Tatiana Furtado
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Tatiana Furtado
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Tatiana Furtado

Formada em jornalismo pela Uerj, trabalha no GLOBO desde 2004. Há 15 anos, atua no jornalismo esportivo, tendo participado da cobertura de três Copas do Mundo.

Por Tatiana Furtado — Rio de Janeiro

Dentre todas as expectativas e superlativos para a maior Copa do Mundo feminina de todos os tempos, havia três atos mais do que aguardados: as despedidas de Christine Sinclair, Marta e Megan Rapinoe. De uma tacada só, o principal torneio de futebol daria adeus a alguns dos maiores nomes da modalidade.

Um bom roteirista reservaria um largo espaço para contar os capítulos finais das três personagens. Havia, inclusive, a possibilidade de alguns deles se cruzarem. Momento perfeito para o clímax.Mas o roteiro do Mundial da Austrália e Nova Zelândia não quis fazer justiça à história do futebol. Reservou apenas o drama a cada uma delas.

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O primeiro episódio foi protagonizado pela canadense Sinclair, de 40 anos. Em sua sexta Copa do Mundo, ela poderia se tornar a primeira jogadora a marcar em seis Mundiais de forma consecutiva. Quis o destino, ou melhor, o roteirista que, logo de cara, ela perdesse um pênalti na estreia do Canadá contra a Nigéria. O empate complicou a vida da atual campeã olímpica, que foi eliminada ao perder para a Austrália por 4 a 0, na última rodada do Grupo B.

Ao deixar o gramado do Estádio de Melbourne, carregando alguns tufos de grama como lembrança, ela afirmou: “Estou deixando o campo pela última vez em uma Copa”. Mas ela deixou muito mais dentro dele, como o recorde de maior artilheira de todas as seleções, entre homens e mulheres, com mais de 190 gols.

O episódio dois teve drama brasileiro, com pitadas de decepção. Aos 37 anos, Marta já havia anunciado que esta seria sua derradeira Copa. Na melhor preparação do Brasil para o Mundial, a seis vezes melhor do mundo não poderia oferecer todo aquele talento que encantou o mundo aos 21 anos, no vice-campeonato de 2007. Mas tinha sua experiência e visão de jogo, outras qualidades que também a tornaram a maior artilheira das Copas, entre homens e mulheres, com 17 gols. O roteirista, no entanto, não quis que a camisa 10 encerrasse sua participação com mais bolas na rede e mais marcas aparentemente imbatíveis. E colocou um ferrolho jamaicano no caminho.

Sua atuação pelas duas décadas, no entanto, será lembrada pela magia da melhor jogadora de todos os tempos.

De todos os episódios, o terceiro, certamente, foi o mais surpreendente. A estrela Megan Rapinoe, de 38 anos, anunciara meses antes que esta seria sua despedida das Copas e também a última temporada da carreira. Esperava-se, claro, um fim glorioso da melhor jogadora do Mundial de 2019. Ainda que não tão superiores quanto antes, as americanas chegaram como favoritas. Atuais bicampeãs mundiais consecutivas, e com um histórico invejável: jamais ficaram fora do pódio em oito edições.

As suecas, porém, quiseram reescrever a história americana. De uma forma dolorosa. Levaram o jogo para os pênaltis e viram o inimaginável acontecer: Rapinoe perdeu sua cobrança, e a penalidade da classificação entrou por um fio de cabelo. Restou à estrela rir da piada de mau gosto do roteiro.

O roteirista talvez tenha deixado algumas pistas de que esse Mundial olhará para frente. As portas abertas por Sinclair, Marta e Rapinoe agora podem ser escancaradas por Putellas, Lauren James e Miyazawa, a artilheira da Copa com cinco gols, que transformou a jovem seleção japonesa em favorita.

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