Análise: vítima de calendário e escolhas ruins, Botafogo encerra temporada histórica com eliminação precoce
Derrota por 3 a 0 para o Pachuca encerrou sonho de jogo contra Real Madrid, em noite de tempestade perfeita em DOha
Foi antes do esperado, mas a temporada do Botafogo foi encerrada hoje. Em Doha, na estreia do alvinegro na Copa Intercontinental, o time acabou derrotado pelo mexicano Pachuca por 3 a 0 e viu o objetivo de enfrentar o Real Madrid na final se esvair tão rápido quanto a estadia no Catar. Em que pese os numerosos erros de estratégia e condução da partida, o campeão da Libertadores e do Brasileirão, nas últimas duas semanas, também foi “vítima de seu próprio sucesso”, com um desgaste elevado por conta do pesado calendário.
Na semifinal de sábado, o Pachuca enfrenta o Al Ahly, do Egito. O vencedor decide o título contra o Real Madrid, no próximo dia 18.
Artur Jorge precisou escalar uma equipe alternativa, fosse por lesões ou jogadores preservados. O Botafogo chegou ao Oriente Médio apenas na madrugada de terça-feira, o que custou muito em relação à preparação e a adaptação às condições do local do jogo. Este nível de enfrentamento — por mais que o Pachuca viva má fase, é o atual campeão da América do Norte e teve um mês livre — pediu um roteiro muito específico, que não foi possível executar, já que, no domingo passado, conquistou o título brasileiro no Nilton Santos.
O zagueiro Alexander Barboza comentou sobre o desgaste e até mesmo do avião que levou o Botafogo para Doha:
— Não há corpo que aguente. Foram muitos jogos em sequência. A viagem foi longa, mais de 15 horas. O avião não era o melhor, era um avião fraco. E isso pesou. Tentamos jogar, tivemos situações de gol, mas não deu certo.
Sem muito entrosamento, Allan e Eduardo, titulares no meio-campo, não se encontraram. O ataque ficou muito espaçado, e a equipe pagou pela demora de Artur Jorge na hora de fazer mexidas no segundo tempo, justamente quando os mexicanos fizeram seus três gols, também contando com a ajuda de diversas falhas individuais do alvinegro.
Ainda na primeira etapa, o Pachuca já se mostrava mais preciso em suas finalizações, mesmo que o Botafogo tivesse para si o controle de bola. Porém, errava muito em domínios bobos e na hora de chutar a gol. Na frente, Luiz Henrique recebeu marcação dobrada e o lado esquerdo pouco funcionava.
O desequilíbrio mostrava que Artur Jorge precisaria voltar do intervalo com titulares como Marlon Freitas, Savarino ou Thiago Almada, mas optou por manter a formação, e o primeiro golpe veio aos cinco minutos. Idrissi deixou Adryelson e Alexander Barboza no chão e não perdoou diante de John.
Esta foi a receita fatal para uma equipe que sofre quando está em desvantagem e fechou a temporada com apenas duas vitórias de virada — Sampaio Corrêa, no Carioca, e Bragantino, no Brasileiro. O segundo gol foi fruto de pane geral, quando Almada, que entrou no decorrer do jogo, entregou na saída de bola, Deossa recebeu de Pedroza e contou falha de John para ampliar.
O que já não funcionava se transformou em um grande acúmulo de chegadas sem perigo do Botafogo, com jogadores cansados e desgastados mentalmente, errando até mesmo na hora que chutes de primeira eram necessários. Rondón deu números finais ao confronto.
O placar é impactante, e se trata da maior derrota de um time brasileiro para um não europeu em um torneio mundial. Ao mesmo tempo, ficar difícil considerar uma grande decepção após a temporada de maior sucesso na história do clube.
— O resultado causa desilusão, derruba nossa expectativa, mas compete a mim fazer jus àquele que foi o ano de 2024. Foram 75 longos jogos ao longo desta temporada. Tínhamos outras expectativas (para o Intercontinental), mas não fomos mais fortes que o adversário — disse Artur Jorge: — Hoje, era muito difícil. Jogamos contra nós próprios, era difícil ter nossa melhor versão, todo o elenco nas melhores condições.