Histórias, detalhes e personagens de crimes reais que mais parecem ficção
Informações da coluna
Ullisses Campbell
Com 25 anos de carreira, sempre atuou como repórter. Passou pelas redações de O Liberal, Correio Braziliense e Veja. É autor da coleção “Mulheres Assassinas”
Saidinha de Natal: assassino dos Richthofen, Cristian Cravinhos aguarda teste cumprir pena em liberdade; entenda
Assassino da mãe de Suzane, ele chegou a ganhar o direito de cumprir a pena em liberdade, mas foi preso por violar regras
RESUMO
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GERADO EM: 24/12/2024 - 19:12
Cristian Cravinhos: Breve liberdade no Natal frustrada por violação de regras, regime aberto em jogo.
Cristian Cravinhos, condenado por matar a mãe de Suzane Von Richthofen, teve breve liberdade no Natal, mas foi preso por violar regras. Seu desejo de regime aberto depende de testes psicológicos. Justiça avalia sua capacidade de reinserção após comportamento problemático e crime grave.
Solto para passar o Natal e o Ano-Novo com a família, Cristian Cravinhos comemorou ontem, véspera de Natal, o que seria sua última saidinha. Com quase 50 anos, ele foi condenado em 2004 a 38 anos de cadeia por ter assassinado a pauladas a mãe de Suzane Von Richthofen. Em 2018, ele ganhou o direito de cumprir o restante da pena em liberdade, mas foi preso novamente por violar as regras do regime aberto e tentar subornar um policial. Ganhou mais 4 anos de condenação.
Pelos cálculos feitos nos autos do processo de execução penal, Cristian já passou quase 8 mil dias em Tremembé. Em todas as saidinhas, ele fica ativo nas redes sociais. Acorda e faz uma postagem dizendo “bom dia” aos seus seguidores. Monta em motos esportivas para avisar que seu dia será radical. Na semana do Natal, ele posou ao lado do Papai Noel e disse que “se Deus quiser”, essa será sua última saidinha. “Feliz Natal para todos”, desejou na legenda da foto postada no Instagram.
A Justiça não costuma ser benevolente com criminosos que violam regimes mais brandos de prisão, muito menos com quem reincide após ganhar a liberdade. Considerada pela Polícia de São Paulo a maior estelionatária do país, Dominique Chaves Scharf, de 64 anos, foi condenada em 1994 a 46 anos de prisão por uma série de crimes, incluindo fraude, falsificação de documentos, emissão de cheques roubados, falsidade ideológica, receptação, formação de quadrilha, assalto a bancos e joalherias, além de tentativa de homicídio. Nesse período, ela esteve fora da cadeia duas vezes e voltou a cometer crimes. Com isso, Dominique será libertada da Penitenciária Feminina de Tremembé em 2025, somente após cumprir o período máximo de 30 anos de prisão permitido pela legislação brasileira. Ou seja, ela nunca migrou para o regime aberto, como almeja o irmão de Daniel Cravinhos.
Para ganhar o tão sonhado regime aberto, Cristian deposita todas as suas fichas no resultado do teste de Rorschach, feito no dia 28 de novembro. Aplicado por psicólogos, o exame, que revela a personalidade do criminoso, foi uma exigência da Justiça. No último laudo anexado em seu processo, consta que Cristian demonstra um discurso habilidoso, bem articulado e loquaz, com charme, encanto e uma sinceridade superficial. “Possui boa inteligência compatível com sua escolaridade e um sentimento grandioso de valor próprio. Não apresenta alucinações ou outros sinais de pensamento irracional, tampouco sinais de nervosismo ou manifestações neuróticas. O discurso, embora livre, contém diversas informações divergentes dos autos”, diz o laudo.
Durante a perícia, Cristian afirmou que já se perdoou pelo ato criminoso e acredita que pode se tornar “uma pessoa de bem”. Relatou que teve pensamentos suicidas durante o primeiro ano de prisão, mas nunca realizou planejamentos ou ações nesse sentido. “Há uma demonstração tênue de empatia e preocupação genuína por outras pessoas”. “Procura convencer a perita de sua inocência e de sua motivação para mudar, apresentando aparente sinceridade. Apresenta controle comportamental deficiente e histórico de comportamento problemático na adolescência. Refere sentimentos de remorso e demonstra objetivos realistas, como criar os filhos e trabalhar, afirmando que pretende atuar no negócio da família. Nota-se uma ligeira tendência à impulsividade”. Sobre o assassinato de Marísia von Richthofen, o laudo diz o seguinte: “Cristian assume parcialmente a responsabilidade por suas ações, mas atribui parte de sua conduta às circunstâncias que enfrentou”.
No ano passado, Cristian obteve um laudo criminológico favorável, apontando bom comportamento, arrependimento e ausência de periculosidade. O documento, solicitado pelo Ministério Público, reforçou a possibilidade de sua progressão para o regime aberto, destacando sua integração às normas sociais, atividades carcerárias exemplares e planos para trabalhar no ramo de design de motos. No entanto, apesar desse avanço, a juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani determinou a realização de um novo exame criminológico, incluindo outro teste de Rorschach, antes de decidir sobre a liberdade do assassino. Segundo a juíza, Cristian tem de passar por um novo exame justamente por causa da gravidade do crime cometido, o impacto nacional do caso e a necessidade de cautela para avaliar sua aptidão à reinserção social. Em outubro de 2018, a juíza Margarete Pellizari, que condenou Cristian por suborno, escreveu na sentença que ele “não merece e não pode retornar ao seio da sociedade”. Por ora, o assassino da mãe de Suzane vai voltar ao xilindró no dia 3 de janeiro.