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Ruth de Aquino
Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília. Cidadania, família, educação, amor, sexo, drogas, religião, envelhecimento, saúde, arte e viagens.
Os efeitos da Mente Azul em nossa vida
Viver perto do mar aumenta a chance de sermos felizes, saudáveis, mais conectados e menos estressados
Por Ruth de Aquino
RESUMO
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GERADO EM: 14/11/2024 - 15:25
Benefícios da Proximidade com o Mar: A Teoria da Mente Azul de Wallace J. Nichols
Viver perto do mar pode aumentar felicidade, saúde e reduzir estresse. A teoria da Blue Mind de Wallace J. Nichols explica como a água nos faz mais conectados, calmos e eficientes. A Mente Azul contrasta com a Mente Vermelha, ligada a negatividade e estresse. A proximidade com a água ativa hormônios do prazer e reduz o cortisol. Nichols destacou a importância da água em nossa vida e conexão com o mar desde a infância.
Por que viver perto do mar aumenta a chance de ser feliz? Nasci em Copacabana, a praia sempre foi um motivo pessoal para voltar ao Rio e interromper os exílios a trabalho na Europa ou em São Paulo. Descubro agora que meu êxtase diante da luz do mar e do contato com a água tem explicação na ciência. A teoria da Blue Mind está no livro best-seller do biólogo marinho Wallace J. Nichols.
Ele demonstra, cientificamente, por que estar perto, dentro, sobre ou embaixo d’água pode te fazer feliz, saudável, mais conectado e melhor no que você faz. Nadar e boiar é ótimo. Mergulhar e surfar, delicioso. Contemplar as cores, as luzes e a infinitude do horizonte, apenas, já nos torna mais zen.
Uma prova disso é que, por estar hoje em Búzios, litoral norte do Rio, diante de mares cristalinos, nados de tartarugas, saltos de peixes e balés de gaivotas, consegui não escrever sobre o atentado terrorista em Brasília na Praça dos Três Poderes. Consegui não me deixar contaminar. Minha mente está azul da cor do mar. Os estudos de Nichols associam a proximidade da água à calma, criatividade, eficiência e ao bem-estar. Não apenas o oceano. Rios, lagos, cachoeiras também. Mas o mar e sua água salgada têm propriedades mágicas no humor.
O oposto da Mente Azul seria a Mente Vermelha, que se concentra nos fatos negativos, na violência, nas tragédias e nas tarefas e aborrecimentos cotidianos. Você sabe muito bem como fica por dentro, emocionalmente, quando precisa negociar com seu plano de saúde, seu provedor de celular, sua operadora de TV, seus gerentes de banco e a infinidade de robôs que te enlouquecem. A Mente Vermelha produz depressão, fadiga mental, ansiedade, desconexão emocional, estresse crônico. E insônia.
Será que essa conexão com a água se explica pelo fato de o corpo humano ser composto por 70% de água, como dizem os cientistas? E por dependermos da água para sobreviver? O que Nichols revela é surpreendentemente familiar a mim. Nunca havia parado para atribuir à neurociência a reação tranquilizante ao som repetitivo das ondas quebrando. Ou à ausência de barulho embaixo d’água. Há muitos anos, mergulhei de cilindro em Fernando de Noronha, 30 metros de profundidade, com os dois filhos. Uma experiência sensorial bem próxima a uma epifania, que nos deixou em silêncio absoluto por horas após o mergulho. Incrédulos.
Nichols, o biólogo que os amigos conheciam carinhosamente como J., nasceu em Nova York e morreu recentemente, em junho. Ele se especializou na preservação, migração e genética das tartarugas marinhas. Conseguiu registrar e acompanhar por satélite o nado transoceânico de uma tartaruga, Adelita, da Califórnia para o Japão. Um feito inédito. Imagino sua alegria. Eu já me emociono quando filmo tartarugas nas praias buzianas da Ferradura e Ferradurinha. Elas nadam lentamente como se não houvesse amanhã. E se exibem para o maravilhamento dos banhistas, adultos e crianças de celular em punho e sorriso no rosto.
O principal legado que Nichols deixou foi comprovar que o mar ativa a produção de hormônios, como dopamina, serotonina e ocitocina, associados ao prazer, relaxamento e calma. E reduz os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. É um poder de cura, que sempre pressentimos intuitivamente, nós que nos conectamos com o mar desde pequenos.
Como Nichols, eu tive uma infância “water-filled”, cheia de água. Colhia tatuís e comprava peixes com minha mãe no Posto 4 em Copacabana. Jogava vôlei no Posto 5. Depositei as cinzas de pai e mãe no mar tranquilo do Posto 6.
Quando se despedia de alguém, Nichols dizia: “I wish you water”. Eu desejo água a você, leitor. Muita água azul do mar. E muitas notícias boas. Porque elas existem, apesar das assombrações.