Internet em escolas públicas oscila entre falta de controle da qualidade e conexões ruins
Quase um ano após lançamento do programa Escolas Conectadas, 48% das unidades não têm sequer monitoramento de qualidade da rede
Mais de nove meses após o governo federal lançar o programa Escolas Conectadas, que prevê fornecer boa internet de banda larga a todas as escolas públicas até 2026, 48% das 138 mil unidades de ensino do país não têm nem o monitoramento da qualidade de rede. Não há informações básicas sobre a velocidade da conexão em 66.715 escolas. Já as unidades acompanhadas revelam que a meta está longe de ser alcançada, com a maior parte apresentando qualidade de rede ruim ou péssima.
De acordo com levantamento do GLOBO, das 71,1 mil unidades de ensino com dados disponíveis de conexão, 57,6 mil contam com conexão ruim ou péssima (42% do total), enquanto apenas 13,5 mil possuem rede boa ou ótima (cerca de 10%). Os dados foram reunidos a partir do Sistema de Medição de Tráfego de Internet (Simet), considerando escolas das redes municipal ou estadual.
O banco de dados, atualizado diariamente, é a principal fonte sobre a qualidade da internet nas escolas para o Ministério da Educação. Mas não há indicação das que não possuem nenhum tipo de internet. Segundo o Censo de 2023, eram 15,7 mil unidades.
O MEC reconheceu que as escolas sem informações básicas não têm o software “Medidor Educação Conectada”, impossibilitando a pasta de saber a velocidade do serviço nestes locais. O ministério ressaltou que “existem outras fontes de informação de velocidade contratada disponibilizadas pelas políticas federais”, mas não informou quais seriam.
Norte mais afetado
O Norte é a região com maior dificuldade. No Amapá, 90% das escolas públicas não têm dados sobre a velocidade de rede — 637 das 787 unidades. A maioria das escolas de Roraima (86%) e Acre (82%) não possui a rede monitorada.
A conexão inadequada por falta de rede ou de velocidade — conforme os parâmetros de do programa Escolas Conectadas — abrange a maioria das escolas. O pior estado é o Mato Grosso do Sul, com 64% da rede pública com internet de má qualidade.
De acordo com o MEC, desde o lançamento do programa, mais de 120 mil escolas já foram alcançadas pelas etapas iniciais de implementação da internet. “Dos R$ 8,8 bilhões totais de investimentos para a iniciativa, parte será alocada em sinal de internet, outros em aquisição de equipamentos e, ainda, na formação das equipes pedagógicas”, diz a pasta. Destes investimentos, R$ 6,5 bilhões fazem parte do Novo PAC e o restante vem do Leilão do 5G, Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), do Programa de Inovação Educação Conectada e da execução da lei de 2021 sobre a garantia de acesso à internet.
“Estamos garantindo que as escolas que não têm banda larga fixa sejam as primeiras a serem atendidas. Nesse momento, 79% dessas escolas estão nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, então foram as escolas que tiveram prioridade nessas primeiras etapas da estratégia”, disse o ministro de Estado da Educação, Camilo Santana, em nota.
O programa foi lançado em setembro de 2023, e é tocado em parceria entre o MEC e o Ministério das Comunicações. A pasta das Comunicações afirmou que “participa da escolha das soluções de conectividade mais eficientes, com avaliação das alternativas tecnológicas e comerciais disponíveis que melhor se adaptem às diferentes situações das escolas”.