PMs que jogaram homem da ponte são do mesmo batalhão envolvido no caso da Favela Naval
Em março de 1997, a TV Globo exibiu uma reportagem que mostrava um grupo de policiais militares extorquindo, humilhando, espancando e executando pessoas numa blitz em Diadema
Por O Globo — São Paulo
RESUMO
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GERADO EM: 04/12/2024 - 14:58
24° BPM/M: Histórico de Violência em SP Preocupa Autoridades
O 24° BPM/M, envolvido em caso de homem jogado de ponte em SP, tem histórico de violência desde '97. PMs afastados, governador e secretário criticam ações e preparam punições. Casos recentes de violência policial em SP geram perplexidade e questionam preparo da PM.
O 24° BPM/M (Batalhão de Polícia Militar/Metropolitano), em Diadema, no ABC, dos agentes acusados de jogar um homem do alto de uma ponte na Zona Sul de São Paulo, tem histórico antigo de violência policial. Denunciado pela TV Globo em 1997, o caso da Favela Naval ganhou repercussão internacional ao mostrar, em imagens feitas por um cinegrafista amador, abusos praticados por alguns membros da corporação.
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Em 7 de março de 1997, o PM Otávio Lourenço Gambra, conhecido como “Rambo”, do mesmo batalhão, torturou suspeitos e matou o mecânico Mário José Josino.
Gambra foi condenado a 15 anos de prisão e hoje está solto. Ele deixou o presídio em agosto de 2006 por decisão do juiz-corregedor da Justiça Militar, Luiz Alberto Moro Cavalcante.
Já no caso da ponte, 13 policiais que participaram da abordagem foram afastados nesta terça-feira pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.
Caso 'Favela Naval'
Em março de 1997, o Jornal Nacional uma reportagem que mostrava um grupo de policiais militares extorquindo, humilhando, espancando e executando pessoas numa blitz na Favela Naval, em Diadema, na Grande São Paulo.
As imagens, gravadas por um cinegrafista amador nos dias 3, 5 e 7 de março, foram entregues ao repórter Marcelo Rezende e revelavam a violências com que os PMs tratavam cidadãos no que, oficialmente, seria uma operação de combate ao tráfico de drogas.
Durante uma madrugada de março daquele ano, os PMs das 2ª Companhia do 24º BPM/M abordaram um veículo Gol com três homens a bordo. Os ocupantes foram torturados, e o motorista Jefferson Sanches Caputi foi um dos mais espancados com golpes de cassetetes.
O soldado Nélson Soares da Silva Júnior bateu nos pés dele e o Rambo deu golpes na cabeça, braços, costas e abdômen da vítima. Depois das torturas, os três ocupantes do automóvel, que não tinham dinheiro, foram liberados.
Assim que os rapazes entraram no carro, Rambo ainda sacou a arma e efetuou um disparo em direção ao automóvel. O mecânico Mário José Josino, de 29 anos, estava sentado no banco de trás. Ele foi ferido na nuca e levado para um hospital público de Diadema, onde morreu horas depois.
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Os PMs só não sabiam que o cinegrafista amador, Francisco Romeu Vanni, vinha acompanhando, escondido em um imóvel na Favela Naval, as constantes blitze na região realizadas pelos PMs, extorquindo e agredindo as pessoas abordadas no bairro.
Dez policiais militares envolvidos no episódio foram presos, processados, condenados e expulsos da corporação.
Escalada da violência policial em SP
Gravada em uma câmera de celular, a cena de um homem jogado de cima de uma ponte em um córrego na Cidade Ademar, na Zona Sul de São Paulo, é o mais novo episódio a pôr em xeque o preparo dos policiais militares e a política de segurança pública do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a cargo do secretário Guilherme Derrite. Tarcísio, assim como Derrite, criticou na terça-feira publicamente a agressão, e a morte de um ladrão de uma pequena loja por tiros nas costas dados por um PM de folga no dia 3 de novembro. Mas na manhã seguinte, nesta quarta-feira, um outro caso de violência policial tornou-se público. Desta vez, imagens mostram um motociclista já rendido, no chão, sendo agredido por agentes no bairro de Jardim Damasceno, na zona norte da capital paulista.
O caso que provocou maior repercussão ocorreu na madrugada de segunda-feira, quando testemunhas gravaram vídeo que mostra três PMs em uma ponte. Um deles encosta uma moto na mureta após uma abordagem, e outro segura pelas costas um homem com camiseta azul. De repente, o PM levanta o rapaz pelas pernas e o joga no córrego.
A Secretaria de Segurança Pública afastou 13 PMs envolvidos na ação, que estariam dispersando um baile funk nas proximidades. O Jornal Nacional informou na noite de terça-feira que a vítima é um entregador chamado Marcelo, que feriu o rosto na queda e foi levado para o hospital depois de ser socorrido por moradores de rua que estavam embaixo da ponte.
— Eu gostaria de uma explicação desse policial aí e o porquê ele fez isso — disse ao telejornal da TV Globo o pai de Marcelo, o mecânico Antônio Donizete do Amaral.
Pela manhã, nas redes sociais, Tarcísio afirmou que “aquele que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa de uma ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda”. Secretário de Segurança Pública, Derrite divulgou um vídeo dizendo que a ação na ponte “não encontra respaldo nos procedimentos operacionais” e “ações isoladas não podem denegrir a imagem” da PM.
O governador convocou na tarde de terça-feira uma reunião de emergência com o comandante-geral da corporação, Cássio Araújo de Freitas, o subcomandante-geral, coronel José Augusto Coutinho, e o corregedor-geral, Silvio Hiroshi Oyama. O encontro seria para corrigir rumos e punir excessos da PM.
A publicação do governador na manhã de terça-feira também se refere à morte de Gabriel Renan da Silva Soares, no dia 3 de novembro, atingido com 11 tiros nas costas ao tentar furtar pacotes de sabão em um mercado da Zona Sul da capital paulista. Vídeos divulgados esta semana contrariam a versão do policial Vinicius Lima Britto, autor dos disparos, de que ele atirou em legítima defesa, registrada no boletim de ocorrência da Polícia Civil. O agente, que estava de folga quando atirou em Renan, foi afastado e será investigado pela Corregedoria.
Os dois casos repercutiram ao mesmo tempo em que terça-feira uma perícia confirmou o que a Polícia Militar já havia antecipado como provável: partiu da arma de um policial a bala que matou o menino Ryan de Silva Andrade, de 4 anos, no morro de São Bento, em Santos, no dia 5 de novembro, em uma incursão onde também foi morto um adolescente.
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