Foi correspondente do GLOBO em Buenos Aires e desde 2019 é repórter especial.
Informações da coluna
Janaína Figueiredo
Colaborou com a GloboNews, CBN e La Nación. Foi correspondente do GLOBO em Buenos Aires e hoje é repórter especial. Escreveu o livro “Qué pasa, Argentina?”
O momento dos emergentes
Países da Ásia, América Latina e África ganharam força e, na presidência brasileira, mostraram uma atuação de combinou firmeza e capacidade de negociação
RESUMO
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GERADO EM: 22/11/2024 - 11:14
Brasil no G20: Diplomacia Firme e Desafios Futuros
Brasil surpreende no G20 com diplomacia firme e conquistas para países emergentes. Desafios futuros incluem resistências e incertezas a partir de 2025, com destaque para a presidência do G20 pela África do Sul e possíveis impactos do retorno de Trump nos EUA. Lula lidera Aliança Global contra Fome e Pobreza, recebendo elogios e assinando acordos com Xi Jinping. A nova era de colaboração enfrenta possíveis obstáculos em um contexto global adverso.
Dias antes da cúpula de líderes do G20, no Rio, um diplomata brasileiro envolvido nas negociações da declaração final manifestou otimismo sobre o texto, mas alertou: "Quero ver governos como os da França, Alemanha e Estados Unidos, entre outros, apoiando temas como taxação dos super-ricos, entre outras iniciativas que a presidência brasileira propôs ao longo do ano". O desafio era grande, e o Brasil tinha plena consciência de seu tamanho.
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Finalizada a cúpula, há consenso sobre o sucesso da presidência brasileira, sobretudo por ter dado continuidade e impulsionado como nunca antes propostas há muitos anos defendidas por países emergentes. O G20 nasceu como um grupo focado em temas econômicos e financeiros, durante a crise de 2008. Por muito tempo, temas como combate à pobreza e à desigualdade, mudanças climáticas, reforma da governança global, bioeconomia e taxação de grandes fortunas estiveram fora da agenda.
A chamada troica das presidências da Indonésia, em 2022, Índia, em 2023, e finalmente do Brasil, este ano, deu uma guinada inédita aos debates e consensos alcançados e plasmados num documento assinado por todos os presidentes e chefes de governo. Os países emergentes da Ásia, América Latina e África ganharam força e, na presidência brasileira, mostraram uma atuação de combinou firmeza e capacidade de negociação, surpreendendo a muitos.
Fontes que participaram das plenárias entre chefes de Estado e governo comentaram, com entusiasmo, a diferença entre os discursos de líderes de países como Malásia e Indonésia na cúpula do Rio, com encontros anteriores. “Os emergentes perderam o medo do G7 (grupo formado por Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido)”. Analistas falam num momento de pós-colonialismo na política internacional. Fontes diplomáticas afirmam que “foi instalada a agenda do desenvolvimento no G20”.
Até aqui, boas notícias. A grande dúvida é o que acontecerá com essas conquistas a partir de 2025, quando a África do Sul terá a presidência do G20, e terá de lidar com Donald Trump no poder nos EUA. A nova agenda do G20 enfrentará resistências e, na visão de diplomatas como o embaixador Marcos Caramuru, outros grupos poderão, em consequência, ser empoderados, sobretudo o Brics (formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e ampliado este ano com “parceiros de diálogo” entre eles Irã e Bolívia) e, individualmente, a China. Em 2025, o Brasil terá a presidência do Brics e sediará a COP 30, a cúpula do clima da ONU. O papel do país continuará sendo muito relevante, dada a projeção internacional do presidente Lula, confirmada no encontro no Rio. Com exceção do argentino Javier Milei, os demais líderes parabenizaram o presidente brasileiro e sua diplomacia por um trabalho amplamente bem-sucedido, num contexto global profundamente adverso.
Lula teve mais de dez reuniões bilaterais e após a cúpula, recebeu em visita de Estado em Brasília o presidente chinês, Xi Jinping, com quem assinou 37 acordos.
Os diplomatas mais eufóricos falam em “nova era”, mas todos, sem exceção, admitem que o retorno de Trump à Casa Branca poderá abrir novas e complexas frentes de conflito.
Os emergentes têm muito a comemorar, mas, também, pouco tempo para se preparar para um período que poderia levar a retrocessos. Os dias de sol e consenso no Rio poderão deixar saudades.