Ricardo Henriques
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GERADO EM: 07/10/2024 - 04:01

"Expansão do Ensino Profissionalizante no Ensino Médio Estadual: Chave para Inserção Qualificada no Mercado de Trabalho"

A importância da expansão do ensino profissionalizante nas redes estaduais do ensino médio é destacada. A baixa transição dos alunos do ensino médio para o superior preocupa. O acesso à educação profissional pode aumentar as chances de ingresso na universidade, mas é necessário expandir com qualidade para garantir uma inserção qualificada no mercado de trabalho.

O Censo da Educação Superior, divulgado na quinta-feira passada, mostra que um em cada cinco jovens entre 18 e 24 anos não estuda e não concluiu o ensino médio. Além disso, apenas 27% dos alunos que concluíram o ensino médio em 2022 ingressam diretamente no superior no ano seguinte, percentual que preocupa por ter se mantido estável nos últimos dez anos.

Quando analisados somente os números da rede estadual – que concentra 84% das matrículas no ensino médio – esse percentual cai para 21%, sendo bastante inferior ao das escolas particulares (59%) e federais (58%). Essas diferenças, infelizmente, não surpreendem, considerando que a rede privada concentra alunos de maior nível socioeconômico e a federal atende também um público restrito (apenas 3% das matrículas totais no médio).

Mas há um dado menos conhecido, e que merece reflexão: alunos que fizeram o ensino médio articulado com a educação profissional têm também um percentual muito maior de ingresso no superior (44%) do que a média nacional ou das redes estaduais.

Esta é uma constatação relevante se considerarmos o histórico dessa modalidade. Em suas origens, a educação profissionalizante no Brasil foi idealizada para atender os alunos mais pobres – dos “desvalidos da fortuna” (Decreto de Nilo Peçanha, em 1909) às “classes menos favorecidas” (Constituição do Estado Novo, em 1937).

O ensino secundário regular era então reservado para as elites que aspiravam ascender ao superior. Até hoje, em muitos países desenvolvidos e com redes bem mais amplas de escolas técnicas na comparação com o Brasil, essa modalidade é frequentada majoritariamente por alunos mais pobres, que tendem a acessar menos o ensino superior.

Se, por um lado, é positivo constatar que a educação profissionalizante hoje, com sua qualidade de oferta, potencializa as chances de ingresso numa universidade, por outro, é preciso ponderar que parte dessa atual vantagem em relação ao médio regular é explicada pelo viés na seleção de alunos.

Muitas famílias perceberam que o acesso a escolas profissionalizantes aumentava a chance de ingresso no ensino superior. A alta demanda por esses estabelecimentos levou, inclusive, muitos deles a realizarem “vestibulinhos” para selecionar estudantes de melhor desempenho. É o que acontece, por exemplo, na rede de escolas técnicas estaduais mantidas pelo governo de São Paulo e em alguns estabelecimentos federais.

Na perspectiva das famílias que, legitimamente, buscam melhores oportunidades educacionais para seus filhos, a matrícula numa dessas escolas de educação profissional faz todo o sentido. Do ponto de vista do sistema educacional, porém, isso revela certa disfuncionalidade, quando a única ou principal motivação é aumentar as chances de ingresso numa universidade.

Os impactos são também econômicos. O Brasil ainda precisa expandir muito tanto sua população com superior completo quanto aquela com formação técnico-profissional. Na média da OCDE, 47% da população entre 25 e 34 anos têm diploma superior. No Brasil, são 22%.

No caso do profissionalizante, apenas 11% dos jovens de 15 a 19 anos frequentam essa modalidade durante o ensino médio no Brasil, percentual que vai a 37% na média da OCDE. O fato de a oferta dessas duas etapas ainda ser restrita no Brasil explica, em boa parte, porque um diploma profissional ou de nível superior faz tanta diferença no mercado de trabalho. E porque, em muitos setores, há carência de mão de obra especializada, especialmente em nível técnico.

É praticamente consensual no Brasil a necessidade de ampliação da educação profissional — desde as metas de várias das redes estaduais de ensino até as aspirações reveladas pelos estudantes, conforme demonstram várias pesquisas recentes. A reformulação do ensino médio atravessou vários percalços, resultando na aprovação pelo Congresso, neste ano, de novas mudanças.

Mas um de seus méritos inequívocos, desde o início das discussões, foi o de sinalizar para a importância de ampliar a oferta do ensino profissionalizante nas redes estaduais de ensino médio. E isso como uma condição necessária, evidentemente não suficiente, para construção de estratégias de inserção produtiva digna dos jovens.

Não podemos voltar ao passado, quando a via profissionalizante era entendida como uma opção de menor qualidade e destinada aos mais pobres. Mas ela tampouco deve ser reduzida a uma via de acesso ao ensino superior, por falta de alternativas de qualidade na rede pública regular.

O desafio, nada simples, é a expansão com qualidade, facilitando uma inserção mais qualificada no mercado de trabalho sem comprometer as chances de acesso, imediato ou posterior, ao ensino superior.

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