Informações da coluna
Marcelo Barreto
Bom descanso a quem não para
O fim do ano, para os atletas, não é só tempo de festas, mas também de exaustão e até de cirurgias
RESUMO
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GERADO EM: 14/12/2024 - 19:24
"Fadiga dos Atletas: Saúde em Primeiro Lugar"
O texto aborda o cansaço dos atletas no final do ano, com destaque para a exaustão no futebol e vôlei. O calendário esportivo intenso gera lesões e cirurgias, levantando questões sobre a necessidade de priorizar a saúde dos esportistas. O texto ressalta a importância do descanso para a recuperação física e mental dos atletas diante de um calendário desgastante.
Quando menos se espera, chega o Natal. Não me lembro de ter lido essa manchete, numa edição antiga do “Jornal do Brasil”. Mas sempre ouvi menções a ela, durante minha carreira de jornalista, como um exemplo do que não se deve fazer para tratar do óbvio. O óbvio faz parte do dia a dia do jornalista. O Natal chega, e com ele acabam as passagens de ônibus para Juiz de Fora e a Região dos Lagos — isso eu já vi e ouvi meus colegas dizerem muitas vezes, em boletins de televisão, de pé diante de um guichê na Rodoviária Novo Rio. Enfim. A velha frase me ocorreu na última quarta-feira, quando me preparava para apresentar o “Hello, LA” depois do Prêmio Brasil Olímpico. No mesmo dia, o Botafogo tinha sido eliminado da Copa Intercontinental pelo Pachuca, e o ano esportivo brasileiro estava oficialmente encerrado. Dali em diante, era despedida do Adriano, Jogo das Estrelas do Zico e feliz 2025.
E nem vai dar muito tempo de sentir saudade. No futebol, o ano que vem vai começar cedo, com os Estaduais um pouco espremidos para que o novo Mundial da Fifa possa caber no calendário. O Intercontinental, se voltar a ser realizado, tem grandes chances de pegar o Campeonato Brasileiro em andamento (a última rodada está marcada para 21 de dezembro). Não dá para saber ainda o que acontecerá a um clube que repetir a trajetória do Botafogo em 2024 – campeão da Libertadores, lutando pelo título nacional até a última rodada. Em vez de escalar um time misto por motivos de cansaço extremo, como fez Artur Jorge, pode ser preciso simplesmente abrir mão de uma das competições.
Não é uma característica exclusiva do futebol. Em 2023, José Roberto Guimarães, técnico da seleção brasileira feminina de vôlei, pediu que a federação internacional de seu esporte pusesse a mão na consciência para pensar no sacrifício que estava impondo a atletas, depois de perder Lara e Ana Cristina, por lesões graves, nas primeiras rodadas da Liga das Nações. Zé Roberto foi agraciado pelo Comitê Olímpico do Brasil com o prêmio Adhemar Ferreira da Silva, dedicado a esportistas que contribuem com o desenvolvimento de sua modalidade ao longo da carreira. E uma de suas principais características — muito antes de virar moda nos discursos dos coaches — sempre foi a resiliência. Depois do ouro, da prata, do bronze e até da eliminação em casa nas quartas de final, ele sempre voltou para mais um ciclo olímpico. Mas a cada temporada está mais difícil manter o nível físico e mental de suas comandadas, oprimidas por um calendário brutal.
Já não há mais nada que se possa fazer quanto ao número de jogos que serão disputados em 2025. O já citado Botafogo começa a temporada com três datas a mais no calendário, dedicadas à Recopa Sul-Americana e à Supercopa do Brasil. Pode-se argumentar que é o preço do sucesso. Mas aqui ele é mais alto, como sabem os jogadores que se transferem de países como a Argentina, onde disputam menos de 50 partidas por temporada, para fazer mais de 70 pelos clubes brasileiros. Não foram poucos os que chegaram exaustos ao fim do ano, e alguns só esperaram a bola parar de rolar para enfrentar uma mesa de cirurgia.
Não me incomoda ter de buscar assuntos para tratar nesta coluna e no “Redação SporTV” enquanto a bola não rola. É um preço pequeno a pagar pela recuperação de quem nos dá o que falar o ano todo. Bom descanso, boleirada.