Histórias, detalhes e personagens de crimes reais que mais parecem ficção
Informações da coluna
Ullisses Campbell
Com 25 anos de carreira, sempre atuou como repórter. Passou pelas redações de O Liberal, Correio Braziliense e Veja. É autor da coleção “Mulheres Assassinas”
Dívidas de R$ 600 mil, financiamento atrasado e até gato de luz: a crise financeira na família de Flordelis após prisão
Filhos da pastora que permaneceram na casa em Niterói onde o pastor Anderson foi morto acumulam débitos referentes à administração do local
RESUMO
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GERADO EM: 15/12/2024 - 23:58
Crise financeira atinge família de Flordelis
Família de Flordelis enfrenta crise financeira com dívidas de R$ 600 mil, atrasos em financiamento e até gato de luz. Filhos correm risco de despejo e prisão. Advogada aponta injustiça na condenação da pastora e dificuldade em receber direitos autorais de músicas gospel.
Dois anos após a condenação da pastora Flordelis a 50 anos de reclusão pelo Tribunal do Júri, dez filhos adotivos e afetivos que permaneceram na casa da ex-deputada em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, enfrentam dificuldades financeiras, correndo o risco de despejo ou até de prisão por furto de energia. Sem a presença da matriarca, quem ficou lida com dívidas que, juntas, ultrapassam a cifra de R$ 600 mil.
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A pendência mais expressiva pode resultar na perda do imóvel. A prestação do financiamento da casa que serviu de palco para o assassinato do pastor Anderson do Carmo, em 2019, está atrasada desde que a então mulher da vítima foi presa, em 2021. A residência no bairro do Badu tem três andares, 12 quartos, dezenas de camas, piscina, sótão e porão.
Relembre imagens do caso Flordelis
A casa de Niterói, aliás, está envolvida em um imbróglio antigo. Foi adquirida pelos irmãos Carlos e Pedro Werneck por meio de um financiamento na Caixa Econômica Federal. Por 20 anos, a dupla de empresários apoiou as atividades filantrópicas do casal de pastores. A ajuda cessou depois que a polícia apontou que Flordelis estava por trás do assassinato do companheiro. Após ser eleita deputada federal, em 2018, ela havia assumido as prestações do imóvel. Hoje, com a dívida no nome dos Werneck, os empresários exigem que o local seja desocupado.
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Só o atraso das prestações do financiamento soma aproximadamente R$ 500 mil. “A vida da família ficou toda desestruturada desde que a Flordelis foi presa. Alguns filhos que ficaram na residência trabalham como garçonete e motorista de aplicativo. Mas a renda é insuficiente para bancar o pagamento da casa”, explica a advogada Janira Rocha, representante de Flordelis. O imóvel pode ser posto em leilão pela Caixa, e a família ficaria na iminência de ser despejada caso não o desocupe imediamente.
Esse não seria o primeiro lar que a família de Flordelis perde por causa de inadimplência. Uma residência pela qual a pastora passou com seus 50 filhos — entre adotivos, afetivos e biológicos —, em São Gonçalo, cidade vizinha a Niterói, também foi adquirida com financiamento da Caixa Econômica Federal. As prestações mensais eram de cerca de R$ 2 mil. Com o carnê atrasado, o banco levou a casa a leilão.
O Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) do endereço em Niterói também está em aberto há mais de um ano, acumulando um débito superior a R$ 10 mil. No Brasil, o atraso nessa taxa pode resultar na execução fiscal do imóvel, o que também geraria um leilão para quitação da dívida. O prazo para que isso ocorra depende de diversos fatores, incluindo os procedimentos adotados pelo município e o tempo de tramitação judicial.
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A família de Flordelis também ficou sem dinheiro para pagar as contas de luz e água, gerando uma dívida de cerca de R$ 10 mil. Com a inadimplência, a empresa encarregada da distribuição de energia elétrica em Niterói, Enel, cortou o fornecimento quando o calote completou dois meses, deixando todos à luz de velas. Na semana passada, uma visita dos técnicos da concessionária descobriu que os moradores do local haviam feito uma ligação clandestina, conhecida popularmente como “gato”. Na prática, eles ligaram um fio do poste externo e levaram até a casa sem passar pelo equipamento que faz o registro do consumo.
Na última quarta-feira, os técnicos da Enel foram até a casa de Flordelis e desfizeram a gambiarra, deixando a família no escuro novamente. A empresa emitiu um Termo de Ocorrência de Inspeção (TOI) e repassou uma nova fatura para cobrar a energia furtada por cerca de 60 dias. Os débitos dos filhos de Flordelis com a companhia elétrica somam aproximadamente R$ 5 mil, segundo cálculos da advogada da família.
Furtar energia é crime previsto no artigo 155 do Código Penal, com pena de até oito anos de prisão. O responsável pela casa é André Luiz de Oliveira, filho afetivo de Flordelis. Se fosse preso pelo “gato de luz”, ele poderia voltar para a Cadeia Pública Patrícia Acioli, em São Gonçalo, onde esteve recolhido por envolvimento no assassinato do pastor Anderson. Ele é acusado de uso de documento falso, associação criminosa armada e de ajudar a mãe a organizar a morte do pastor. André Luiz foi inocentado no júri de 2022, mas o Ministério Público recorreu, e ele enfrentará um novo julgamento em breve. Atualmente, ele trabalha como motorista de aplicativo.
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Para tentar arrecadar fundos para pagar tantas dívidas, Rayane dos Santos, moradora do imóvel, fez um bazar com as roupas de alta costura e as perucas icônicas da pastora, mas o público não demonstrou muito interesse pelos itens. Rayane entrou na família como filha afetiva de Flordelis e, posteriormente, foi adotada por Simone, tornando-se neta da pastora. Ela também é acusada de envolvimento no assassinato de Anderson do Carmo. Assim como André Luiz, foi inocentada em julgamento realizado em 2022 e enfrentará um novo júri.
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Flordelis foi condenada em 2002 por homicídio triplamente qualificado e tentativa de homicídio duplamente qualificado, além uso de documento falso e associação criminosa armada. Hoje, ela encontra-se recolhida na solitária da Penitenciária Talavera Bruce, em Bangu, por ter sido flagrada usando telefone celular.
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Ao GLOBO, Janira Rocha confirmou as dificuldades financeiras da família de Flordelis. A pastora deve, inclusive, dinheiro à própria advogada. Janira atribui a dificuldade financeira à condenação “injusta” da sua cliente. Diz que a cantora não vem recebendo repasses referentes aos direitos autorais por suas músicas gospel, que são executadas excessivamente em plataformas como Spotify, Apple Music e YouTube. Esse dinheiro estaria retido na gravadora MK. Procurados, os representantes da empresa não quiseram se manifestar.