'Frouxidão' x 'nunca fui bunda-mole': proibição de celular nas escolas gera racha na direita
Dificultar que estudantes possam gravar seus professores para denunciar supostas doutrinações ideológicas foi a principal reclamação dos críticos do projeto
Por Alice Cravo e Bruno Alfano
RESUMO
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GERADO EM: 11/12/2024 - 14:54
Proibição de celular nas escolas gera racha ideológico
A proibição de celular nas escolas divide a direita, com críticos preocupados com a impossibilidade de gravar professores para denunciar doutrinações. Troca de acusações entre parlamentares, com destaque para críticas de "bundamolice" e defesa da medida em prol dos direitos dos estudantes. A discussão acalorada na Comissão de Constituição e Justiça revela racha interno e divergências sobre a posição ideológica dos envolvidos.
A votação da proibição de celular nas escolas gerou um racha entre parlamentares de direita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Houve troca de acusações de “bundamolice” e de que é preciso “autorização para entrar no clubinho da direita”. Após a aprovação, o tom da discussão subiu entre os deputados bolsonaristas. A presidente da CCJ, Caroline De Toni (PL - SC), chegou a pedir intervenção da segurança para acalmar os ânimos, e Nikolas Ferreira (PL - MG) precisou se defender por ter pautado o tema na Comissão de Educação.
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De um lado, Marcos Pollon (PL - MS), Bia Kicis (PL - DF), Gilson Marques (Novo - SC) e Julia Zanatta (PL - SC) foram contrários ao texto. Do outro, Soraya Santos (PL - RJ), Alberto Neto (PL - AM), Nikolas Ferreira (PL - MG) e Diego Amorim (Republicanos - PR) defenderam a medida.
A impossibilidade de que os estudantes pudessem gravar seus professores para denunciar supostas doutrinações ideológicas era a principal reclamação dos críticos do projeto. Já a ala que defendia a matéria entende que essa liberação foi concedida pelo texto ao autorizar o uso dos smartphones para “garantir os direitos fundamentais” do estudante.
— Agora vamos precisar pedir autorização para entrar no clubinho. Se não, não vamos poder dizer que somos conservadores ou de direita — reclamou Amorim, relator do texto na Comissão de Educação, logo após a aprovação do texto por 45 a 14. — Se for assim, o deputado Nikolas [Ferreira] também é de esquerda agora, já que ele pautou o projeto na Comissão de Educação.
A fala rebatia os argumentos do deputado Marcos Pollon, que, durante a discussão do texto, criticou colegas da direita.
— Começo repetindo uma piada que escuto sempre: “No Brasil, até a direita é de esquerda”. Fico surpreso de ver alguns colegas que, de coração, com sinceridade, acreditam que são conservadores e defendem um projeto esquerdista desse — afirmou Pollon.
Depois de Alberto Neto e Soraya Santos defenderem o texto durante a discussão, Zanatta afirmou que a direita tem "muitos revolucionários de marcha lenta".
— [A direita] Está precisando de menos bundamolice, de menos frouxidão, para que a gente avance pautas necessárias firmes e fortes em defesa das nossas liberdades — argumentou.
Neto reagiu ao comentário afirmando que foi chamado de "bunda-mole".
— Já troquei tiro com bandido, agora na eleição enfrentei o governo, a prefeitura e a esquerda. Única coisa que não fui na vida foi bunda-mole — defendeu-se.
Em seguida, Zanatta afirmou que não citou nomes em sua declaração, mas que o "chapéu serviu" no parlamentar.
— Não citei ninguém nominalmente, mas, se o chapéu serviu, eu não posso fazer nada. Não chamei ninguém de bunda-mole, o senhor colocou o chapéu do meu discurso.
Depois da aprovação, Pollon e Diego Garcia, que estavam um ao lado do outro, bateram boca, e a presidente da CCJ chegou a pedir a intervenção da Polícia Legislativa, mas a confusão não escalou a ponto de os agentes de segurança precisarem intervir. Pollon acusou Garcia de ser “hipócrita”. E o relator do texto na Comissão de Educação rebateu, chamando o colega de “negacionista”.
Na confusão, o presidente da Comissão de Educação, Nikolas Ferreira, pediu até para se defender por ter pautado o tema.
— Não preciso provar minha fidelidade ao que eu falo. Porque eu vivo aquilo que prego. Se não fosse esse projeto, seria o do governo, que seria muito pior — afirmou.
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