Receita de Médico
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Um debate sobre pesquisas, tratamentos e sintomas.

Informações da coluna

Por Ludhmila Hajjar

A depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofram com esse transtorno. Na América Latina, o Brasil é o país com maior prevalência de depressão, atualmente diagnosticada em aproximadamente 25% da população.

A depressão é uma doença mental que atinge todas as faixas etárias, e hoje chamam a atenção de todo o mundo dois grupos de maior prevalência, os jovens e os idosos. Especialmente quando de longa duração e com intensidade mais grave, a depressão pode se tornar uma crítica condição de saúde, resultando em sofrimento e incapacidade no trabalho, na escola ou no meio familiar além de ser a principal causa de suicídio. No Brasil, a cada 45 minutos ocorre uma morte por suicídio, e esse número dobrou nos últimos 20 anos, superando as mortes em acidentes de moto ou por HIV. Essa elevação vai contra a tendência mundial, mas é fato na América Latina, possivelmente por maiores taxas de pobreza, de desigualdade, de violência em um cenário de ineficiência de estratégias de prevenção.

A depressão ocorre por fatores genéticos e defeitos bioquímicos habitualmente associados a fatores ambientais, denominados gatilhos. São eles: traumas na infância, perda de pessoas queridas, mudanças significativas na rotina, uso de substâncias psicoativas e outros. A pandemia pela Covid-19 aumentou em aproximadamente 30% os transtornos mentais, dentre eles especialmente a depressão e a ansiedade. Fatores como o isolamento, as perdas, o luto, o sofrimento, a incerteza, a perda do poder aquisitivo e o abuso de álcool, drogas ilícitas e de medicamentos psicotrópicos como sedativos, ansiolíticos, hipnóticos e estimulantes são os responsáveis por essa atual pandemia de doenças mentais que assola o mundo após a pandemia pela Covid-19.

A depressão durante a infância e adolescência muitas vezes se manifesta a partir de sintomas diferentes daqueles apresentados por adultos, por isso, uma mudança brusca de comportamento precisa ser avaliada. Em um adulto jovem, a depressão tem um conteúdo mais subjetivo, com mais fadiga, melancolia e perda de energia. O idoso pode ter um quadro similar, mas, às vezes, com mais apatia e sintomas de ansiedade.

A depressão deve ser suspeitada na presença de irritabilidade, pessimismo, isolamento social, perda de prazer, déficit cognitivo (memória e raciocínio prejudicados), baixa autoestima e tristeza, diminuição da libido, perda ou aumento do apetite e do peso, insônia, despertar matinal precoce ou aumento do sono, sentimentos de medo e de insegurança. Também são sinais de alerta a interpretação distorcida e negativa da realidade, a dificuldade de concentração, o raciocínio mais lento e o esquecimento além de dores e outros sintomas físicos não justificados por problemas médicos, como dores de barriga, má digestão, azia, diarreia, constipação, tensão na nuca e nos ombros, dor de cabeça ou no corpo, sensação de corpo pesado ou de pressão no peito, entre outros.

Embora existam tratamentos eficazes conhecidos para depressão, menos da metade das pessoas afetadas no mundo (em muitos países, menos de 10%) recebe tais tratamentos. Os obstáculos incluem a falta de recursos, a falta de profissionais treinados e o estigma social associado aos transtornos mentais. Em países de todos os níveis de renda, pessoas com depressão frequentemente não são diagnosticadas corretamente e outras que não têm o transtorno são muitas vezes diagnosticadas de forma inadequada, com intervenções desnecessárias. Antes da pandemia, em torno de 1 bilhão de pessoas já sofria de doenças mentais, e segundo a Organização Mundial de Saúde, menos de 1% do orçamento internacional é dedicado à saúde mental. A atenção à saúde mental das crianças e dos adolescentes nas escolas é essencial para prevenir e diagnosticar precocemente a depressão. Criar um clima de cooperação, de amizade, estimular a empatia e outras habilidades socioemocionais é uma oportunidade valiosa para modificar esse drástico cenário que nos assola.

Como sociedade, devemos buscar prevenir a depressão com estilo de vida saudável, reconhecer precocemente os sinais e sintomas de alerta para diagnóstico precoce da depressão, reduzir o estigma da doença, buscar tratamento especializado, criar ambientes de cooperação no trabalho, na vida familiar e nas escolas para alcançar melhores resultados do tratamento e aumentar o investimento e reforçar as políticas públicas para o cuidado dos pacientes.

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