Rodrigo Capelo
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GERADO EM: 15/12/2024 - 22:17

"Estrelas do Futebol: Estratégia Blockbuster versus Cauda Longa"

A estratégia blockbuster na construção de elencos de futebol é inspirada no sucesso de grandes produções da Disney, priorizando investimentos em craques para garantir grandes resultados, apesar do risco. A teoria contrasta com a cauda longa de produtos de baixa procura. No futebol, a escolha entre investir em poucos craques caros ou em mais atletas desconhecidos impacta a performance e o engajamento da torcida. Exemplos do Real Madrid e Boca Juniors fundamentam essa abordagem, destacando a importância das superestrelas no sucesso esportivo.

Chegada a janela de transferências do futebol, considere a hipótese de o diretor do teu time não se inspirar nas práticas de um clube europeu, nem de uma franquia de basquete da NBA, mas na Walt Disney Studios. Correto, o estúdio de cinema americano. É lá que Anita Elberse, professora da Harvard Business School, encontrou base para o que chamou de estratégia blockbuster. Teoria essa que tem suas aplicações na construção de um elenco no futebol.

A estratégia tem como um de seus executivos proeminentes Alan Horn, que trabalhou na cúpula da Warner Bros e depois dirigiu a Disney. Em síntese, ele decidiu que o estúdio deveria concentrar seus investimentos em poucos e grandiosos filmes todo ano, com orçamentos zilionários e expectativa de bilheterias estrondosas. Por mais que haja risco nessa decisão, a ideia é que a outra opção, da austeridade, é ainda mais arriscada, por ser pouco lucrativa.

Claro que a Disney também tem filmes de médio e baixo orçamentos no catálogo, por uma série de fatores. Existe a necessidade de testar e formar diretores, atores e todo tipo de colaboradores, antes de jogá-los nas grandes produções; há nichos que podem ser lucrativos; e hoje em dia o serviço de streaming requer certa quantidade de conteúdo para atender aos clientes. Ainda assim, são as grandes apostas que captam a atenção — e, logo, o faturamento.

Para o mundo dos negócios, a estratégia blockbuster é a antítese da teoria da cauda longa. Esta foi criada em meados dos anos 2000 pelo escritor Chris Anderson, que propôs aos executivos se concentrarem em produtos e serviços de baixa procura. A internet, o barateamento do estoque e da logística e a intensificação dos nichos fariam com que esses itens, sem apelo, tivessem vendas relevantes ao longo do tempo. O que Anita mostra, nos anos 2010, no entanto, é que na indústria do entretenimento e dos esportes, os hits pegam quase toda a recompensa.

Como é que essa teoria toda se aplica ao futebol? Coloque-se no lugar do diretor técnico. Você tem um elenco para montar. É melhor contratar alguns poucos craques, que consumirão grande parte do orçamento para a temporada, ou apostar em uma quantidade maior de atletas desconhecidos, para que a margem de erro seja um pouco mais folgada? A escolha da estratégia leva em conta a performance, óbvio, e também a capacidade de engajar a torcida.

Esse exercício não é invenção minha, aliás, mas da própria Anita, que em seu livro busca referências no Real Madrid e no Boca Juniors para fundamentar a estratégia blockbuster. O clube espanhol mudou seu perfil de contratação, ao abandonar os galáticos — Figo, Zidane, Raul, Ronaldo e Beckham — e partir para jogadores mais jovens, coroados com craques como Cristiano Ronaldo. Já o argentino mantém seu status de exportador, pois precisa da receita das transferências, mas tem histórico de grandes nomes, inclusive Maradona.

A consequência é que, ao priorizar poucos craques, eles ficam caros. E mais difíceis de “controlar”. Mas é improvável que se sobreviva sem as superestrelas, segundo a professora de Harvard. Trazida ao Brasil pela Sisu Venture Partners para um masterclass, a holandesa descadeirou uma plateia com dezenas de executivos do nosso esporte, com estudos de caso sobre LeBron James e videogames, Mr. Beast e sua marca de chocolates, Pharrell Williams e os shows com a LiveNation. E, claro, a Disney. O esporte tem muito o que aprender com o entretenimento.

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