Tatiana Furtado
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Tatiana Furtado

Formada em jornalismo pela Uerj, trabalha no GLOBO desde 2004. Há 15 anos, atua no jornalismo esportivo, tendo participado da cobertura de três Copas do Mundo.

Por Tatiana Furtado — Rio de Janeiro

Pela primeira vez na história da Copa do Mundo feminina, não veremos os Estados Unidos nas semifinais. A partir de amanhã, Espanha x Suécia e Austrália x Inglaterra vão definir as finalistas que se encontrarão no próximo domingo. E desse confronto teremos uma inédita campeã mundial.

A queda precoce das americanas traz alguns indícios de um movimento nas peças do tabuleiro do futebol feminino em direção à Europa. As tetracampeãs mundiais não desaprenderam a jogar bola e continuam sua larga produção de talentos. Mas passam por um momento de transição geracional enquanto seleções do Velho Continente se consolidam como potências no cenário mundial.

O resultado dentro de campo também é reflexo do fortalecimento do mercado europeu. Há duas décadas, jogar futebol feminino profissionalmente significava ir para os Estados Unidos ou para o Extremo Oriente. As grandes craques da seleção daquela época fizeram sucesso em território americano ou por terras chinesas, japonesas e sul-coreanas. Marta fez carreira e se tornou ídolo na Suécia, um dos poucos países europeus que desenvolveram a modalidade internamente desde a primeira edição do Mundial e tem batido na trave em busca do título da Copa. Hoje, ela ainda é um dos grandes nomes da liga americana, que vai receber as zagueiras Lauren e Rafaelle e a meia-atacante Andressa Alves na próxima temporada.

Os números levantados pelo censo da Copa do Mundo feito pelo GLOBO dão a dimensão dessa migração. Duzentas jogadoras das 736 convocadas para o Mundial jogavam até a última temporada nos campeonatos nacionais dos três semifinalistas europeus: 107 na Inglaterra, 71 na Espanha e 22 na Suécia —27% do total. Contando toda a Europa, são 410 atletas, ou 55%. Da América do Norte (EUA, Canadá e México), são 93 jogadoras, ou 12,6%.

Há de se ponderar, claro, o aumento do número de seleções europeias com a expansão do Mundial para 32 equipes. Mesmo assim já é fato que o mercado global se transformou com o crescimento e a profissionalização, sobretudo na última década, do esporte em países como Inglaterra e Espanha. O dinheiro corre em diferentes direções, dando mais opções às jogadoras.

O peso dos campeonatos disputados na Europa também mudou. A Eurocopa e a Liga dos Campeões têm uma visibilidade muito maior atualmente. Não é à toa que os três últimos prêmios de melhor do mundo da Fifa foram dados às jogadoras europeias que atuam em times europeus (Alexia Putellas, duas vezes, e Lucy Bronze). Das 20 finalistas que concorreram ao último Bola de Ouro, apenas duas jogavam nos EUA: Alex Morgan (San Diego Wave) e Trinity Morgan (Washington Spirit).

O movimento fica mais claro quando exemplificado. A promissora atacante americana Mia Fishel, de 22 anos, foi contratada pelo Chelsea por cerca de 250 mil dólares para a próxima temporada, numa das maiores transações do futebol feminino. Ela atuava na liga mexicana. Outra futura estrela dos EUA também trocou de continente recentemente. Catarina Maccario, de 23 anos, estava no Lyon desde 2021 e também seguiu para o time inglês.

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