Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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GERADO EM: 24/12/2024 - 08:56

Suspensão de emendas gera incertezas no câmbio

A decisão de Flávio Dino de suspender R$ 4,2 bi em emendas afeta o câmbio e levanta incertezas sobre ajustes futuros. A luta por transparência nas emendas parlamentares gera conflitos entre os Poderes e impacta o mercado. A falta de clareza nas contas do governo e a instabilidade internacional contribuem para o cenário pessimista.

A decisão do ministro Flávio Dino de suspender a execução de R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão teve efeito no dólar nesta segunda-feira, que fechou a R$ 6,18, e continuará a repercutir tanto na política quanto na economia. No Congresso, porque os parlamentares acham a decisão exagerada. Mas não é. A determinação do ministro Flávio Dino faz parte de um esforço do Supremo Tribunal Federal (STF), como um todo, de fazer cumprir a decisão de 2022, que determinou a inconstitucionalidade do orçamento secreto. O nome mudou, é verdade, mas o fato é que o orçamento secreto está sendo recriado, com o uso de alguns tipos de emendas (veja a coluna). No mercado porque a dúvida é se nesse ambiente de conflito será possível aprovar futuras medidas de ajuste fiscal.

Para entender a decisão de Flavio Dino é importante compreender o atual descumprimento da decisão do STF de dar mais transparência às emendas. Agora o descumprimento ocorreu através do remanejamento de parte das emendas de comissão neste fim do ano, feito pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e os líderes, numa decisão que não passou pelas comissões, que, aliás, estavam com suas atividades suspensas pelo próprio Lira. O rito determina que seja realizada uma reunião e os membros da comissão determinem para onde vão os recursos e identifiquem quem é que indica aquele uso. Para completar, o parlamentar mais poderoso da Casa, o presidente Arthur Lira, levou 40% dos recursos remanejados para a sua terra natal, Alagoas.

A decisão do ministro Flávio Dino reforça que é preciso responder algumas perguntas básicas quando se faz uso de dinheiro público: quem destinou o recurso, para onde, com qual objetivo.

Durante todo este ano, as emendas foram a causa do principal ruído entre os Poderes e 2025 começa no mesmo clima de conflito instalado. Isto porque o Congresso teima em descumprir essa determinação de transparência e rastreabilidade. Os parlamentares fizeram uma nova lei, mas o texto é insuficiente. E aí, de repente, isso que aconteceu, esse último capítulo dessa série interminável que também se refletiu no mercado e o dólar voltou a disparar.

Esse movimento no câmbio tem três motivos: o primeiro é a necessidade de novas medidas de ajuste fiscal e a relação conflituosa entre Executivo, Judiciário e Legislativo não dá nenhuma indicação de que serão aprovadas. Na semana passada, o que se viu foi a redução da economia do pacote no Congresso e por isso, o segundo ponto de dúvida é a falta de concordância com as contas do governo sobre quanto se perdeu do ajuste. O governo fala que as medidas foram desidratadas em R$ 2 bilhões, as contas apresentadas pelo mercado variam de R$ 8 bilhões a R$ 20 bilhões.

O terceiro fator de insegurança que está refletindo no dólar é o governo dos Estados Unidos. A maior economia do mundo vai trocar de presidente, e tudo o que Donald Trump fez até aqui aumentou a incerteza, tanto nas suas falas, quanto nas indicações. Tudo aponta para mais conflitos entre nações e mais inflação.

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