Honda e Nissan anunciam plano de fusão para 2026, criando terceira maior montadora global
Empresas formalizaram negociações nesta segunda. Objetivo é ganhar escala e competir com Tesla e BYD no setor de carros elétricos. Valor de mercado combinado vai superar US$ 50 bilhões
RESUMO
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GERADO EM: 23/12/2024 - 06:48
"Honda e Nissan planejam fusão para competir com Tesla"
Honda e Nissan concordam em negociar fusão para competir com Tesla e fabricantes chineses no mercado de veículos elétricos. Pretendem formar terceiro maior fabricante de automóveis do mundo, com foco em carros elétricos e autônomos. Fusão deve ocorrer em junho do próximo ano, liderada pela Honda.
As montadoras japonesas Honda e Nissan anunciaram oficialmente nesta segunda-feira um acordo para iniciar negociações para uma fusão. Numa tentativa de recuperar o terreno perdido para a americana Tesla e as fabricantes chinesas no mercado de veículos elétricos, a união histórica resultará no terceiro maior fabricante de automóveis do mundo com um valor de mercado combinado superior a US$ 50 bilhões.
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O negócio vai criar uma holding única, que reunirá as marcas Honda e Nissan e envolverá a grande unidade de motocicletas da Honda, disseram as empresas, em coletiva de imprensa, em Tóquio. A previsão é que a operação seja concluída em junho de 2026 e que a holding esteja listada na Bolsa de Tóquio até agosto do mesmo ano.
“Ambas as companhias continuarão como subsidiárias integrais da holding conjunta com suas respectivas marcas em vigor”, disse o CEO da Honda, Toshihiro Mibe.
Elas assinaram um memorando de entendimentos hoje, oficializando as conversas. A Mitsubishi Motors — da qual a Nissan é a principal acionista, com 24,5% de participação — também assinou o documento e provavelmente fará parte do grupo, com uma decisão final prevista para o final de janeiro.
Tábua de salvação para a Nissan
Pelas cláusulas do acordo, a Honda terá o poder de nomear o presidente do novo conglomerado, cujo conselho de administração será composto, em sua maioria, por executivos da empresa.
A montadora japonesa também informou que comprará de volta até 1,1 trilhão de ienes (cerca de US$ 7 bilhões) de suas próprias ações.
As companhias citaram "as mudanças drásticas no ambiente" e na "indústria automotiva" como justificativa para a fusão.
Com o negócio, Honda e Nissan se juntam a outras gigantes tradicionais, como General Motors e Volkswagen, que estão fortalecendo parcerias para dividir os altos custos do desenvolvimento de veículos de próxima geração. O acordo é visto como uma tábua de salvação, especialmente para a Nissan, que vem reduzindo empregos e produção devido a vendas fracas.
Nos últimos anos, montadoras do Japão, dos Estados Unidos e da Europa investiram bilhões de dólares no desenvolvimento de veículos elétricos — esforços que, na maioria das vezes, ainda não geraram lucros. Esses investimentos são financiados pelas vendas de modelos a gasolina e híbridos, que também exigem contínuos aportes.
Concorrência chinesa
A aliança colocaria Honda, Nissan e Mitsubishi numa posição melhor para competir no país e no exterior com a Toyota, a maior montadora do mundo. A companhia adquiriu participações na Subaru, Suzuki Motor e Mazda, criando uma potência de marcas apoiada por sua classificação de crédito de alto nível.
Honda e Nissan, respectivamente a segunda e a terceira maiores montadoras do mercado automotivo japonês, enfrentam um cenário difícil do lado da demanda dos consumidores e diante da intensa concorrência. Fabricantes chineses de carros elétricos, como a BYD, estão em ascensão à medida que cresce a procura por veículos menos poluentes.
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As duas empresas tiveram que reduzir o número de funcionários e a produção, enquanto a Mitsubishi praticamente saiu da China, maior mercado automotivo do mundo.
A Nissan vende pouco mais de 3 milhões de veículos por ano, enquanto a Honda vende quase 4 milhões. A fusão as posicionaria como o terceiro maior grupo automotivo do mundo, atrás da Toyota, que vendeu 11 milhões de veículos no ano passado, e da Volkswagen, que vendeu 9 milhões. Juntas, Honda e Nissan empregam cerca de 325 mil pessoas.
As empresas afirmaram que integrar seus negócios permitirá padronizar a composição básica dos veículos e aumentar a produção. Esses passos reduziriam os custos de desenvolvimento, liberando recursos para investimentos em áreas como novos softwares.
Incógnita sobre fechamento de fábricas
Embora tenha previsto um lucro operacional para a holding de mais de 1 trilhão de ienes (cerca de US$ 6,4 trilhões) — o que eventualmente subiria para 3 trilhões de ienes (cerca de US$ 19 trilhões) —, Toshihiro Mibe não abordou como as empresas combinariam suas operações para enfrentar questões urgentes como fechar ou otimizar fábricas.
A situação é especialmente sensível para a Nissan, que enfrenta a versão mais gritante da ameaça existencial às montadoras japonesas, com a mudança vertiginosa da indústria automobilística global para veículos elétricos, se afastando dos carros com motor de combustão.
A companhia intensificou seus esforços de reestruturação para lidar com o crescimento estagnado da receita e lucros menores. Além disso, enfrenta pressão de um acionista ativista e uma dívida assustadora, o que gerou especulações nos mercados de crédito sobre a sua classificação de grau de investimento. A montadora desfez parcialmente uma complexa parceria estratégica de 25 anos com a francesa Renault.
“A parceria com a Honda não é um sinal de que estamos desistindo de nossos planos de recuperar a Nissan”, disse o CEO da Nissan, Makoto Uchida, na segunda-feira.
De forma mais ampla, a Nissan enfrenta turbulências desde a prisão e demissão do ex-presidente Carlos Ghosn, no final de 2018. Além disso, sucessivas mudanças na gestão e uma linha de produtos desatualizada contribuíram para que a empresa se tornasse a quinta maior montadora do Japão em valor de mercado, avaliada em cerca de US$ 10,2 bilhões. Isso fez da Nissan um potencial alvo de aquisição.