Segredos do crime
PUBLICIDADE
Segredos do crime

Histórias policiais, investigações e bastidores dos crimes

Informações da coluna

Vera Araújo

Jornalista investigativa há 30 anos e autora de "Mataram Marielle" e "O Plano Flordelis: Bíblia, Filhos e Sangue". Passou por "Jornal do Brasil" e "O Dia"

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 25/12/2024 - 18:34

Procurador investiga tiros na PRF: afastamento e pedido de informações pelo MPF

Procurador investiga agentes da PRF por atirarem em jovem na cabeça. Afastamento dos policiais foi determinado. MPF pede informações detalhadas e acautelamento das armas. Preocupação com militarização da PRF em vez de controle policial eficiente. Solicitação de assistência à vítima e acesso a procedimentos administrativos. Médicos do hospital serão ouvidos.

O procurador da República Eduardo Santos de Oliveira Benones instaurou um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para apurar a conduta de três agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que admitiram ter atirado contra o carro em que Juliana Leite Rangel, de 26 anos, viajava com a família. A jovem foi atingida na cabeça por um disparo, na noite de terça-feira (24), véspera de Natal, durante uma abordagem policial. Benones, coordenador de Controle Externo da Atividade Policial, é responsável por investigar supostas irregularidades em ações de agentes das polícias federais.

O carro da família de Juliana foi abordado pela PRF na Rodovia Washington Luís (BR-040), no município de Duque de Caxias, por volta das 21h. Segundo Alexandre da Silva Rangel, de 53 anos, pai da jovem, os agentes da PRF dispararam contra o veículo enquanto ele tentava encostar. Alexandre relatou que os policiais o acusaram de ter efetuado disparos, apesar de ele afirmar que nunca sequer teve uma arma. Ele foi atingido na mão esquerda e liberado do hospital após atendimento. O estado de saúde de Juliana é gravíssimo.

A Polícia Federal instaurou imediatamente um inquérito para apurar os fatos ocorridos na abordagem, paralelamente à investigação interna conduzida pela PRF. Os três agentes, segundo a PRF, eram policiais rodoviários federais que costumam trabalhar mais em serviço administrativo e estavam fazendo patrulhamento em escala de plantão de Natal.

Ao abrir o procedimento investigatório criminal, Benones solicitou à Superintendência da Polícia Federal informações detalhadas sobre o caso, a identificação dos agentes envolvidos e o afastamento deles das funções de policiamento. O procurador também requisitou o recolhimento dos veículos utilizados na abordagem, com a devida preservação de seu estado para análise.

— Estamos a ponto de levar os policiais que mataram a menina Heloísa em 2023 a júri popular e a expectativa era a de que isto não acontecesse mais. Infelizmente, aconteceu de novo! Por isto, vemos com muita preocupação o fato de estarem discutindo o aumento das atribuições da PRF com ainda mais militarização e ostensividade, em vez de estarmos debatendo publicamente a criação de mecanismos mais eficientes de controle das forças policiais, como a implementação efetiva das câmeras corporais. Precisamos de segurança pública, mas o custo disto não pode continuar a ser a perda de vidas humanas em vias públicas. Neste sentido, ninguém está seguro. Temos que restabelecer a diferença entre polícia e forças armadas — afirmou o procurador da República.

Pais de Juliana Leite Rangel — Foto: Márcia Foletto
Pais de Juliana Leite Rangel — Foto: Márcia Foletto

Embora as armas dos agentes já tenham sido apreendidas pela Polícia Federal, o procurador reiterou no documento a necessidade de acautelamento das mesmas, destacando:

"O recolhimento e acautelamento das armas, de qualquer calibre ou alcance, que estavam em poder dos policiais envolvidos, independentemente de terem sido utilizadas ou não, para realização de perícia."

Nas diligências preliminares, o Ministério Público Federal (MPF) solicitou ainda informações sobre a assistência prestada pela PRF à vítima sobrevivente e a seus familiares, além de acesso ao procedimento administrativo instaurado pelo controle interno da Superintendência (Corregedoria) da PRF. Também foi expedido um ofício à Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora-Rio (Concer), requisitando imagens captadas na noite do dia 24, entre 20h e 22h.

Foi solicitado pelo MPF que o diretor do Hospital Municipal Adão Pereira Nunes, onde Juliana está internada, forneça os boletins médicos e informações atualizadas sobre o estado de saúde da vítima e de seu pai.

A equipe da polícia do MPF foi acionada por Benones para visitar o hospital e identificar a equipe médica responsável pelo atendimento de Juliana, para futuros depoimentos.

Mais recente Próxima 'Daniel Silveira estava urinando sangue', diz advogado, sobre a saúde de ex-deputado preso por ordem de Moraes