Rodrigo Capelo
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GERADO EM: 08/12/2024 - 18:59

Crise política intensa ameaça governabilidade do Flamengo

O Flamengo enfrenta uma crise política intensa, com eleições marcadas por ataques pessoais e falta de consenso. A disputa pela presidência reflete uma tendência de fragmentação e hostilidade, semelhante ao que ocorreu no Vasco. A deterioração das relações pode impactar a governabilidade do clube, ressaltando a importância da união e estabilidade para enfrentar desafios futuros, como a construção de um estádio e a busca por hegemonia esportiva. A história do Vasco serve de alerta para os perigos da divisão interna prolongada.

O Flamengo escolhe hoje quem ocupará sua presidência de 2025 a 2027: Rodrigo Dunshee, Maurício Gomes de Mattos ou Luiz Eduardo Baptista. Das escolhas que têm sido feitas na eleição, outra tem ocorrido implicitamente, mais danosa para o futuro da instituição. A Gávea passa por uma espécie de vascainização de sua política. Um processo que troca a pacificação pelo ataque pessoal, a democracia pela contestação. A herança do euriquismo.

O último debate entre candidatos ocorreu dias atrás, na redação do GLOBO, onde presenciei mais trocas de agressões do que ideias. Bap quis saber como Dunshee financia sua campanha eleitoral, em tom acusatório e mal explicado. Dunshee desdenhou das pessoas que compõem o quadro de Bap — Rodrigo Tostes, Cláudio Pracownik, entre outros —, insinuando que elas tirariam vantagem pessoal do Flamengo em projetos que não chegaram a vingar.

No mesmo dia, o atual presidente, Rodolfo Landim, obteve liminar na Justiça para contrariar decisão da Assembleia Geral a respeito da votação. O órgão exigia que os associados apresentassem documento de identificação e carteirinha de sócio para participar do pleito. O dirigente foi contra e conseguiu, por via judicial, garantir que um documento só já baste. Quem está certo, me importa pouco. O ponto é: o Flamengo não conseguiu se resolver “sozinho”.

A deterioração das relações pessoais e institucionais não é de agora, nem se limita a esses dois ou três exemplos. São meses de tensão nos bastidores, termo que se aplica ao dia a dia do clube social na Gávea, às discussões em rodas rubro-negras e nas relações com terceiros, como a imprensa, cuja missão é se manter e parecer isenta. Em pauta, o que Bap está dizendo, como Landim está agindo e reagindo, quais pessoas têm suas reputações feridas no caminho.

Na verdade, essa corrosão tampouco começou há meses. Se em 2013 o Flamengo demonstrou que a renovação de seu quadro o levou para um novo cenário político, com a chegada de novos sócios, novos candidatos, e um grupo de pessoas que o comandou até a sua reestruturação, as eleições seguintes foram pouco a pouco criando cisões e perseguições. Landim e Bap, que hoje se digladiam, em 2018 juntos atacavam e desmereciam Eduardo Bandeira de Mello.

Quem contribui para esse estado de guerrilha se esquece das consequências. Primeiro, que essas mesmas pessoas precisarão conviver no dia seguinte à eleição. Seja o presidente Dunshee, Maurício ou Bap ao fim de segunda-feira, os dois derrotados ainda serão sócios e figuras influentes na terça. Eles e seus respectivos grupos. Segundo, que a excessiva fragmentação da política interna de um clube só contribui para que ele se torne ingovernável.

O Vasco não chegou ao ponto em que está — destruição financeira, administrativa e política — de uma noite para outra. Foram necessárias duas décadas de rachas, acusações e tramoias, que afastaram pessoas sérias do ambiente. Lá, o torcedor se acostumou a eleições que começam num dia e só terminam semanas depois, entre liminares e intervenções judiciais.

O Flamengo ainda não alcançou tal estado, mas é melhor não subestimar o risco. A corrosão das bases democráticas e dos relacionamentos entre pessoas é meio caminho para dar errado, ainda mais para um clube que se propõe a desafios tão grandes, quanto construir um estádio, missão inevitavelmente cara e complexa, e instaurar uma hegemonia esportiva no país.

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