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GERADO EM: 21/08/2024 - 16:04

Investigação revela conexão do PCC com agência de futebol

Mensagens revelam que membro do PCC era sócio oculto de agência de jogadores de futebol, envolvido em captação e pagamentos a atletas. A investigação aponta para lavagem de dinheiro da facção. Japa do PCC foi encontrado morto em circunstâncias suspeitas. Colaboração premiada revela série de crimes, incluindo sequestro e tortura. Investigações seguem sobre os crimes e a relação com o futebol.

Mensagens obtidas pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) revelam que Rafael Maeda Pires, o Japa do PCC, atuava como sócio oculto de uma agência de jogadores de futebol. As conversas indicam que o integrante do Primeiro Comando da Capital — encontrado morto dentro de um carro no estacionamento de um prédio de luxo no Tatuapé, em maio do ano passado — fazia pagamentos, participava da captação de jogadores e tinha voz ativa nas decisões da FFP Agency Ltda, empresa que atua no agenciamento de vários atletas da elite do futebol brasileiro.

As mensagens foram entregues ao MPSP pelo corretor de imóveis Antonio Vinícius Lopes Gritzbach. Após ser preso sob acusação de ser o mandante do homicídio do megatraficante internacional e integrante do PCC Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta — morto a tiros em 2021 —, Gritzbach resolveu contar o que sabia sobre os esquemas de lavagem de dinheiro da facção e fechou um acordo de colaboração premiada com a Promotoria, homologado pela Justiça paulista em abril passado.

Nas conversas — extraídas de um grupo de WhatsApp composto por colaboradores da empresa e por seus sócios, os agentes de jogadores Felipe D'Emílio Paiva e Filipe de Lucca Morais Tancredi —, são mencionados os nomes dos jogadores Du Queiroz (ex-Corinthians, hoje no Grêmio), Igor Formiga (ex-Corinthians, hoje no Novorizontino), Caio Matheus (São Paulo), Felipe Negrucci (São Paulo), Gabriel Sara (ex-São Paulo, hoje no Galatasaray) e Gustavo Scarpa (Atlético Mineiro). Não há nenhum indício de que os atletas soubessem de qualquer relação da empresa com o integrante do PCC.

Conversa entre o Japa do PCC e o agente de jogadores de futebol Filipe Tancredi — Foto: Reprodução
Conversa entre o Japa do PCC e o agente de jogadores de futebol Filipe Tancredi — Foto: Reprodução

Uma troca de mensagens, de junho de 2021, mostra como Japa do PCC atuava na captação de atletas para a empresa. Na ocasião, o agente Filipe Tancredi anunciou que a empresa tinha interesse em fechar um contrato com o atleta Du Queiroz, que jogava no Corinthians: "Estamos fechando mais um jogador do Corinthians. Já pedimos referência pro Duílio, mas seria bom falar com o Danilo antes. Será que conseguimos?" — segundo a investigação, ele mencionava o ex-jogador e ex-técnico das divisões de base do Corinthians Danilo Andrade. "Boa tarde. Qual jogador é que vou falar com o Danilo?", respondeu o integrante do PCC.

Após Tancredi afirmar que se tratava de Du Queiroz, Japa do PCC disse que faria o contato. "Falei com Danilo agora. Falou que é o melhor jogador que ele tem lá no time. É o próximo Paulinho (referência ao volante, ídolo do Corinthians). Melhor jogador que ele tem no elenco do sub-23". Semanas depois, com a negociação já avançada, o traficante enviou para o grupo uma foto de um maço de dinheiro: "Du Queiroz tá separado", escreveu. "Fechou, vou marcar com o pai dele hoje", respondeu o agente Filipe Tancredi.

Foto de maço de dinheiro enviada por Japa do PCC ao agende de jogadores de futebol Filipe Tancredi — Foto: Reprodução
Foto de maço de dinheiro enviada por Japa do PCC ao agende de jogadores de futebol Filipe Tancredi — Foto: Reprodução

Outras mensagens mostram que Japa do PCC fazia pagamentos a jogadores para a empresa. "Ted Formiga. Pago", informou o traficante após enviar um comprovante de pagamento. "Coisa linda, irmão. Muito obrigado por todo suporte. Esse vai nos dar alegrias", respondeu o agente Tancredi. Eles se referiam ao jogador Igor Formiga, então no Corinthians.

Em outro trecho, Felipe D'Emílio Paiva pediu ajuda ao grupo para providenciar dinheiro para fechar um contrato. "Estamos no aguardo aqui no escritório, precisamos levar o dinheiro hoje lá para o pai do garoto, pois está tendo muito assédio. Inclusive um empresário grande está tentando marcar um almoço amanhã com o pai do garoto", escreveu o agente. Japa do PCC se prontificou a arrumar o dinheiro: "Já já tá na mão". Todas as mensagens são de 2021. Na ocasião, Japa do PCC já tinha um histórico criminal: segundo a polícia paulista, ele atuava como braço direito do megatraficante Cara Preta e já havia sido até condenado, em 2015, a 3 anos e 6 meses de prisão após ser preso em flagrante com uma arma com numeração raspada.

Como o foco do MPSP é a lavagem de dinheiro do PCC, funcionários de clubes e jogadores não são alvo da investigação até o momento. O objetivo da Promotoria é entender como a atividade de agenciamento de atletas irrigava os cofres da facção. Até agora, os promotores não encontraram indícios de que jogadores e profissionais dos clubes soubessem da atuação de Rafael Maeda como traficante.

Crimes em série

A partir das conversas e da delação premiada, o MPSP espera avançar nas investigações sobre lavagem de dinheiro do PCC envolvendo o futebol. Em depoimento, o delator Gritzbach descreveu uma série de crimes cometidos por Japa do PCC. Um deles seria o sequestro seguido de uma sessão de tortura do próprio Gritzbach, acusado pelo PCC de ter dado um desfalque de R$ 100 milhões nos cofres da facção e, em seguida, de ter mandado matar Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, o dono do dinheiro. Gritzbach afirma ter passado nove horas em poder dos sequestradores, num "tribunal do crime" do PCC. Ele foi libertado sob a condição de devolver o dinheiro, mas acabou preso pela polícia e aceitou colaborar com a investigação.

Japa do PCC foi encontrado morto, em 14 de maio do ano passado, dentro de um carro blindado no estacionamento de um condomínio de luxo no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo. Semanas depois, ele prestaria depoimento sobre o homicídio de Cara Preta, seu amigo e sócio. Inicialmente, a Polícia Civil investigava a hipótese de que Japa teria cometido suicídio, já que estava sendo pressionado pelo "tribunal do crime" da facção.

No entanto, essa linha perdeu força diante de descobertas feitas pela perícia. A pistola 9mm encontrada no veículo tinha 16 cápsulas intactas. Além disso, Maeda foi morto com um tiro do lado esquerdo da cabeça — e a arma foi encontrada próxima à mão direita dele. A investigação da morte segue em andamento. O GLOBO tentou, mas não conseguiu contato com a FFP Agency Ltda.

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