Informações da coluna
Carlos Eduardo Mansur
Como o Botafogo passou de um clube desenganado a campeão da Libertadores
Um dos fatores pode soar como demérito, mas não é: não faltou dinheiro. Mas não foi apenas o investimento financeiro
RESUMO
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GERADO EM: 02/12/2024 - 15:12
Botafogo vence Libertadores; Fluminense e Flamengo em dificuldades no Brasileirão
O Botafogo surpreendeu ao conquistar a Libertadores. Investimento estratégico, equipe jovem e treinadores competentes foram fundamentais. A vitória emocionou a torcida e marcou a redenção do clube. Enquanto isso, Fluminense e Flamengo enfrentam desafios em suas campanhas no Brasileirão.
Campeões costumam ditar tendências, ou ao menos têm seus métodos observados na tentativa de entender que práticas conduziram ao sucesso. Então, como é tempo de Botafogo, cabe analisar o percurso que permitiu ao alvinegro, tão rapidamente, passar de um clube desenganado à conquista da Libertadores — com o Brasileiro ao alcance das mãos.
Um dos fatores pode soar como demérito, mas não é: não faltou dinheiro. Primeiro porque não existe, no futebol de hoje, um grande campeão sem um enorme investimento. É quase regra que os líderes nas tabelas de classificação sejam também os maiores gastadores. E como o futebol brasileiro não tem qualquer norma que limite quanto dinheiro um dono pode colocar num time, o Botafogo não fez nada fora da regra.
Mas não é só dinheiro. É como usá-lo. O futebol fabricou fartos exemplos de times caros e ruins. Quando John Textor priorizou a construção de um time de analistas antes de um time de futebol, o melhor dos frutos pode ter sido colhido num 2024 em que nove dos 11 titulares foram contratados nesta temporada, todos com idades entre 23 e 31 anos, com perfis físicos estudados e características complementares. Parece uma engrenagem com funcionamento preciso, que naturalmente será testada com o tempo e os novos desafios.
E, novamente, aqui entra a questão econômica. Basta analisar as janelas alvinegras desde a criação da SAF para notar que, conforme cresceu o investimento, o patamar dos contratados, a margem de erro diminuiu. É quase uma lei do futebol. Para o futuro, o desafio do Botafogo é a sustentabilidade. Premiações por conquistas à parte, o clube não tem tanta facilidade de crescer em suas receitas. E como por melhor que se trabalhe não há garantias de que a bola vá entrar sempre, em algum momento será preciso evitar que o dono siga acumulando perdas — em 2022 e 2023 elas superaram R$ 230 milhões.
No campo, em muito pouco tempo a SAF do Botafogo encontrou dois treinadores de trabalhos notáveis. Luís Castro construiu o time que quase antecipou a glória em um ano. E Artur Jorge se mostra outro achado. O terceiro treinador português a ganhar a Libertadores nas últimas seis edições destacou-se por dois aspectos: seu time rápido, móvel, agressivo, foi dono do melhor sistema ofensivo do continente neste 2024; sua capacidade estratégica e de adaptação lhe permitiu ganhar a Libertadores numa final que pediu algo muito diferente do que o Botafogo fez em boa parte de sua caminhada.
Finais como a de sábado acontecem várias vezes na cabeça dos treinadores antes de a partida, de fato, ser jogada. Mil hipóteses, problemas e soluções são formulados. Mas é difícil imaginar que uma expulsão no primeiro minuto fosse algo cogitado. Ali, Artur Jorge interveio fortemente no jogo, por mais que a ausência de uma substituição indique o contrário. Marlon Freitas na linha de defesa, Luiz Henrique auxiliando o lateral Vitinho e nenhum homem do quarteto ofensivo retirado do jogo. Como o Atlético-MG não construía pelo meio, não era preciso outro volante, mas sim defender a área.
Claro que o Atlético-MG teve chances no segundo tempo, era impensável passar uma decisão inteira com dez homens sem sofrer em algum momento. Mas, nas circunstâncias, o Botafogo sofreu pouco. O time que pressiona, que agride, soube proteger a área com ordem e disciplina. No segundo tempo, Artur reagiu bem às mudanças de Milito, mais adiante renovou o fôlego dos atacantes e viu um deles, Júnior Santos, fazer o gol definitivo.
O Botafogo campeão da Libertadores deixa como marca o futebol bem jogado, o jogo ofensivo mais admirável que se viu no ano, mas acima de tudo um daqueles casos em que toda a engrenagem funcionou à perfeição.
LIBERTADOS
Das imagens mais bonitas da invasão alvinegra a Buenos Aires, eram os cartazes com rostos de botafoguenses que partiram antes de ver a conquista da América. O maior deslocamento de torcida da história do Botafogo era, também, a redenção de uma gente machucada, calejada pelas desilusões. As reações de grito e choro, com pessoas indo ao chão no gol de Júnior Santos, são um acerto de contas da história com o torcedor do Botafogo.
PRECIOSO
A combinação entre Ganso e Arias garantiram o empate, mas a capacidade de competir em Curitiba teve a ver com a volta do Fluminense a uma formação de que devolve vigor ao time. O ponto diante do Athletico foi precioso, mas há um trabalho incômodo a fazer. Na quinta-feira, contra o Cuiabá, o time terá que administrar a ansiedade e a tensão de 90 minutos que vão colocar muita coisa em jogo para o futuro do clube.
FUTURO
Cada vitória do Flamengo nesta reta final de Brasileiro tem um impacto pequeno na tabela. Mas soa como uma renovação de esperanças simbolizada em Filipe Luís. No Maracanã, o time fez um ótimo primeiro tempo contra um dos rivais que melhor futebol jogava na fase atual do campeonato, e não perdia havia 16 partidas. Os desfalques fazem o rubro-negro ser um time diferente, mais vertical. Mas a competitividade tem sido a marca.