Braskem: bancos costuram alternativa para vender fatia da antiga Odebrecht na petroquímica
Credores querem acelerar reconfiguração societária, mas Petrobras quer rever acordo de acionistas e ampliar número de diretorias na companhia petroquímica
RESUMO
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GERADO EM: 27/11/2024 - 17:16
Bancos preparam fundo para novo investidor na Braskem e Petrobras busca rever acordo de acionistas.
Bancos preparam fundo para novo investidor na Braskem, reduzindo participação da Novonor. Petrobras busca rever acordo de acionistas e ampliar diretorias. Novo modelo visa atrair investimentos e mudar cenário da empresa.
A Braskem, líder na produção de plástico nas Américas, começa a ter seu futuro redesenhado em um novo modelo de venda após a até agora frustrada tentativa da Novonor (ex-Odebrecht) de vender seu controle.
Como alternativa, a estratégia envolve agora a criação de um fundo de private equity (de participações acionárias) para abrigar um novo investidor, de acordo com fontes ligadas às negociações envolvendo bancos credores da construtora, que entrou em recuperação judicial após ser alvo da Operação Lava-Jato.
A Novonor detém 50,1% do capital votante da Braskem, enquanto a Petrobras possui 47%. O restante das ações está com acionistas minoritários.
Pelo novo plano, o fundo reunirá as ações da Braskem atualmente em posse da Novonor e que foram dadas como garantia a bancos como Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil e BNDES, em decorrência do processo de recuperação judicial da holding Novonor, cujas dívidas ultrapassam R$ 15 bilhões.
Petrobras dá aval
Após diversas tentativas de venda direta por parte da Novonor, o novo modelo de negociação está sendo estruturado pelas instituições financeiras e já conta com o aval da Petrobras. No entanto, embora haja urgência em definir o futuro da petroquímica, os bancos ainda estão formatando o fundo, e não há uma data definida para sua apresentação a potenciais investidores.
A proposta é que o novo investidor compre a maior parte das ações da Novonor por meio do fundo, em um processo que poderá incluir uma capitalização da Braskem. Esse investidor passaria a controlar o fundo diretamente, sem a presença dos bancos, adquirindo os créditos desses credores previamente.
Assim, ele se tornaria acionista indireto da Braskem, diluindo substancialmente a participação da Novonor, conforme explicaram fontes próximas ao assunto.
A Novonor já deixou claro que deseja manter uma participação minoritária na companhia que seja suficiente para receber dividendos e atender às obrigações de seu processo de recuperação judicial. Embora já tenha sido cogitada uma fatia de 5% a 10%, o percentual ainda não está definido.
Venda se arrasta sem sucesso
Desde 2018, a Novonor tenta vender sua participação na Braskem. Já foram realizadas negociações com grupos como LyondellBasell, J&F (holding da família Batista, da JBS), Apollo Global Management e a estatal de petróleo dos Emirados Árabes, a Adnoc. Principal rival brasileira da Braskem, a Unipar também apresentou uma proposta, mas nenhuma das negociações avançou.
As propostas chegaram a valores de até R$ 10,5 bilhões, mas questões financeiras relacionadas à tragédia em Alagoas, com o afundamento de uma mina, e os impasses entre sócios e bancos inviabilizaram os processos.
Atualmente, a Petrochemical Industries Company (PIC), subsidiária da Kuwait Petroleum Corporation (KPC), é a única ainda conduzindo due diligence (espécie de auditoria para a avaliação de um negócio) na Braskem. Contudo, essa negociação segue um modelo de compra direta de ações da Novonor, diferente do fundo que está sendo estruturado pelos bancos.
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Segundo fontes, a expectativa dos formuladores do plano é que o fundo possa aumentar o interesse de investidores, atraindo não apenas operadores do setor petroquímico, mas também fundos de investimento.
— É um modelo semelhante ao que ocorreu com a (companhia aérea) Azul, onde diversos fundos de investimento se tornaram acionistas— destacou uma das fontes.
Estatal quer mais influência
Além da entrada de um novo sócio relevante, a Petrobras já sinalizou que quer fazer mudanças no atual acordo de acionistas. A estatal pretende ampliar sua presença na diretoria da Braskem, atualmente restrita a apenas uma cadeira, mas não tem intenção de assumir o controle acionário.
Isso evitaria que a Braskem se tornasse uma estatal e colocasse no balanço da Petrobras todos os passivos da empresa. Além disso, observou uma fonte com conhecimento das conversas, qualquer movimentação envolvendo a Braskem precisará ser aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras.
Procuradas, Braskem, Novonor e Petrobras não se manifestaram.