Gustavo Poli
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Por — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 15/11/2024 - 17:37

Gabigol: Ídolo do Flamengo eterno

Gabriel Barbosa Almeida, o Gabigol, é celebrado como um ídolo do Flamengo, personificando a alegria e os sonhos dos torcedores. Sua trajetória de superação e sucesso nos gramados o tornou um símbolo do clube. Mesmo após sua saída conturbada, a ligação emocional com o time e os fãs permanece forte, refletindo a paixão e a devoção no futebol.

Não há rubro-negro que não pressinta a iluminação quando se lembra daquele segundo. Gabriel Barbosa Almeida, camisa 9 às costas, é lançado entre dois zagueiros do River Plate. Vai trombar com Pinola, que errará a cabeçada. A bola quicará quase na marca do pênalti, e o tempo irá parar. Ou hesitar. Ali, naquele pequeno mínimo singelo instante, a vida de repente fará sentido. Tudo terá valido a pena. O mundo terá o silêncio que precede o estrondo.

Estamos em 23 de novembro de 2019 — e aquela camisa 9 está reescrevendo história. A sua história e a história de 40 milhões de almas que a acompanham. Aquela imagem está sendo tatuada em vermelho e preto em milhões de retinas. Em milhões de olhos que enxergam incrédulos a bola estufando as redes argentinas... e de repente começam a se inundar de lágrimas alegres, profundas, intermináveis.

Estamos em Lima — e de repente fora do espaço e do tempo — e um grito gutural deixa a boca de Gabriel enquanto ele corre girando a camisa em volta da cabeça. Esse grito é o Flamengo — é Gabriel sendo a multidão — sendo o Flamengo num berro que transcende o continente.

Esse é o significado de Gabigol, o menino que subia a favela nos ombros do pai e sonhava ser jogador. O menino que ali virava homem — e um símbolo de algo imensurável para milhões de brasileiros.

Entre o homem e o ídolo há uma distância que não queremos percorrer. Porque o ídolo é nosso amor íntimo, um parente próximo. Nos abraçamos ao ídolo. O ídolo nos move e emociona. O ídolo não tem os defeitos do homem. Entre o homem e o ídolo existe a realidade — mas no futebol a realidade comezinha importa menos. Para o torcedor, a realidade acontece entre quatro linhas.

Gabriel Barbosa penou para virar jogador. Seu pai levou o pequeno Gabi pelas conduções da vida muito antes dos penteados variáveis e do corpo tatuado. Ele treinou no São Paulo — depois foi para o Santos, onde, muito jovem, virou Gabigol. Gabriel em forma de gol.

No Flamengo, é quase singelo dizer que Gabriel transcendeu. Virou cartaz, bonequinho, tatuagem. Ganhou tudo e mais um pouco. Mais do que ganhar se transformou em sinônimo de tudo aquilo que se sente Flamengo. Debochado, irônico, arrogante, brincalhão, popular. Gabigol é mais que um apelido — parece um destino. Para todo torcedor do Flamengo desta geração... ele representa a extrema, imensurável, incapsulável alegria.

Ele personifica o sonho sonhado — e depois vivido. Ele chutou aquelas bolas para dentro. Ele destruiu o Grêmio em 2019, o River na final, o Furacão na outra. Quantas vezes teve gol do Gabigol quando importava? Quantas vezes iria ter gol do Gabigol?

Todas as histórias de amor terminam mal — já dizia Caio Fernando Abreu. As pessoas jurídicas Gabigol e o Flamengo romperam num divórcio litigioso. Não é o primeiro ídolo que deixa o clube pela porta lateral. Zizinho saiu assim. Zico foi vendido. O Flamengo é maior que qualquer um — mas claro que dói.

Se há algum consolo para a criança que hoje se sente órfã.. é que tudo passa. Um dia, quando o futebol baixar, Gabigol voltará. Será homenageado, abraçado e acalentado. Tudo passa — menos aquelas coisas que ficam. Gabigol já joga e jogará para sempre no Flamengo eterno — o escrete onírico em que os torcedores vivem, sobrevivem e acima de tudo revivem. Que rubro-negro não mora naquele 23 de novembro... vestindo a camisa 9 e chutando aquela bola? Todos, menos alguns.

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