Bacalhau combina com o quê? Veja rótulos da região dos Vinhos Verdes para harmonizar com receitas portuguesas
O peixe (sim, é peixe) que ostenta o título de ‘mil e uma receitas’ se encontra com uma rica oferta de rótulos que abraçam o desafio de enfrentar tal diversidade
Não é importa se são bolinhos, pataniscas, um carpaccio ou à lagareiro. O bacalhau é tão presente na mesa dos brasileiros que quase parece coisa nossa. Aqui, o sommelier Manuel Moreira ensina a combinar o peixe com rótulos da região dos Vinhos Verdes.
- Vinhos de Portugal em SP: confira a programação completa do evento
A região dos Vinhos Verdes será tema da prova "Vinhos Verdes, frescos e intensos", com os críticos Manuel Carvalho e Jorge Lucki, nessa sexta-feira (14) no Vinhos de Portugal (16h30). Os ingressos estão à venda no site: ingresse.com
Bacalhau à Gomes de Sá
Um dos pratos mais típicos da cidade do Porto, cheio de cor, sabores e texturas, combina bacalhau em pequenas lascas passadas no leite, cozido com azeite, alho e cebola, e acompanhado de batata, azeitonas pretas, salsa e ovos cozidos.
Vinhos de corpo leve e moderado são o ponto de partida. Fruta em detrimento da madeira e, se esta se encontrar omissa, melhor. Mas o efeito de gordura e envolvência, que o trabalho com madeira pode propiciar, é bem-vindo para ligar os vários substratos de texturas e sabores. Já os tostados e abaunilhados são dispensáveis. Acidez bem regulada, seja em brancos, tintos ou rosés, é indispensável. Os espumantes reúnem muitos dos atributos — acidez, leveza e gás carbônico — que farão com que a harmonia tenha desfecho feliz.
Aveleda Solos de Granito 2022 (Aveleda SA)
Nariz perfumado, mas requintado e com dimensão ao nível do prato. O estágio com battonage deu-lhe o físico e a cremosidade que bate com a estrutura do prato. A acidez e a mineralidade são o adicional que eleva a experiência.
João Portugal Ramos Alvarinho 2023 (João Portugal Ramos)
O nariz é amplo e menos exuberante, apesar de não esconder a fruta de qualidade. Há uma aragem de complexidade que se une às diversas sensações do prato. Na boca, a sua envolvência e poder refrescante tornam essa harmonização um compêndio de prazer.
Maria Bonita Rosé 2022 (Lua Cheia-Saven)
Um Espadeiro que mostra elegância e personalidade. O seu enorme frescor no paladar, bem seco e envolvente, reescreve as suas possibilidades à mesa. À medida que sobe em temperatura aguenta como se estivesse a nos dar um aviso de que podemos confiar.
Bacalhau à Lagareiro
Uma das formas mais populares de cozinhar o bacalhau, em que o azeite e o peixe são os protagonistas. Depois de assado e “nadando” no azeite, o bacalhau, acompanhado por alho e batata assada, torna-se um prato intenso. Não somente pelo seu próprio sabor, mas pelo assado, que cria caramelizados e tostados, acrescidos do jogo de texturas entre crocâncias e suculências.
O conjunto pede vinhos de uma certa opulência, bom corpo e carregados de fruta e sabor. Brancos ricos e envolventes, com e sem barrica e frescura ácida, tintos de ombros largos, repletos de fruta madura e suculenta, de taninos domados são o referencial. O espumante, algo inabitual, é sempre a “carta na manga” quando há hesitação sobre qual o vinho adequado.
Pardusco Private 2018 (Anselmo Mendes)
Incrível introdução ao Alvarelhão. A fruta é excepcional; especiarias e notas de floresta adicionam complexidade que rivaliza com a do prato. O sabor intenso não fica atrás da preparação. Acidez, fruta e persistência criam uma harmonização inesquecível.
Ameal Reserva 2020 (Quinta do Ameal/Quinta dos Murças)
Loureiro de grande dimensão e riqueza de sabor sem perder frescor. A fermentação nas várias madeiras dá-lhe largura e densidade para enfrentar o prato. Se não servir muito frio, as especiarias e a persistência demonstram a grandeza do vinho.
Lés a Lés Avesso 2022 ( Lés a Lés Wines-Wine Attitude)
Apesar de delicado, possui uma potência oculta. É do tipo que, se permitido evoluir no copo, alcança uma performance surpreendente e desafia o sabor do prato. É encorpado e persistente, indicando que suporta o confronto de sabores. É só não servir geladinho.
Carpaccio de Bacalhau
Essa é uma preparação que, pela sua naturalidade, obriga a grande qualidade da matéria-prima. Seja cru ou cozido e arrefecido, o bacalhau é cortado fininho, e sua guarnição pode seguir ao ritmo da imaginação: ervas aromáticas, presunto, croutons, queijos, azeitonas, tomates-cereja, azeite extravirgem, cítricos, pimentas...
A temperatura, a delicadeza e as variadas texturas derivadas dos ingredientes acrescentados pedem vinhos de igual perfil. Leves e delicados, mas frescos, de jovialidade frutada e descontraídos.
Coração Obra-Prima Branco (Abegoaria Group SA)
Loureiro, Trajadura e Arinto. A exuberância olfativa da frescura tropical e cítrica faz união intuitiva com o perfume do carpaccio. A leveza e a sofisticação do vinho ligam-se à temperatura, ao sabor das fatias e dos acompanhamentos.
Dócil Loureiro 2023 (Niepoort)
As notas cítricas e de flores cativam de imediato. Vivacidade e equilíbrio são uma força magnética, gerando harmonia em todas as suas dimensões. Delicadeza e requinte de mãos dadas. E não é tão simples como parece. Atenção que vicia!
Via Latina Rosé (Vercoope)
As tradicionais uvas Amaral, Borraçal, Espadeiro e Vinhão unem-se numa festa de sabor e aroma, trazendo uma deliciosa sensação de frescor ao encontro da delicadeza do prato. A ligeira “agulha” nos leva a sorrir e brincar alegremente com as texturas.
Bolinhos de Bacalhau e Pataniscas
Os bolinhos são uma massa feita de bacalhau desfiado, purê de batata, cebola, salsa e alho. A fritura aprisiona com a sua crosta o recheio de massa fofa. Já as pataniscas são compostas por bacalhau desfiado ou em lascas, frito em farinha de trigo e leite, podendo levar ovo e cebola. Na ligação com o vinho, a fritura e a suavidade do recheio das duas receitas são os pontos a considerar. Se a fritura for bem-feita, a crosta fica crocante e seca e pede crocância no vinho, transmitida pela acidez. A maciez da massa e o sabor delicado pedem vinhos de corpo médio a ligeiro, frutados, mais sobre a simplicidade e menos estruturados. Aqui cabem brancos, tintos, rosés jovens e espumantes ligeiros e frutados.
Terra de Felgueiras Rosé (Adega Cooperativa de Felgueiras)
Com base em Espadeiro e outras tintas, o encanto das frutas vermelhas e florais cria uma combinação aromática perfeita com petiscos. O paladar é um deleite, repleto de sabores frutados e textura aveludada. Tudo realçado por uma nota refrescante que faz o prazer dominar a cena.
Bustelo Arinto 2023 (Cas’Amaro)
Aroma cítrico, levemente floral e fruta de caroço criam um ambiente sensorial perfeito com o prato. São evidentes a acidez combinando com a crocância da fritura e a fruta com a maciez do recheio.
Muros Antigos Escolha 2023 (Anselmo Mendes)
Loureiro, Avesso e Alvarinho, um trio afinado em tons cítricos e maçã, apoiado em ligeiro tropical. A boa estrutura de boca, suportada pela fruta generosa e pelo frescor, tem um affair indisfarçável com o sabor e as texturas desses petiscos.
O Vinhos de Portugal 2024 é uma realização dos jornais O Globo, Valor Econômico e Público, em parceria com a ViniPortugal, com a participação do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto; apoio das Comissões de Vinho de Alentejo, Beira Interior, Dão, Lisboa, Península de Setúbal, Tejo, Vinhos Verdes e da Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal, Turismo de Portugal, Tap Air Portugal, AB Gotland Volvo e Shopping Leblon; água oficial Águas Prata, hotel oficial Fairmont Rio (RJ), local oficial Jockey Club Brasileiro (RJ), loja oficial Porto Divino, rádio oficial CBN e curadoria Out of Paper. A edição de São Paulo conta ainda com a Cidade de São Paulo como cidade anfitriã e SP Negócios como apoio institucional.