Tudo começou como o esperado na Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia. Recordes de público nas estreias dos dois países, jogos com ocupação dos estádios já superior ao Mundial da França e, sobretudo, o nível técnico das partidas. É visível a evolução do jogo em todos os aspectos, como tático e físico. Mas o inesperado também ronda os campos da Oceania. No caso, a seleção japonesa.
Talvez não tão surpreendente assim se o ciclo até aqui for bem esmiuçado. Pode ser que tenha passado fora do radar da imprensa e especialistas ocidentais. Mas, é fato que o Japão, campeão mundial em 2011, não se fez presente nas principais listas das grandes favoritas ao título do Mundial. As duas apresentações até aqui, no então, a credenciam para brigar por uma vaga na final do dia 20 de agosto, em Brisbane.
Pode-se achar tal afirmação precipitada, pois até agora as japonesas enfrentaram duas adversárias mais fracas internamente e com problemas internos, como Zâmbia (que foi ao Mundial sob a sombra das acusações de abuso sexual contra o treinador). Mas a atitude em campo e a qualidade do jogo independem de quem está do outro lado. E o Japão mostrou alta capacidade de explorar espaços na defesa, com um jogo de extrema velocidade, aberto pelas pontas e de troca intensa de passes no meio-campo. É verdade que não teve sua defesa muito ameaçada, mas a estrutura do time se apresenta forte para encarar desafios maiores.
O que pode pesar contra as japonesas é a inexperiência ao se deparar com times recheados de estrelas como Estados Unidos, Espanha e Alemanha, por exemplo. Principalmente contra esta última, que provou em sua estreia por que está na prateleira das favoritas. A média de idade da seleção japonesa é de 24,8 anos, a quarta seleção mais jovem da Copa, atrás apenas de Haiti, Zâmbia e Panamá, todas estreantes em Mundiais.
Mas é essa mesma juventude que pode explicar o bonito jogo japonês. A renovadíssima seleção do técnico Ikeda tem entre seus principais nomes jogadoras com menos de 25 anos que foram destaques em competições internacionais de base.
Nos últimos oito anos, as seleções de base feminina figuram entre as melhores nos mundiais das categorias. No sub-17, elas foram campeãs em 2014 e vice em 2016. Há nove anos, a atual camisa 10, Fuka Nagano, foi eleita a melhor jogadora da competição.
A equipe sub-20 subiu ao pódio nas três últimas edições: 2016 (terceiro lugar), 2018 (campeã) e 2022 (vice-campeã) — não teve campeonato em 2020 por causa da pandemia. Nomes como Endo, Fujino, Hamano, Ueki, Myasawae Hayashi, que hoje fazem parte do elenco principal, estiveram lá. O entrosamento visto em campo tem uma explicação clara.
A confirmação de qual prateleira o Japão poderá ser colocado será na próxima rodada contra a Espanha, que chegou ao Mundial com certo favoritismo. O jogo vai decidir o primeiro lugar do Grupo C, mas deve-se mesmo ficar de olho no futebol apresentado em campo para ter alguma definição sobre as japonesas.
E mais do que isso: um reencontro e um tira-teima dessas jovens que se enfrentaram na duas últimas decisões do Mundial Sub-20, com uma vitória para cada pelo mesmo placar (3 a 1).