Tatiana Furtado
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Tatiana Furtado

Formada em jornalismo pela Uerj, trabalha no GLOBO desde 2004. Há 15 anos, atua no jornalismo esportivo, tendo participado da cobertura de três Copas do Mundo.

Por Tatiana Furtado — Doha

Qual o legado que a Copa do Mundo deixará para o Catar? Uma visão mais favorável do planeta sobre o país árabe? Uma abertura cultural nos níveis de Dubai e Abu Dhabi? Há muitas questões, e as respostas virão com o tempo. Mas já é possível responder pelo menos uma delas. A pequena nação peninsular desperdiçou a chance de promover o futebol feminino no país e se mostrar antenada com a realidade.

Com bilhões de olhares voltados para o Catar no último mês — e alguns milhares ao longo dos últimos anos destrinchando cada movimento do país —, surpreende a falta de divulgação de projetos relacionados ao tema como mais uma pauta positiva.

Seria de se esperar que o mundo soubesse que, uma semana após a final entre Argentina e França, está previsto um torneio chamado Liga de Clubes Femininos do Catar, com a presença de seis agremiações tradicionais do país, como o Al-Ahly, Al-Rayyan, Al-Sadd e Al-Arabi — uma competição meio experimental. Este último vem sendo treinado pela ex-jogadora da seleção catari Afnan Afif, irmã de Akram Afif, que jogou o Mundial.

Também há a intenção de que todos os clubes da primeira divisão tenham um time feminino a partir do ano que vem. Mas, por enquanto, nada disso ganhou muita publicidade. Sequer são encontradas informações a respeito no site da Associação de Futebol do Catar ou dos clubes.

Há meninas praticando futebol como em quase toda parte do mundo. Há quadras privadas onde mulheres se reúnem discretamente para jogar a pelada da semana. Porém, nada consistente e duradouro. Não é de se admirar que a seleção feminina do Catar não jogue uma partida oficial desde 2014, quando participou do Campeonato Asiático (perdeu os três jogos e sofreu 19 gols). Nos últimos anos, algumas jogadoras se reuniram e participaram de amistosos e intercâmbios como o que ocorreu este ano nos Estados Unidos. Mas a seleção catari sequer está incluída no ranking da Fifa.

A promoção do futebol feminino e a criação de instalações especiais estavam incluídas entre as propostas de desenvolvimento do esporte enviadas à Fifa no processo das eleições para a sede do Mundial. A concretização da seleção feminina até veio antes de a entidade escolher o Catar, foram contratadas técnicas estrangeiras (uma portuguesa e uma alemã), mas parou por aí.

Óbvio que não se esperava igualdade de condições com o masculino — até nos Estados Unidos, que são os maiores campeões do mundo entre as mulheres, ainda se luta por isso. O futebol como um todo ainda está em desenvolvimento no país e, pelo apresentado nos estádios cataris, a anos-luz de virar uma potência mundial. Mas há um projeto, uma academia criada para desenvolver talentos no esporte. No entanto, não há um braço feminino.

Até agora, o que se sabe é que o Estádio Cidade da Educação será destinado ao futebol feminino após a Copa, mas sem grandes detalhes. Um mês antes do Mundial, o Comitê dos Esportes Femininos do Catar inaugurou na sede um mural pintado por mulheres para mostrar a participação da comunidade no megaevento. Não havia menção a atleta catari.

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