Dentre todas as expectativas e superlativos para a maior Copa do Mundo feminina de todos os tempos, havia três atos mais do que aguardados: as despedidas de Christine Sinclair, Marta e Megan Rapinoe. De uma tacada só, o principal torneio de futebol daria adeus a alguns dos maiores nomes da modalidade.
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Um bom roteirista reservaria um largo espaço para contar os capítulos finais das três personagens. Havia, inclusive, a possibilidade de alguns deles se cruzarem. Momento perfeito para o clímax.Mas o roteiro do Mundial da Austrália e Nova Zelândia não quis fazer justiça à história do futebol. Reservou apenas o drama a cada uma delas.
O primeiro episódio foi protagonizado pela canadense Sinclair, de 40 anos. Em sua sexta Copa do Mundo, ela poderia se tornar a primeira jogadora a marcar em seis Mundiais de forma consecutiva. Quis o destino, ou melhor, o roteirista que, logo de cara, ela perdesse um pênalti na estreia do Canadá contra a Nigéria. O empate complicou a vida da atual campeã olímpica, que foi eliminada ao perder para a Austrália por 4 a 0, na última rodada do Grupo B.
Ao deixar o gramado do Estádio de Melbourne, carregando alguns tufos de grama como lembrança, ela afirmou: “Estou deixando o campo pela última vez em uma Copa”. Mas ela deixou muito mais dentro dele, como o recorde de maior artilheira de todas as seleções, entre homens e mulheres, com mais de 190 gols.
O episódio dois teve drama brasileiro, com pitadas de decepção. Aos 37 anos, Marta já havia anunciado que esta seria sua derradeira Copa. Na melhor preparação do Brasil para o Mundial, a seis vezes melhor do mundo não poderia oferecer todo aquele talento que encantou o mundo aos 21 anos, no vice-campeonato de 2007. Mas tinha sua experiência e visão de jogo, outras qualidades que também a tornaram a maior artilheira das Copas, entre homens e mulheres, com 17 gols. O roteirista, no entanto, não quis que a camisa 10 encerrasse sua participação com mais bolas na rede e mais marcas aparentemente imbatíveis. E colocou um ferrolho jamaicano no caminho.
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Sua atuação pelas duas décadas, no entanto, será lembrada pela magia da melhor jogadora de todos os tempos.
De todos os episódios, o terceiro, certamente, foi o mais surpreendente. A estrela Megan Rapinoe, de 38 anos, anunciara meses antes que esta seria sua despedida das Copas e também a última temporada da carreira. Esperava-se, claro, um fim glorioso da melhor jogadora do Mundial de 2019. Ainda que não tão superiores quanto antes, as americanas chegaram como favoritas. Atuais bicampeãs mundiais consecutivas, e com um histórico invejável: jamais ficaram fora do pódio em oito edições.
As suecas, porém, quiseram reescrever a história americana. De uma forma dolorosa. Levaram o jogo para os pênaltis e viram o inimaginável acontecer: Rapinoe perdeu sua cobrança, e a penalidade da classificação entrou por um fio de cabelo. Restou à estrela rir da piada de mau gosto do roteiro.
O roteirista talvez tenha deixado algumas pistas de que esse Mundial olhará para frente. As portas abertas por Sinclair, Marta e Rapinoe agora podem ser escancaradas por Putellas, Lauren James e Miyazawa, a artilheira da Copa com cinco gols, que transformou a jovem seleção japonesa em favorita.