Janaína Figueiredo
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Janaína Figueiredo

Foi correspondente do GLOBO em Buenos Aires e desde 2019 é repórter especial.

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Janaína Figueiredo

Colaborou com a GloboNews, CBN e La Nación. Foi correspondente do GLOBO em Buenos Aires e hoje é repórter especial. Escreveu o livro “Qué pasa, Argentina?”

Por — Buenos Aires

RESUMO

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GERADO EM: 19/12/2024 - 21:19

Presidente argentino enfrenta críticas por intolerância com a imprensa

Javier Milei, presidente da Argentina, enfrenta críticas por sua intolerância com a imprensa, promovendo linchamento digital de jornalistas e influenciando demissões. Apesar do sucesso econômico, sua postura autoritária gera preocupações sobre liberdades no país. A falta de oposição fortalece seu governo, enquanto a imprensa sofre com ataques e desqualificações, levantando debate sobre a liberdade de expressão no país.

O presidente da Argentina, Javier Milei, nunca se destacou por sua tolerância com quem pensa diferente. O chefe de Estado passou de ser um economista desconhecido a uma figura midiática de projeção nacional justamente por sua participação histriônica em programas de TV, nos quais discutia aos gritos com pessoas que discordavam de suas ideias. Hoje, como presidente, essa característica não foi amenizada. Pelo contrário. Milei usa as redes sociais para promover o linchamento digital de jornalistas que o criticam e, em alguns casos, coincidência ou não, acabam demitidos.

Com a economia dando bons resultados e suas alianças internacionais se fortalecendo, sobretudo com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, o argentino vive um momento de grande fortaleza interna e externa. As pesquisas mostram que tem em torno de 50% de apoio popular, apesar de ter implementado o ajuste fiscal mais duro que os argentinos viveram nos últimos 60 anos. A ausência de uma oposição capaz de desafiá-lo o favorece e, em consequência, enfraquece qualquer crítica que surja na arena política e, também, na mídia.

Esta semana, foi demitido da Rádio Rivadavia, uma das mais tradicionais do país, o jornalista veterano Marcelo Longobardi, conhecido por seu perfil crítico, seja perante um governo peronista, kirchnerista, ou, neste caso, Milei. Em declarações a colegas, Longobardi disse ter certeza de que sua saída fez parte de “uma negociação entre a emissora de rádio e o governo”. para ele, “é evidente que minha postura crítica sobre Milei foi um problema… o que deve incomodar Milei é que compartilho seu ponto de vista econômico, mas não suas características autoritárias.”

Nas redes sociais, o presidente já chamou Longobardi de “filho da puta”, empoderando seus seguidores, que também atacam com violência o jornalista, e muitos de seus colegas, nas mesmas redes. “Acho que, do alto de seu sucesso [econômico], como [Nayib] Bukele [presidente de El Salvador] [Milei] pode levar o país a se tornar uma autocracia”, disse Longobardi.

A preocupação com o cerco à imprensa foi expressa recentemente pela Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas (Adepa). Em recente encontro de donos de meios de comunicação do país, o conselho executivo da Adepa indicou mal-estar pelas “graves desqualificações e agressões verbais contra um número considerável de jornalistas e meios” por parte do chefe de Estado, sobretudo através das redes sociais. A preferida de Milei é a rede X (ex-Twitter), do magnata Elon Musk, de quem está cada dia mais próximo.

A Adepa também considerou “graves” as declarações de Milei ao famoso influenciador digital russo-americano Lex Fridman, que apresenta um podcast nos EUA. Na conversa, o presidente argentino acusou os jornalistas de seu país de serem “corruptos” e “torturadores profissionais”. A relação do chefe de Estado com grande parte da imprensa está cada dia mais tensa. Em paralelo, Milei promove influenciadores argentinos e estrangeiros, e só fala com jornalistas alinhados a seu governo.

A economia argentina saiu do buraco, embora a taxa de pobreza tenha subido para acima de 50%. As expectativas para 2025 são positivas. Milei tem chances de vencer as eleições legislativas e ampliar de forma expressiva sua presença no Congresso. O que preocupa, cada dia mais, é sua intolerância, e o risco que ela representa para algumas liberdades no país, entre elas a de expressão.

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