Ninguém ama como a gente

Em 2023, o Bota fez campanha arrebatadora. Perdeu fôlego na reta final, mas em 2024 conquistou o inédito título continental e o nacional, que não ganhava há quase 30 anos

Por — Rio de Janeiro


O inédito campeonato do Botafogo pela Copa Libertadores Luis ROBAYO / AFP/ 30-11-2024

RESUMO

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GERADO EM: 20/12/2024 - 21:40

Botafogo: Superação e Sucesso em 2024

Em 2024, o Botafogo conquista títulos nacional e continental após superar rebaixamento em 2020. Com administração eficiente, contratações caras e campanha arrebatadora, o clube alcança sucesso inédito, refletindo mudanças necessárias no futebol brasileiro. O amor dos torcedores e a superação de adversidades marcam a trajetória do time.

Era só o que faltava!

O Botafogo já tinha conquistado o título da Libertadores, tinha agora a possibilidade de, em uma tarde, se tornar também o campeão brasileiro do mesmo ano, este ano que nós acabamos de viver com uma certa e mesma ansiedade, o ano de 2024.

Se isso fosse possível e se tornasse uma realidade, o Botafogo estaria consagrado como a estrela maior do Brasil e das Américas, prontinho para enfrentar os clássicos inimigos preparados direta ou indiretamente pelo famigerado Guardiola ou pelo revoltante Ancelotti. De qualquer modo, o Botafogo não enfrentaria, pelo menos na primeira fase da Copa Intercontinental da FIFA, o Real Madrid. Mas no meio do caminho tinha a comemoração do título inédito, muitas horas de voo e fuso horário desumano. Só milagre!

Mas o Botafogo foi sempre um herói, e isso fez dele, por exemplo, o único capaz de enfrentar o campeão dos outros ou o “campeão inimigo”, fosse ele de Madri ou de Munique. Ou, quem sabe, um quinto colocado de Londres.

No Brasil, continuamos nossa caminhada, chicote embaixo do braço, só pensando nesse momento que nos chega agora, como glória atrasada e muito bem merecida.

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Há muitos anos que o Botafogo morava no meu coração, desde que eu ainda vivia em Maceió e acompanhava por lá o futebol profissional no Brasil. O estado de Alagoas estava dividido entre CSA (Centro Esportivo Alagoano) e CRB (Clube de Regatas Brasil). Não sei explicar o porquê, mas o Cerrebê era uma espécie de clube de elite e, mais estranho ainda, sua torcida jovem era formada por flamenguistas e tricolores que não conseguiam, quase nunca, trocar uma transmissão por rádio nacional de decisivo clássico carioca por um clássico local que decidia o campeonato então em disputa.

Por outro lado, a outra torcida onde eu tinha amigos, alguns até companheiros de peladas na praia e na rua, não era lá muito significativa, não tinha nenhuma representação social ou cultural interessante para um menino ou uma família vinda do sul do país. Também não sei explicar direito, mas não era lá muito chique dar bola para os torcedores do Cessiá (CSA), sobretudo para os mais frustrados, aqueles que mal sabiam o nome do centroavante do time. E o artilheiro, como era natural, no fim do campeonato seria contratado por boa grana por um time do Rio de Janeiro. E assim ia, pelo resto do ano, se esbaldar na praia de Copacabana, entre favelados que tinham perdido o verão e recém-casados do Recife, da Bahia e de São Paulo!

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No Rio, só se falava em Brasília e no fim da cidade que fora capital da República durante tantos anos. O Brasil mudava de verdade. Um senhor, bem mais velho que nós, se aproximou e declarou indignado que isso ia acabar logo, logo. E nos convidou para a “Festa de Selma”. Rimos do que dizia, quando devíamos ter pedido mais detalhes. Mas também tínhamos ouvido no rádio notícia de que Fulano, nosso velho amigo, tinha morrido numa cama de hospital, à espera de um atendimento para sua parada cardíaca aparentemente sem classificação de risco. Enquanto decidíamos se teríamos tempo de ir ver Fulano, eis que se esgotou o tempo de ir vê-lo — àquela altura, ele já devia estar era repousando em seu caixão.

Começamos a ouvir a voz de Djavan vinda de um rádio na estrada, cantando a mesma canção que já nos encantara. Apuramos os ouvidos, era mesmo ele que estava cantando e não podia ser mais ninguém. Ficamos inebriados, era como se estivesse se repetindo o que já havia acontecido antes.

Havíamos ouvido o canto de Djavan, era como o canto anônimo de centenas de americanos, ninguém sabe de onde, cantando o rhythm’blues que inventavam na hora. Antes que alguém interviesse, o R&B se tornava decisivo. E nunca era interrompido! Um dirigente do clube então nos explicou que aquele era um antigo modo do time que, quando parecia que ia perder, era entoado daquele jeito.

Desde então, era como se os adversários se juntassem todos para afirmar o quanto seus corações se uniam de amor pelo clube da estrela solitária. A partir desse momento, “todos amam a gente”.

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Em 2020 o Botafogo fora rebaixado para a série B depois de campanha extremamente medíocre. Aí a SAF de Textor veio socorrer o time, com algumas transformações. Essas transformações começaram com as contratações mais caras da história do futebol nacional. Já em 2023 o Bota fez campanha arrebatadora liderando 31 das 38 rodadas que disputou no Brasileirão. Perdeu fôlego na reta final, mas no ano seguinte, em 2024, conquistou o inédito título continental e o nacional, que não ganhava há quase 30 anos.

importante é deixar de lado o amadorismo que sempre caracterizou o futebol brasileiro e buscar administrações eficientes. É bom para os clubes e para o futebol.

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