Informações da coluna
Carlos Eduardo Mansur
Estádios de futebol no Brasil precisam de 'setor família', com torcedores sentados e livres de banho de cerveja
País evoluiu nos últimos anos no que diz respeito à presença nas arenas. Próximo passo é perceber que é possível respeitar as mudanças culturais e ser inclusivo
RESUMO
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GERADO EM: 16/12/2024 - 18:18
Mudanças nos Estádios e Rumores de Contratações no Futebol Brasileiro
Estádios de futebol no Brasil buscam incluir um 'setor família' com assentos e sem banho de cerveja. Há mudanças culturais, mas idosos e crianças sofrem com a falta de conforto. Clubes evoluíram, mas precisam ser mais inclusivos. Vasco surpreende com possível contratação de Renato Gaúcho e Flamengo pode ter nova direção com José Boto. O planejamento de equipes como Fluminense e Botafogo é crucial em um futebol competitivo.
Torcedor do Fluminense, Rafael Assunção relatou em sua conta no Twitter uma cena revoltante, mas que se tornou corriqueira nos estádios de futebol. Pouco antes de o tricolor entrar em campo para o empate com o Criciúma, há cerca de um mês, jovens se posicionaram imediatamente à frente de um senhor com presumíveis 80 anos de idade, na arquibancada sul do Maracanã. Como virou hábito país afora, aquele grupo de torcedores, assim como quase todos os presentes no estádio, viram todo o jogo de pé. A cada pedido para que sentassem e permitissem ao idoso enxergar o campo, respondiam com ofensas.
O futebol é um bem cultural do Brasil, e, como tal, devemos aceitar que haja, ao longo do tempo, mudanças na forma de torcer, nos hábitos dos frequentadores de estádios. Ainda que eles representem um paradoxo. É curioso como nos tempos da arquibancada de cimento, até o fim dos anos 1990, via-se futebol sentado, salvo nos lances de perigo de gol. Hoje, com arenas modernas, assentos por quase todos os setores e ingressos mais caros, virou moda passar 90 minutos de pé. Em tese, não há problema, se é assim que as pessoas decidiram torcer. Mas é preciso pensar num estádio mais inclusivo. O que inclui refletir sobre outro hábito moderno: ninguém é obrigado a tomar um banho de cerveja na hora do gol de seu time, simplesmente porque, em algum momento, um grupo de pessoas decidiu que era boa ideia atirar copos para o alto como uma estranha forma de celebração. Além de desagradável, é perigoso. Crianças já foram atingidas por copos cheios, pesados.
Já é o momento de os clubes zelarem, em especial, por dois grupos de pessoas que viram sua jornada em estádios se tornar um teste físico, um exercício que leva à exaustão e, muitas vezes, à frustração: os idosos, que tantos anos de vida já dedicaram aos clubes; e as crianças, os torcedores do futuro que estão vivendo suas primeiras experiências no futebol. Muitas delas não levam para casa boas memórias. Não é aceitável que não haja uma alternativa. Ao longo do Campeonato Brasileiro, não foram raros os casos de crianças chorando porque, após sonharem com sua primeira vez no Maracanã, descobriam que simplesmente não eram capazes de enxergar o gramado: dependendo do tamanho do marmanjo que se colocasse à frente delas, não viam o campo mesmo se ficassem de pé na cadeira. Outras se cansavam daquele exercício antes mesmo do intervalo. Não é raro ver famílias indo embora com o jogo em andamento.
Já que se instalou o hábito de assistir a jogos de pé, já que decidiram que todo cidadão presente num campo de futebol deve concordar com um banho de diversos líquidos atirados a cada gol, parece ter chegado a hora de os clubes mostrarem que idosos e crianças são bem-vindos em seus eventos. A solução mais lógica parece ser delimitar um setor, por menor que seja, com hábitos um pouco mais acolhedores. Mundo afora, há diversas experiências bem sucedidas do chamado “setor família”. E, de preferência, sem transformar o direito de ver um jogo sentado e sem tomar banho de cerveja num luxo que resulte em ingressos com preços exorbitantes.
O Brasil evoluiu demais nos últimos anos no que diz respeito à presença em estádios. As duas últimas edições tiveram as duas maiores médias de público da história do Campeonato Brasileiro, o que tem a ver com planos de sócio-torcedor e com as novas arenas, espaços mais atraentes e confortáveis para as famílias. O próximo passo é perceber que é possível respeitar os novos hábitos, as mudanças culturais, e ser inclusivo: dedicar um espaço a quem prefira — ou precise — sentar e que não considere normal ser alvejado por cerveja a cada gol.
BALANÇO PARA FLU E BOTA
Num futebol que impõe ao campeão da Libertadores o risco de rebaixamento no ano seguinte, qualquer deslize de planejamento é duramente castigado. A coletiva de Mario Bittencourt, ontem, reconheceu problemas na montagem do elenco no início do ano, mas também tocou no calendário, cruel com o Fluminense após o Mundial de 2023. O desgaste que o Botafogo sofreu na reta final de 2024 vitimou o tricolor na largada do ano.
SURPRESA NO VASCO
A cadeira de presidente impõe a necessidade de tomar decisões e, por vezes, rever conceitos. É de certa forma surpreendente que o Vasco esteja próximo de escolher Renato Gaúcho para comandar o time. Ao longo do período em que atuou como comentarista, Pedrinho pareceu crítico do estilo do treinador. Se vier, Renato trará a capacidade de montar atraentes modelos ofensivos, com alguns defeitos estruturais sem bola.
O DIRETOR DO FLAMENGO
Caso se confirme a contratação do português José Boto como novo diretor esportivo, o Flamengo deverá experimentar uma ruptura com práticas dos últimos anos. A busca no exterior é natural, já que o Brasil não formou esse tipo de profissional. Por outro lado, Boto revelou em entrevistas que pretende ser o responsável por toda a política esportiva do futebol, sem interferência de dirigentes voluntários. Será uma quebra de paradigma.