FOTOS: 40 corpos com sinais de tortura são encontrados na Síria; famílias fazem reconhecimento
No dia seguinte à queda do regime de Assad, rebeldes relataram ter encontrado os corpos próximos a Damasco. Cadáveres foram levados à capital para identificação
O grupo rebelde que tomou o poder na Síria revelou à AFP que encontrou cerca de 40 corpos com sinais de tortura em um necrotério de hospital próximo a Damasco na segunda-feira. Os cadáveres estavam dentro de sacos mortuários, identificados com números e, às vezes, nomes escritos. Nesta terça-feira, os corpos foram levados para um hospital da capital para serem identificados.
— Abri a porta do necrotério com minhas próprias mãos. O grupo levou os corpos para um hospital da capital para que as famílias pudessem identificá-los. Era uma visão horrível: cerca de 40 corpos estavam empilhados, mostrando sinais de tortura brutal — disse à AFP Mohammed al-Hajj, um combatente de facções rebeldes do país.
A AFP teve acesso a dezenas de fotos e vídeos que Hajj afirma ter registrado pessoalmente. As imagens mostram corpos com claros sinais de tortura: olhos e dentes arrancados, hematomas e manchas de sangue. O rebelde relatou que receberam a denúncia de um funcionário do hospital sobre os corpos que foram despejados. Alguns pareciam ter morrido recentemente.
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Um fundador da Associação de Detentos e Desaparecidos na Prisão de Sednaya disse à agência de notícias que os corpos provavelmente eram de detentos do complexo penitenciário, conhecido como "matadouro humano". Investigadores da ONU têm recolhido provas dos crimes cometidos na Síria.
— As evidências estão finalmente disponíveis — revelou Robert Petit, um dos diretores da organização, à AFP.
Rebeldes tomaram o poder no domingo, depondo o ex-presidente Bashar al-Assad, cuja família governou a Síria por mais de cinco décadas.
Enquanto civis sírios comemoravam em todo o país, muitos deram início a uma busca frenética por entes queridos que desapareceram à força durante o antigo governo. Multidões se dirigiram à prisão, símbolo de detenções arbitrárias, tortura e assassinato — e, sob o sol escaldante, enfrentaram quilômetros de engarrafamento para chegar ao local.
40 corpos com sinais de tortura são encontrados na Síria; famílias fazem buscas
Estabelecida no início dos anos 1980, numa pequena cidade a cerca de 30 km da capital, Sednaya foi usada pela família Assad para deter opositores do regime por décadas. Na prisão, estima-se que 13 mil pessoas tenham sido enforcadas entre 2011 e 2015, nos primeiros anos da guerra civil síria, segundo a Anistia Internacional.
Após a fuga de Assad para a Rússia no domingo, imagens de prisioneiros sendo libertados de Sednaya foram divulgadas, e as buscas por conhecidos começaram. Na segunda-feira, muitos decidiram agir por conta própria e invadiram a prisão, impulsionados por rumores de que milhares ainda estavam presos nos níveis mais profundos da instalação, numa área subterrânea conhecida como “seção vermelha”. Quando a CNN chegou ao local, multidões gritavam “Allahu Akbar” (Deus é grande), e rajadas de tiros de celebração ecoavam no ar.
— Estão há dias tentando chegar na seção vermelha da prisão — disse Maysoon Labut, que estava na prisão em busca de seus três irmãos e o genro, à rede americana. — Não há oxigênio porque a ventilação parou, e todos podem morrer. Pelo amor de Deus, nos ajude.