho que é uma questão de adaptação”, defende.

Enquanto este novo modo de trabalho ainda é exceção, e não regra, Girlene, a cozinheira do início desta reportagem. vai ajudar a preparar a ceia para cerca de outros 115 funcionários da empresa. Além do descanso, ela espera um presente de Natal especial. “Assinei o abaixo-assinado contra a escala 6x1. Acredito que vá demorar um pouco, mas tenho fé que saia a aprovação.” A gente também.

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