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Ruth de Aquino
Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília. Cidadania, família, educação, amor, sexo, drogas, religião, envelhecimento, saúde, arte e viagens.
A raiva contra planos de saúde, aqui e nos EUA
O crime do CEO em Manhattan é injustificável, mas as redes tratam o acusado como herói
Por Ruth de Aquino
RESUMO
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GERADO EM: 12/12/2024 - 13:38
Revoltas contra Planos de Saúde nos EUA e Brasil: População Demonstrando Insatisfação Crescente
A revolta contra os planos de saúde nos EUA e Brasil é evidente. Os sistemas são criticados por falta de prevenção e cobertura, levando à morte de pacientes. Após um crime chocante ligado a um CEO de plano de saúde, a população se mostra solidária, revelando a insatisfação generalizada. Apesar de não justificar atos extremos, a população compreende a revolta contra um sistema considerado ganancioso e desumano.
“O sistema de saúde americano é de uma insanidade inimaginável. Esse assassinato do CEO em Nova York, louco e obviamente injustificável, gerou uma onda de solidariedade com o assassino que é assustadora, porém compreensível. Todo mundo aqui nos EUA tem uma história de horror com os planos de saúde”.
A mensagem é de um amigo brasileiro, que emigrou há décadas. Muito bem sucedido em sua profissão. Em junho, interrompeu a estada no Rio quando um check-up revelou que poderia ter um derrame a qualquer momento. “Todos os meus amigos no Rio sabem se suas carótidas estão entupidas. E eu não fazia ideia, porque a medicina preventiva é inexistente nos EUA. As operadoras pressionam os médicos a não pedir exames de rastreio”.
De volta aos EUA, o plano de saúde americano discutiu com o cirurgião. Não queria pagar porque “não havia razões médicas para a cirurgia”. Alegavam que ele ainda não tinha sofrido o derrame e não estava tomando remédios para evitar a operação. My God. No fim, conseguiu uma pré-aprovação. Está bem.
Não é diferente no Brasil. As queixas contra planos de saúde se acumulam. Cancelamentos unilaterais na idade avançada. Recusa na cobertura de exames. Descredenciamento de hospitais. Suplício ao tentar mudar de operadora. Carências inflexíveis. Quem mais precisa de atendimento enlouquece ao conversar com os robôs dos planos. Tortura ao telefone. Corretores lavam as mãos.
Nesse cenário, em que o lucro da indústria da saúde se sobrepõe a todo o resto, as redes publicaram emojis de riso e celebraram o crime premeditado do magnata Brian Thompson, CEO da UnitedHealthCare, em plena Manhattan. Horrível? Sim. Houve quem fizesse uma lista de “procurados” com diretores das principais seguradoras e empresas farmacêuticas americanas. Arrepiante. Imagine se resolvêssemos pendengas matando as pessoas.
Acontece que tem paciente morrendo devido a regras impiedosas. Antes do crime, a gigante Blue Cross Blue Shield, uma das operadoras de saúde mais lucrativas nos EUA, tinha anunciado que a partir de fevereiro só cobriria anestesia até um certo limite de tempo. Se os cirurgiões precisassem se alongar, o paciente teria de pagar pela anestesia extra. Após o assassinato de Thompson, a operadora cancelou essa determinação. Mas não assume que voltou atrás por isso.
Não se pode jamais justificar um crime, mas dá para entender a catarse virtual. É como se o jovem Luigi Mangione, de 26 anos, tivesse matado um vilão, vingando-se de todas as famílias que perderam parentes para um sistema de saúde ganancioso e desumano. Rico, bonito, instruído, Mangione escreveu um manifesto contra as grandes empresas: “Não ligam para você, seus filhos ou seus netos”.
Sente dor crônica nas costas, após uma cirurgia. Exibe nas redes um raios-x da coluna, fixada por pinos. De família dona de império imobiliário, filho de professor universitário, orador da turma e Mestre em Ciência da Computação, Mangione está longe do perfil de um homicida frio. Seus interesses são inteligência artificial, robótica, programação de jogos. Ex-colegas o descrevem como “gentil, atencioso, solidário” e com fé “no poder da tecnologia para mudar o mundo”.
Mangione foi preso num McDonald’s, com documento falso e uma “arma-fantasma”, montada com peças compradas online. Sua jaqueta jeans já esgotou em algumas lojas virtuais. A mochila e o tênis também se tornaram objeto de desejo.
Nada mais americano. Temos aí um roteiro pronto. Não precisamos de mais nada para filme ou minissérie. A gente não quer só comida, diversão e arte. A gente quer saúde.