Ruth de Aquino
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Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília

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Ruth de Aquino

Tudo sobre a política de nossa vida e não de Brasília. Cidadania, família, educação, amor, sexo, drogas, religião, envelhecimento, saúde, arte e viagens.

Por Ruth de Aquino

RESUMO

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GERADO EM: 31/10/2024 - 15:17

Confissão de Ronnie Lessa: crueldade e corrupção no assassinato de Marielle Franco

A confissão chocante de Ronnie Lessa sobre o assassinato de Marielle Franco revela a crueldade e ganância envolvidas. O ex-PM confessou o crime por R$ 25 milhões, destacando a triste realidade da corrupção e violência no Brasil. Marielle, uma defensora dos direitos humanos, foi vítima de um crime político e organizado, que exige punição exemplar para todos os envolvidos.

Vinte e cinco milhões. Era a minha parte no loteamento. Eu fiquei cego mesmo, fiquei louco. Foquei. No alvo. O alvo era a cabeça da vereadora.

A confissão fria de Ronnie Lessa, ontem, me gelou a espinha. O ex-PM chamava Marielle Franco de “o alvo”. Repetidamente. Era irrecusável, para Lessa, esse valor de R$ 25 milhões. “Se fosse o Papa, eu ia matar o Papa, porque fiquei louco atrás daquilo ali”, disse o ex-PM, em videoconferência no júri popular.

Eu me pergunto que tipo de ser humano aceita ganhar uma grana, seja um milhão ou um bilhão, para tirar uma vida e destruir uma família. No Brasil, vários desses assassinos mercenários foram treinados na Polícia Militar. Muitos foram expulsos pela PM.

O réu confesso Ronnie Lessa tem lanchas e uma casa na Barra da Tijuca e é dono de academia e quiosques. Mas queria mais.

Lessa se disfarçou com uma balaclava, armou uma submetralhadora, mirou e disparou. Estava num carro dirigido pelo cúmplice, também ex-PM, que só soube do “trabalho” no dia. Marielle saía de um evento na Lapa, estava num carro dirigido por Anderson Fernandes, casado e pai de um bebê. A vereadora e o motorista morreram.

O alvo original era Marcelo Freixo, mas Lessa recusou, dizendo ser uma loucura. “Esse julgamento pode virar a página do Rio de Janeiro”, afirmou Freixo. “Expõe o esgoto. O verdadeiro escritório do crime era a Delegacia de Homicídios, onde matar era um ‘trabalho’, como disse o Lessa”.

Em acordo, Lessa, já preso e acuado, identificou os mandantes como os irmãos Brazão. “Ela era uma pedra no caminho deles”. Você não é obrigado a saber quem são Domingos e Chiquinho Brazão. Chiquinho é deputado federal e foi vereador. Domingos é conselheiro do Tribunal de Contas do RJ. Supostamente ligados às milícias. Serão julgados no STF. Negam tudo.

Depois de matar, Lessa foi beber num bar. Crimes contra a vida são sempre condenáveis. Alguns são, porém, mais sórdidos e covardes. Como esse, na noite de 14 de março de 2018. No julgamento, Lessa ensaiou um papel fofinho. “Eu gostaria, com absoluta sinceridade e arrependimento, de pedir perdão às famílias pelos fatídicos atos que nos trazem aqui. Infelizmente, não podemos voltar no tempo, mas hoje eu tento fazer o possível para tentar amenizar essa angústia de todos”.

Na verdade, Lessa quis só amenizar sua própria angústia, porque o Ministério Público havia recomendado sentença máxima, de 84 anos de prisão. Foi condenado a 78 anos e nove meses, mas sabemos que deverá ficar preso em regime fechado muito menos tempo. Será pouco para o crime que cometeu.

Afinal, quem era essa Marielle? Quem era essa vereadora favelada, essa mãe bissexual, essa defensora de direitos humanos, essa preta de sorriso cativante que tinha 46 mil votos e condenava grupos policiais de extermínio de jovens? Por que sua morte prematura, aos 37 anos, com tiros à queima-roupa, disparados por covardes, encomendados por mais covardes ainda, faria chorar um estado já embrutecido pela violência que dizima mais de 3 mil vidas por ano?

Marielle nasceu na Maré. Agia, tinha pressa, engravidou na adolescência, uma amiga morreu de bala perdida, ela conseguiu bolsa na PUC, fez Sociologia. Mestrado em Administração Pública, com dissertação sobre as UPPs. Quantos concluem mestrado no Brasil? Marielle estudou sua realidade carente de tudo. Casou com uma mulher.

Com cabelo afro e a fala potente, Marielle reunia num só corpo e numa só cabeça todas as definições de minorias. Gênero, cor, orientação sexual e ideologia. Mas suas fronteiras eram globais. Daria uma palestra em Harvard no dia 7 de abril de 2018, sobre renovação política.

Foi um crime político. Mas não só. Foi um crime organizado. Contra uma mulher. Todos os envolvidos precisam ser punidos exemplarmente.

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