Fabio Giambiagi
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Fabio Giambiagi
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Fabio Giambiagi

Economista

Por — Rio


RESUMO

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GERADO EM: 12/12/2024 - 21:09

"Democracia e Forças Armadas: Resistência em 2022"

As Forças Armadas, a relação com a Venezuela e a importância da democracia são discutidas no artigo. Destaca-se a resistência de generais em 2022, impedindo possíveis ações antidemocráticas. Alerta-se para o perigo da politização das Forças Armadas e a necessidade de liderança e respeito às regras democráticas para evitar crises como a venezuelana no Brasil. A democracia deve prevalecer sobre arruaças e golpes.

Este espaço é sobre economia, mas esta não pode ser dissociada do ambiente em que se vive. Pensemos numa autocracia onde, por exemplo, empresários que não simpatizam com o regime morrem por cair da janela; ou ativistas ficam com sequelas terríveis por ter bebido uma sopa suspeita. Dá para separar economia e política?

O leitor parou para pensar no que poderia ter acontecido no Brasil se alguns generais, em 2022, ao invés de terem sinalizado para seus superiores que não iriam transigir na defesa da Constituição, tivessem aderido ao ambiente delirante da época, para “impedir o país de cair nas mãos dos comunistas” ou seja lá qual fosse o argumento para embarcar na aventura da qual, sabemos hoje, o país se salvou por milímetros? Não nos enganemos: teria sido um banho de sangue.

Por que estou falando disso? Porque, nos próximos dias, Maduro será empossado pela enésima vez na Presidência da Venezuela. O leitor deve lembrar que, durante anos, se mencionou o risco de o Brasil “virar uma Venezuela” como associado ao PT, pelas afinidades históricas entre o partido e o chavismo. A rigor, porém, o risco que o país correu de virar uma Venezuela se deu no governo de quem mais acenou com esse fantasma.

As instituições são fortes no Brasil? Mais do que em outros países da região. Seria difícil uma tentativa de “virada de mesa” vingar em um quadro internacional adverso, com os EUA (na época) contra? Sim. Porém, na Venezuela a maioria da população, do empresariado, dos partidos e da intelectualidade são contra o governo e, mesmo assim, Maduro “não está nem aí” para essa realidade, apoiado nas Forças Armadas (FA) da Venezuela que, ao contrário das nossas, foram compradas para aderir ao governo, deixando de lado os interesses republicanos e a Constituição.

É por isso que a politização das FA é inaceitável. E foi isso que se tentou fazer há alguns anos: transformar uma instituição da República na guarda pretoriana do presidente. Felizmente, apesar dos cargos de confiança com os quais se tentou conquistar a corporação, esta foi preservada e, pelo bem do país, a institucionalidade também. As coisas poderiam ter sido muito diferentes, com riscos para a paz social e com enfrentamentos terríveis nas ruas, se meia dúzia de generais honrados, ao invés de terem seguido a alternativa A, tivessem optado pela alternativa B.

“De novo essa história?”, pode argumentar um leitor. Sim, porque isso delimita o campo de jogo. A esquerda nunca se recuperou da mancha moral da corrupção, e parte do país age como se os escândalos que nos marcaram nos anos 2000 e 2010 não tivessem existido — o que é constrangedor, e algo que só será superado quando outra geração de políticos dessa corrente ocupar o palco.

Já a direita tem que parar de normalizar o absurdo, dado o que se procurou gestar em 2022. Entendo a lógica de não querer brigar com uma corrente com muitos seguidores, mas vale lembrar o sentido das palavras: “liderança” implica liderar, ora! É a atitude o que distingue um líder. Há políticos respeitáveis, com uma história de serviços prestados e condições de assumir as bandeiras do livre mercado, do empreendedorismo e da eficiência, sem ter que se curvar para prestar continência a um golpista que não se mostrou apto para o jogo da disputa leal.

O Brasil tem 40 anos de democracia, uma bela história de conquista da estabilidade e boas perspectivas se soubermos, entre as forças representativas de 80% ou 90% do eleitorado, definir regras mínimas para serem respeitadas por todos. Não há razões para “passapanismo” com criminosos. Felipe González dizia que “a democracia implica assumir a derrota”: quem ganha leva, e quem perde aguarda a próxima. Democracia é isso. Qualquer outra coisa é arruaça. E lugar de arruaceiro, todos sabem qual é. O Brasil precisa extirpar o câncer do golpismo, para não virar uma Venezuela, se um dia — como diria um famoso kid preto — cair nas mãos da “rataria“.

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