WASHINGTON — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a retirada do país do Acordo de Paris, que prevê uma série de esforços para impedir o aumento da temperatura do planeta em mais de
2 graus Celsius. O anúncio foi feito por volta das 16h30m desta quinta-feira. Funcionários da Casa Branca já haviam adiantado essa informação a vários setores da imprensa americana, e, antes mesmo do anúncio oficial, veículos como CNN e Associated Press já davam como certa a saída dos EUA na última quarta-feira.
— Vamos começar negociações para reentrar no Acordo de Paris ou numa nova transação que seja mais justa — disse Trump, na Casa Branca. — A partir de hoje, os Estados Unidos cessarão toda a implementação do Acordo de Paris e os encargos financeiros e econômicos draconianos que o acordo impõe ao nosso país.
Trump começou o evento enumerando o que afirmou serem resultados de seu governo, como a criação de “milhares de empregos” e o aumento de US$ 3,3 trilhões dos valores das empresas americanas em bolsas, além do fato de ter anunciado uma luta contra o terrorismo em em favor da paz mundial.
Segundo ele, com o pacto em vigor, até 2040 a produção de papel cairia 12%, a de ferro e aço cairia 38%, e carvão, 86%.
— Portanto, para cumprir o meu dever solene de proteger a América ... os Estados Unidos se retirarão do acordo climático de Paris — disse Trump, que foi ovacionado nos jardins da Casa Branca. — O acordo na verdade é menos sobre o clima e mais sobre ganhar vantagem financeira [sobre os Estados Unidos].
Ele afirmou que isso é a prova de que cumprirá todas as suas promessas e que está defendendo os empregos e as empresas americanos. Repetindo a todo o momento seu slogan “Tornar os EUA grandes novamente”. Em seu discurso, ele praticamente só usou argumentos econômicos, sem falar de temas ambientais.
O presidente americano disse que não se importa se não for seguido por outros líderes mundiais:
— Fui eleito representante do povo de Pittsburgh, não de Paris — disse, recebendo aplausos.
Mike Pence, o vice-presidente americano, tentava passar um tom triunfal antes da fala de Trump. Após também enumerar diversos “feitos” de seu governo, ele disse:
— Os Estados Unidos voltaram!
Agências de notícia internacionais já davam como certa a retirada dos Estados Unidos do pacto. A agência Reuters, que teve acesso prévio ao documento que relata a saída dos EUA, antecipou que Trump iria assumir que mantém a sua promessa de olhar primeiro para os empregos dos norte-americanos, acrescentando que, com o Acordo de Paris, a China irá continuar a ser o maior poluidor até 2030.
À BBC, o conselheiro de política energética da Casa Branca, Michael Catanzaro, havia confirmado por volta das 15h20 desta quinta-feira, durante uma teleconferência com funcionários do Congresso, que "os Estados Unidos estão saindo do acordo de Paris". Catanzaro acrescentou que Trump "estará aberto e procurará imediatamente um acordo melhor".
— Vamos iniciar esse novo processo, que deve levar quatro anos no total. Mas vamos deixar muito claro para o mundo que não vamos cumprir o que a administração anterior concordou — afirmou ele.
Funcionários da Casa Branca já haviam adiantado essa informação na última quarta-feira a vários setores da imprensa americana. A informação de que Trump iria retirar o país do acordo havia sido noticiada pelo “New York Times” e pelas emissoras Fox News e CBS, e pelo site Axios, o mesmo que noticiou nesta segunda-feira que Michael Dubke deixaria o cargo de diretor de Comunicação da Casa Branca.
Pelo Twitter, na última quarta, Trump não negou nem confirmou a informação, mas afirmou que iria anunciar “sua decisão sobre o Acordo de Paris nos próximos dias”. Com a saída declarada, os EUA se juntam a Síria e Nicarágua como os únicos países a não aderirem ao Acordo de Paris. Existe, ainda, o temor de que a retirada do segundo maior poluidor do planeta — atrás apenas da China — influencie outros países.
Até Trump assumir o governo, os EUA exerceram papel de liderança na construção do Acordo de Paris, com o ex-presidente Barack Obama negociando diretamente com os chineses a participação das duas nações mais poderosas e poluidoras do planeta. O pacto, firmado em dezembro de 2015 em Paris, é considerado um marco no combate ao caos climático e tem como objetivo limitar o aquecimento global em 2 graus Celsius em relação às temperaturas pré-industriais.
Pelo acordo, cada país signatário apresentou seus compromissos de redução de gases do efeito estufa. China, Canadá e União Europeia já afirmaram que manterão seus compromissos assumidos, independente da posição americana. Em entrevista à AFP, uma autoridade europeia informou na última quarta-feira que a União Europeia e a China irão declarar apoio ao pacto durante uma cúpula no próximo fim de semana, em Bruxelas.
CHINA REAFIRMA COMPROMISSO
A China e a União Europeia preparam um comunicado conjunto reforçando o compromisso com o Acordo de Paris, numa resposta à saída dos EUA do pacto. No documento, que deve ser apresentado na próxima sexta-feira, Pequim e Bruxelas — com apoio de todos os 28 países-membros do bloco — se comprometem com a implementação total do acordo, incluindo o corte das emissões de gases-estufa, desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e ajudando a levantar US$ 100 bilhões anuais para ajudar os países mais pobres.
“A União Europeia e a China consideram a ação climática e a transição para energia limpa um imperativo mais importante que nunca” diz o rascunho do documento, que será assinado pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk; pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker; e pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang. “O avanço dos impactos das mudanças climáticas requerem uma resposta decisiva”.