Aos mangueirenses que andam precisando segurar a ansiedade até a final que vai escolher o samba da Verde e Rosa para 2025, no dia 19 de outubro, um alento: foram divulgadas imagens de algumas fantasias comerciais e de comunidade desenhadas pelo carnavalesco Sidnei França, estreante na agremiação.
- Ao mestre com carinho: Beija-Flor vai relembrar passagem de Laíla pelo Salgueiro
- O futuro é agora: alunos de projeto social da Vila conquistam posto de 3º casal da escola
No próximo carnaval, a Mangueira aposta no enredo "À flor da terra - No Rio da negritude entre dores e paixões", que vai celebrar a influência dos povos bantus na construção social da Cidade Maravilhosa. Os protótipos, claro, trazem búzios, brilhos, penas, tecidos e fitas de texturas variadas.
– Estamos dando luz à presença bantu no Rio de Janeiro, seu estabelecimento no território carioca, seu diálogo com diferentes religiões, influência na cultura, e sua fundamental presença na vivência da cidade, apesar de tantas tentativas de apagamento da sua contribuição à nossa negritude – afirma Sidnei.
Uma representação que exemplifica o diálogo citado pelo carnavalesco é a fantasia "Afrocatolicismo": o figurino traz a imagem de um Jesus estilizado com inspirações em máscaras de divindades bantus, além de outros ícones cristãos, evidenciando como o catolicismo foi incorporado e reinventado por esses povos.
Os bantus representaram a maioria dos negros que chegaram no Cais do Valongo, na Pequena África, durante o período da escravidão. A forte influência, consequentemente, atravessou diversos segmentos, como os hábitos culinários, por exemplo. É o que retrata a fantasia "Comer um quiabo pra não pegar um feitiço".
O quiabo era importante elemento culinário dos povos bantus, inclusive como forma de proteção, sendo utilizado em diferentes cultos religiosos até os dias atuais, inclusive como forma de oferenda a entidades das religiões afro-brasileiras.
Outro elemento de costume bantu incorporado à cidade e trazido pela Mangueira é o rito do gurufim. A relação com a morte como possibilidade de celebrar a vida e o ciclo da existência ainda é vista em rituais como os gurufins, que transformam velórios em festas, prática comum entre a comunidade do samba.
Beber, cantar e comer como maneira de exaltação daquele que se foi é uma das maneiras de lidar com a passagem da vida sem um olhar de lamentação, conforme ensinam as sabedorias bantu.
A fantasia "Gurufim: não chorar a morte, festejar a vida!" saúda três mestres carnavalescos que tiveram trajetórias marcantes pelo carnaval carioca (e pela Mangueira) e fizeram a passagem recentemente: Max Lopes, Roberto Szaniecki e Rosa Magalhães.