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Por — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 27/11/2024 - 19:58

'Novo Terror Brasileiro: Ascensão e Reconhecimento Internacional'

O cinema de horror no Brasil está em ascensão com o surgimento do 'Novo Terror Brasileiro', trazendo diversidade de histórias e empolgando cineastas. Com 15 lançamentos recentes e destaque internacional, há uma crescente aceitação do gênero e a busca por reconhecimento, apesar dos desafios de orçamento e distribuição. Profissionais buscam inovação e potencializam o mercado nacional, com produções originais e promissoras, explorando temas locais e ampliando a definição de terror. Novos filmes estão previstos para os próximos anos, com abordagens brasileiras distintas, demonstrando o potencial do país nesse segmento artístico em alta.

O cinema brasileiro anda tenebroso — e, sim, esta é uma notícia promissora. Do último mês para cá, 15 longas-metragens de terror nacionais foram lançados no país, considerando o circuito comercial das salas, a programação de festivais e a grade de estreias em plataformas de streaming. É um feito inédito. Para profissionais do mercado, o número recorde — que representa metade da quantidade de produções do mesmo perfil que alcançaram o público em todo o ano de 2023 — aponta uma tendência crescente em sintonia com o cenário internacional (quem não viu “A substância” certamente ouviu falar, e muito, do terror corporal com Demi Moore, filme-sensação há mais de dois meses em cartaz nos cinemas e disponível on-line na plataforma Mubi).

Fato é que nunca antes na história da sétima arte em solo tupiniquim o horror se apresentou com tanto descaramento — e de maneira tão diversa. A safra mais recente inclui títulos como “A herança”, trama dirigida por João Cândido Zacharias, que chegou aos cinemas na semana passada e é protagonizada por um casal gay às voltas com um questão familiar (“Por que não colocar no centro personagens que normalmente são relegados a coadjuvantes nessas narrativas?”, defende o realizador); “Continente”, história rural sanguinolenta, do gaúcho Davi Pretto, que aportará no catálogo do Globoplay em 15 de dezembro depois de ter estreado nas telonas no dia do Halloween (“Parecia essencial marcar território para disputar o imaginário coletivo dessa data tão americana”, diz o cineasta); “Sala escura”, slasher de Paulo Fontenelle sobre um assassino mascarado disposto a decepar espectadores num cinema (“É terror raiz, sem mensagem, calcado no entretenimento do susto”, define o diretor); e “Abraço de mãe”, produção brasileira dirigida pelo argentino Cristian Ponce, lançada diretamente na Netflix há um mês, e em que a atriz Marjorie Estiano dá vida a uma bombeira que lida com visões fantasmagóricas e sobrenaturais enquanto evacua um hospital carioca prestes a desabar.

‘A herança’. O ator francês Yohan Lévy é um dos protagonistas do filme de João Cândido Zacharias, que coloca no centro da narrativa um casal gay às voltas com questões familiares misteriosas — Foto: Divulgação/Bianca Aun
‘A herança’. O ator francês Yohan Lévy é um dos protagonistas do filme de João Cândido Zacharias, que coloca no centro da narrativa um casal gay às voltas com questões familiares misteriosas — Foto: Divulgação/Bianca Aun

Estas produções e tantos outros exemplos são parte de um fenômeno espontâneo a que alguns profissionais vêm chamando informalmente de Novo Terror Brasileiro. Há pouco mais de uma década, essa onda não planejada — com produções quase sempre ancoradas em elementos da cultura e da realidade no país, do folclore às desigualdades sociais — projetou a posições de destaque, em premiações mundo afora, nomes de cineastas como Marco Dutra e Juliana Rojas (que dirigiram juntos “As boas maneiras”, de 2017), Gabriela Amaral Almeida (de “O animal cordial”, também de 2017), Anita Rocha da Silveira (de “Medusa”, de 2021) e Daniel Bandeira (de “Propriedade”, de 2023).

— São filmes que estão no foco da atenção, sendo reconhecidos. Claro que há um problema na questão da distribuição para o grande público. Mas não se trata de uma produção marginalizada — analisa Carlos Primati, pesquisador de cinema fantástico no país e um dos curadores do festival Rio Fantastik, a primeira mostra competitiva dedicada ao gênero no país. — Tempos atrás, quem fazia filme de terror se dedicava a uma ginástica intelectual para tentar se descolar do gênero, usando todos os tipos de eufemismos, como “drama físico” e “thriller social”. Hoje, a gente vê cada vez mais os filmes serem categorizados claramente como terror. A galera quer colar aí. E isso é surpreendente e animador.

Bacurau, filme exibido em Cannes em 2019 — Foto: Reprodução
Bacurau, filme exibido em Cannes em 2019 — Foto: Reprodução

Não à toa, a própria definição de terror passa por um gradual alargamento. Títulos que não são os exemplos mais puros do horror — mas que trazem aspectos essenciais do gênero atrelados a outros — assumem para si, por que não?, tal classificação. É o caso do bem-sucedido “Bacurau” (2019), de Kleber Mendonça Filho, e do novo “O clube das mulheres de negócios”, de Anna Muylaert, que chega nesta quinta (28) às salas. Ambas as produções são marcadas por nuances de fantasia, distopia e terror. E orgulham-se disso.

— Quem faz cinema hoje pertence a gerações que cresceram tendo um contato muito íntimo com o cinema de gênero, através inicialmente da TV — discorre Kleber Mendonça Filho. — Essa é uma diferença, por exemplo, para a geração do Cinema Novo (produzido nas décadas de 1960 e 1970), que tinha um distanciamento político e estético do cinema de Hollywood por questões históricas e culturais da época. Para mim, é absolutamente natural que o cinema que eu faça seja impuro. Espero, no final das contas, fazer filmes brasileiros, e que eles façam parte de uma fórmula química que é totalmente espontânea. Vejo isso em muitos colegas.

Xuxa como uma vampira vegana

Entusiasta do gênero desde a adolescência — aos 11 anos, ela foi barrada num cinema ao tentar conferir a estreia de “O exorcista” (1973) —, a apresentadora Xuxa (sim, a própria) tem flertado com a ideia de estrelar um filme de terror, mezzo suspense, mezzo comédia, em que interpretaria uma... vampira vegana. A proposta partiu da cineasta Juliana Rojas, que a dirigiu, junto a Marco Dutra, na série inédita “Tarã”, da Disney. A ideia inicial, até agora apenas um desejo lançado no ar, acabou ocupando um espaço generoso no cérebro da loura.

— Achei linda a ideia de uma vampira vegana. Juliana deixou isso para a minha imaginação. Mas a minha imaginação é muito fértil — empolga-se a apresentadora de 61 anos, mas sem tirar os pés do chão. — Sou empresária e tenho noção de que é muito caro fazer cinema. E um filme bem feito, ainda mais de terror, precisa de muito dinheiro, para o investimento em efeitos visuais e bons cenários. Não é barato! Tanto que os filmes nacionais de terror que são bacanas vão mais pela boa história, e não pelos efeitos. Senão, a gente acaba ficando pra atrás...

‘Sala escura’. Horror de Paulo Fontenelle acompanha os passos de vítimas de serial killer mascarado em sala de cinema: “É terror raiz, sem mensagem, calcado no entretenimento do susto”, diz diretor — Foto: Divulgação
‘Sala escura’. Horror de Paulo Fontenelle acompanha os passos de vítimas de serial killer mascarado em sala de cinema: “É terror raiz, sem mensagem, calcado no entretenimento do susto”, diz diretor — Foto: Divulgação

Xuxa tem razão. Apesar de as principais referências de cineastas brasileiros estarem, naturalmente, quase todas em figuras dos Estados Unidos, o maior polo disparado do terror no mundo — o único baluarte nacional é José Mojica Marins (1936-2020), criador e intérprete do lendário personagem Zé do Caixão —, o padrão técnico ostentado em estúdios americanos ainda é inalcançável por aqui. Para tudo, porém, dá-se um jeito.

— Vamos testando e encontrando caminhos na marra. É aquela coisa: o espectador tem que sair da sessão achando que uma orelha de fato foi cortada. Afinal, o diretor não vai poder se justificar com cada um para dizer que o orçamento estava apertado — diz o diretor Paulo Fontenelle. — Mas acho que, antes de quebrarmos o preconceito do espectador, temos que quebrar o preconceito dos executivos. Esta é a hora de o mercado correr risco.

O capixaba Rodrigo Aragão, que tem seis longas de terror no currículo, se move pela ideia de “filme-escola”, como ele conceitua. O diretor mistura profissionais novatos e experientes nos sets — sempre em Guarapari (ES), onde mora — , e assim vai encontrando soluções criativas, de maneira coletiva, para driblar o parco orçamento. Foi desse jeito que ele se tornou cineasta de terror. De início, trabalhava como técnico de “efeitos visuais práticos”, aqueles tidos como “manuais”, com uso de maquiagem, próteses e miniaturas — ou seja, sem utilização de elaborada computação gráfica. Hoje, é uma referência no meio audiovisual e continua a exercer o ofício em longas e curtas de colegas.

— O que me fascina com o gênero terror é a busca de uma reação física do público. E isso demanda um apuro técnico que não aceita desaforo, sabe? É realmente difícil encontrar equipes especializadas no Brasil. Vamos fazendo, então, essa experiência de cinema “na prática” — destaca Aragão, que agora finaliza o inédito “Prédio vazio”, sobre um edifício amaldiçoado no Espírito Santo. — O povo brasileiro gosta de filme de terror. As bilheterias mostram isso! O maior problema, na verdade, está na distribuição. As pessoas só precisam descobrir que se faz esse gênero aqui. Esse é o maior desafio. Tenho certeza de que podemos ser uma potência nesse mercado tão em alta. Somos celeiro de grandes histórias. Há um potencial absurdo aí.

‘Abraço de mãe’. Protagonizada por Marjorie Estiano, a produção brasileira da Netflix mostra os dramas de uma bombeira num hospital carioca macabro que está prestes a desabar devido  a chuvas torrenciais — Foto: Divulgação
‘Abraço de mãe’. Protagonizada por Marjorie Estiano, a produção brasileira da Netflix mostra os dramas de uma bombeira num hospital carioca macabro que está prestes a desabar devido a chuvas torrenciais — Foto: Divulgação

Para 2025, há outras estreias aguardadas, e embaladas por atmosfera brasileiríssima, como “Enterre seus mortos”, longa de Marco Dutra, protagonizado por Selton Mello, inspirado no livro homônimo de Ana Paula Maia acerca de homens que recolhem corpos de animais em estradas. E mais. Também sairá do forno o inédito “A própria carne”, estreia no terror do diretor Ian SBF, um dos criadores do grupo de humor Porta dos Fundos. A história de época seguirá os passos de soldados desertores da Guerra do Paraguai numa casa com segredos macabros.

— Uma coisa que o Brasil tem de sobra são histórias de terror que foram pouco abordadas no audiovisual, muito menos do que deveriam — avalia Ian, que enxerga paralelos entre o horror e a comédia, este último o gênero que mais enche cinemas no Brasil. — Tudo gira em torno do timing. Comédia é uma corrida de cem metros, enquanto terror é uma maratona, é a construção de um clima.

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